Ret
Formei meu império. Na favela tu aprende tudo cedo. Eu aprendi pra caralho, tanto que eu subi. Pra me tirar daqui tem que ser melhor que eu, e essa pessoa não existe.
Derrubo quem for, mas não aceito cair. Sou conhecido como rei, não é atoa isso. Invicto no game. Todos que tentaram derrubar não existem mais pra contar a história. Aqui é assim, ou tu é águia, ou tu é papagaio.
Meus inimigos são meus troféus, guardo todos embaixo da terra.
Mas isso é dá porta da rua pra fora. Dentro de casa eu tenho que ser exemplo pro meu bem mais precioso, minha filha. Minha prioridade intocável. Vagabundo que mexer cai na bala, sem simpatia. Na minha vida ela vem em primeiro lugar, depois o tráfico.
Mato e morro pelo bonde. Assim nasci e fui criado, morrer é só consequência. Mas eu to bem longe do fim.
Terminei meu banho, vesti as peças da Nike, coloquei o maciço no pescoço, passei o Armani e desci. Joguei meu fuzil nas costas e fui esperar a madame do lado de fora.
Ret: atividade em caralho, quero ninguém de conversinha nessa porra não - Falei com os vapor que faz a segurança.
Zé: po chefe, tava só marolando
Ret: vai marolar em casa filho da puta, aqui é atividade
Zé: foi malFiquei ali encostado na moto, só observando meu império. Porque no final, é tudo que importa. Tráfico e luxúria.
Maria: boa noite Zé, boa noite NT
Zé e NT: boa noite
Maria: como vocês estão?Quando eles pensaram em responder, eu já fui cortando.
Ret: que isso ai? quero vocês de papo com filha minha não
Maria: pai, isso se chama educação, acho que você tá precisando utilizar um pouco
Ret: vamo logo
Maria: okNos aproximamos da moto e ela já me olhou torto. Cheia de mania essa criatura.
Maria: podemos ir de carro?
Ret: vamo de moto, sentir o vento bater no rosto
Maria: mas pai, o senhor sabe que eu não gosto
Ret: passa a gostarMontei na moto e ajudei ela a subir. Liguei a ignição e parti pra hamburgueria, sei que ela se amarra nessas comida cheia de óleo.
Pegamos uma mesa e nos sentamos.
Atendente: boa noite Ret, o que você vai querer hoje? - Esfregou o decote na minha cara.
Ret: tá vendo minha filha não? pergunta pra ela caralhoA mina já se fechou toda. Querendo render pra bandido na frente da filha po, respeito existe caralho.
Atendente: o que a mocinha vai querer?
Maria: como eu vou saber se você não me trouxe o cardápio? - Dei risada disfarçadamente.
Atendente: um minuto - Falou saindo.
Ret: puxou ao pai
Maria: por que elas são assim? todas querem o status de namorar um bandidoOdeio quando ela fala esses bagulho, me desmerecendo pra caralho. Sei que não presto, sou erradão pra caralho, mas eu tento dar tudo do melhor pra ela.
Fiquei caladão, ela fez o pedido e eu fiz o meu. Demorou mo cota e chegou os bagulho gorduroso.
Ret: já sabe o que vai fazer no seu aniversário?
Maria: tem alguma ideia?
Ret: bailão, mas como tu não gosta... - Ela murmurou um "hum" - fala aí, sei que já tá com tudo planejadoEla abriu mo sorrisão e eu já fui me preparando, minha conta bancária sofrerá um abalo.
Maria: eu pensei em um baile, tema realeza sabe? todo mundo caracterizado com aquelas roupas incríveis
Ret: aonde isso?
Maria: a gente poderia fechar com alguma casa de festa, assim já teríamos buffet e organização
Ret: pode fechar tudo com sua tia, tá marcado o bagulho
Maria: sério?
Ret: claro poMaria levantou da mesa e me deu um abraço, os olhos da cria tavam brilhando. Se tem algo que me deixa feliz, é ver ela feliz. Esse sorriso vale qualquer risco.
Terminamos de comer conversando sobre a festa, no caso, ela falando e eu só concordando. A cada 5 minutos de planejamento eu já sentia menos 10 mil no bolso.
Paguei nossos lanches e saímos da lanchonete. Ela montou na moto e só paramos na frente de casa.
Maria: você não vai entrar?
Ret: tenho que resolver uns bagulho pendente
Maria: sei
Ret: boa noite pra tu, qualquer coisa me aciona
Maria: cuidado
Ret: te amo princesa
Maria: também te amo muito pai - Me abraçou e eu beijei sua testa.Esperei ela entrar em casa e parti a mil pra pista.
Cheguei no prédio, o porteiro já me liberou por me conhecer. Fui até a escada, tava afim de esperar por elevador não.
Subi até o quinto andar tranquilão. Quando cheguei no apartamento já meti a mão na chave que eu tinha e abri a porta.
Tava tudo escuro, apenas algumas velas ligadas em cima da mesa, que tava toda arrumada com um jantar lindão.
Ana: pensei que você não vinha
Ret: que isso doutora? achou que ia te deixar na mão?
Ana: não sei amor - Se aproximou e me deu um beijo.Tava até com saudades da minha gata.
Po, conheço a Ana há um ano e meio. Ela é advogada, uma das melhores. Tava defendendo um parceiro meu e conseguiu livrar ele. Na festa de comemoração eu fui, ela tava lá toda gostosa, nem rendeu pros mano, tive que investir.
Quem disse que ela cedeu? Demorou pra caralho, quase dois meses de conversinha. Até que um dia rolou, como sempre, foi aulas.
Ficamos por um ano, eu, ela e as outras. Mas eu sabia que essa mulher veio pra mudar minha vida. Só não me permitia pelo que rolou com a Lorena. Vagabunda foi embora e me deixou, abandonou a própria filha. Fugiu com meu dinheiro.
Desde então foi só pau nas que rende pra nós, até que a Ana chegou. Tem três meses que resolvemos sossegar. To com ela e ela comigo, na encolha. Esperando o dia certo pra conversar com a Maria, mas parece que esse dia não existe.
Ana: por que demorou?
Ret: saí com a Maria
Ana: ela tá bem?
Ret: de boa
Ana: quando eu vou a conhecer?
Ret: calma po, não passou da hora ainda
Ana: porque esse medo todo amor?
Ret: po minha gata, tu acha que eu não te quero na favela? mas a Maria é mo complicada, tem o lance da mãe dela, acho que ela não vai me aceitar com outra pessoa tão fácil - Assentiu meio triste.
Ana: você me acha ruim?
Ret: tu é foda pra caralho, a Maria vai te amar mulher, deixa disso - Assentiu. - agora vem cá dar um beijo nesse vagabundo
Ana: ex vagabundo - Sorriu e me beijou.______________________
Ana Macedo, 27 anos.
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Filha do Tráfico
Fiksi PenggemarO preço que se paga pela coroa é alto, mas o poder que ela te dá é precioso, qualquer um pagaria. Isso é quando se vive numa realeza imperial, não se aplica quando vivemos nesse império do tráfico, onde a maldade e arrogância corrompem as coisas boa...