1º 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜

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BADÁ

Depois que eu entrei para vida do crime, a minha vida mudou, perdi meu pai cedo, eu tinha quase 11 anos, logo em seguida a minha mãe que era completamente apaixonada pelo meu pai, se foi e se jogou no mundão á fora me deixando aqui. Acontece que eu nem sabia se iria viver ou não, mas eu sobrevivi dentro dessa selva e hoje sou eu quem comanda todo o Morro da Rocinha.

Eu entrei para a vida loka com 14 anos, fiquei com o lugar que era do meu pai, André... na verdade, faz 10 anos que entrei para o crime e faz 6 anos que estou de linha de frente. Me empenhei muito para chegar onde eu cheguei... Para uns o crime não compensa, para outros é o que motiva, eu sonhava em ter várias coisas, carros, muito dinheiro e ser chamado de patrão. Qual é? Prefere viver pouco como rei ou muito como um zé?! Mas com o tempo os sonhos mudam não é mesmo?! Agora, eu só queria manter a paz, a segurança no morro longe de pacificação e invasão. Quem vive no morro sabe que não está seguro, quando não é invasão, é pacificação ou operação só para aumentar o número de mortalidade na comunidade. Quem vive aqui, sabe como é o dia a dia de luta, de ter que ser tachado de favelado só por morar numa comunidade, ver as oportunidades cada vez mais distante e em ter que escolher ter uma vida melhor ou viver como um zé a vida toda. Eu queria o melhor, eu queria ser como meu pai e ter uma vida de rei. Mas diferente dele nunca pensei em me casar, nem namorar, só pegava mesmo, jogava uma moeda e saía fora. O amor é para gente fraca, vulnerável, quem ama tem um ponto fraco e isso na mão de inimigo faz estrago. Conquistei muitos inimigos e claro tenho uma coleção de putas. Mas não pego todas, gosto de selecionar a dedo e nunca achei alguém que realmente chamasse a minha atenção até um certo dia.

BADÁ NARRANDO

Já estava na boca, o dia começou movimentado e já estava o maior falatório na minha cabeça não era nem 7h da manhã. O motivo? Os moradores reclamando dos lixos e da sujeira que ficou na rua depois do último baile.

Dona Maria: Não dá meu filho, a gente pede e a molecada finge que não está nos vendo ali.

Dona Cecília: Sem contar que joga os restos das drogas tudo nas nossas áreas ou até mesmo na porta.

Dona Cecília: Realmente não dá. Não aguento mais levantar cedo e pisar em caco de vidro de lança-perfume.

Badá: Olha só tia, posso fazer desse jeito, vou dá uma supervisionada nessa situação e vou dar um jeito de resolver tudo. Mas papo retão não tem como acabar da noite para o dia.

Dona Maria: Vê se resolve mesmo, porque....

Badá: Dona Maria, a senhora me conhece desde pequeno e vivia fazendo fofoca sobre mim para a minha mãe.

Badá: Naquela época eu era pivete, agora meu poder e vontades são outros. Já disse que vou resolver e dessa vez vou deixar passar batido a forma que a senhora falou comigo.

Badá: Podem ir.

Elas saíram, eu continuei ali olhando folha por folha. Eram pedidos de moradia na quebrada, aqui não é bagunça e também não entra qualquer um. Aqui a ficha de todo mundo é vista para garantir que não teremos problemas. Acendi um baseado, na mesma hora o meu rádio bipa e um vapor me chama.

RÁDIO ON

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XxXx: Patrão?

Badá: Fala aí Mello, qual foi?

Mello: O nóia da rua 13, tá aqui querendo falar contigo.

Badá: Manda vir aqui no barraco, tô aqui.

Mello: Jaé.

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RÁDIO OFF

O Muralha entrou na sala e ouviu uma parte da chamada.

Muralha: Tão tenho uma cena desse comédia ai

Badá: Que cena?

Muralha: Tá sabendo que esse cara aí é casado com a Fabiana né?!

Badá: Sow, sei sim. Que que tem?! Já manda busca ela se ele não tiver com meu dinheiro.

Muralha: Eles tem uma filha, um tempo atrás o Luizinho viu ele aqui e disse que ele bate bastante nela.

Badá: E daí? Ele é o pai, a única coisa que me interessa é a grana.

Muralha: Tu não tem coração mesmo, né parceiro?

Badá: Tu sabe que aqui é o crime né não?! Então.

Badá: Não tenho tempo de me sensibilizar com as histórias do pessoal daqui.

Não demorou muito, o noia encostou lá na boca, mandaram ele entrar, ele foi até a minha sala onde eu estava com o Muralha.

XxXx: Salve Badá.

Badá: Salve é o caralho, trouxe minha grana?

Cristian: Não.

Nisso, os meninos foram para cima dele, o fizeram se sentar na cadeira, eu me sentei na mesa e acendi um cigarro ao mesmo tempo que o encarava.

Badá: Mandar buscar mulher e a filha dele.

Cristian: Calma, calma.

Cristian: Me escute, por favor.

Depois de ouvir muitas súplicas dele...

Badá: Qual é do bagulho?

Cristian: Pode ser só nós dois?

Badá: Ih, qual foi? Quer me dar?!

Badá: Fala logo porra!

Me sentei na minha cadeira segurando o meu copo.

Cristian: Eu não tenho dinheiro aqui, mas eu quero negociar outra coisa.

Badá: Eu tenho cara de loja de penhor?!

Badá: São 6 barão.

Cristian: Bom, a Fabiana tem uma filha, muito bonita, novinha e não queremos mais ela morando em casa. Ela pode trabalhar para você da forma que você desejar...

Badá: Tu acha que, eu vou comprar uma garota?!

Eu dei risada quando ouvi isso.

Badá: To doidinho para meter uma bala bem no meio da tua cabeça, seu arrombado.

Badá: Olha a proposta desse cara.

Cristian: Ela é muito bonita mesmo, pensa sobre isso e a gente pode resolver de um jeito bom para nós dois.

Eu mantive o meu olhar no Cristian a todo momento,  

 Badá: Aí noiado, tá achando que ta num playground?!

Badá: Me tirando para burguês no bagulho, tá maluco parceiro.

Ele saiu, passei o resto do dia ali resolvendo as pendências, depois fui para casa, tomei um banho, comi alguma coisa e depois fui na casa da Gabi uma louca aí que vivia me mandando mensagem me chamando para transar. Mas eu queria só uma mamada mesmo, na verdade eu queria era só me divertir, curtir, transar e aproveitar a vida. Nem lembro mais como é beijar na boca, já que não beijo nenhuma delas, o bagulho é só sexo mesmo e putaria. Não tenho tempo, muito menos vontade de ficar sério com alguém, não quero formar família, não tenho vontade de ficar preso a alguém, muito menos de dar satisfação e esse lance de amar alguém te torna vulnerável. Por isso que eu tinha um dilema, famoso entre nós e que deveria ser levado a sério por muitos. "Pega e não se apega", é a melhor maneira de curtir a vida, sem estresse, sem decepção e o melhor é que eu escolho quem eu quero.

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