Capítulo 56

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Maria Clara

Sei que prometi não mais pensar nessa história, ou sequer cogitar fazer qualquer coisa. Mas é difícil viver com um ponto de interrogação sobre a sua própria vida, sua história.

Acho que meu pai não quer fazer o teste por medo. Medo de ver novamente aquele resultado que diz não compartilharmos o mesmo sangue.

E eu não o julgo. Imagina dar uma vida e amor pra uma pessoa e no final descobrir que ela não é nada do que pensava. Imagina você criar uma filha e depois de 17 amos descobrir que ela não é sua?

Eu não sei o que pensar ou como agir. Mas infelizmente não vou cumprir com a minha promessa. Preciso saber a verdade, é a história da minha vida.

Vou deixar a poeira baixar, e depois irei atrás disso.

Terminei de vestir meu macacão da farm, calcei uma rasteirinha branca e passei meu perfume. Peguei meu celular em cima da cama e vi a mensagem do Gringo avisando que já havia chegado.

Desci as escadas passando os dedos pelo cabelo pra desfazer alguns nós. Meu pai estava deitado no sofá mexendo no celular e assim que me viu direcionou sua atenção a mim.

Ret: onde tu vai?
Maria: almoçar no Gringo, a mãe dele me convidou
Ret: com o aval de quem?
Maria: o seu né paizinho - Beijei seu rosto.
Ret: falsa pra caralho em, quero tu em em casa logo
Maria: beijo
Ret: senão eu vou te buscar pelo cabelo

Dei risada e saí de casa, os meninos estavam ali fazendo a segurança de sempre e eu os cumprimentei.

Zé: desvalorizando a gente mermo princesa
Maria: vocês são valorizados por mim cara

Zé me puxou pra um abraço e eu retribui meio desconfortável. Ouvi uma batida de porta de carro e me soltei. Virei encarando o Gringo que estava de braços cruzados com a cara mais fechada que o normal.

Gringo: ficou sabendo da nova não Zé? - Ele negou com a cabeça. - tira a mão da minha mulher parceiro

Zé se afastou de mim imediatamente e me encarou confuso. Eu tava querendo rir de nervoso pelo constrangimento.

Zé: po mano, maior respeito, não sabia papo reto
Gringo: mas agora tu sabe
Zé: tranquilo
Gringo: bora - Gesticulou pra mim.

Acompanhei ele, dei a volta e entrei no carro. Encarei o branquelo do meu lado e dei risada.

Maria: sua mulher é?
Gringo: não força - Sorriu.
Maria: falo mais nada

Ele ligou o carro e dirigiu em direção a sua casa. Passamos pela pracinha que estava cheia de gente, abriram um carro com som lá e virou festa. O funk alto estava percorrendo meus ouvidos.

Gringo: ta de boa?
Maria: to sim
Gringo: não vai aprontar nada?
Maria: que juízo você faz de mim
Gringo: fala sério perigosa, mo chave de cadeia

Gringo estacionou o carro na frente de casa. Eu desci e esperei ele abrir a porta. Nós entramos juntos e logo a mãe dele veio na nossa direção, nos abraçando.

Lica: quer dizer que temos um casal assumido por aqui
Maria: parece que sim - Sorri.
Gringo: tá deixando a menina com vergonha
Lica: para de ser chato Davi
Maria: é Davi, para de ser chato - Dei risada. - a senhora precisa de ajuda na cozinha?
Lica: já fiz quase tudo, só estou terminando de rechear o macarrão
Maria: posso ajudar?
Lica: claro
Gringo: e eu?
Lica: vai arrumar o brega que você chama de quarto

Filha do TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora