46º𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜

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BADÁ NARRANDO

Estava no saguão quando percebi uma movimentação diferente, senti um calafrio e minha boca secou. Uma sensação ruim tomou conta de mim, olhei para os lados como se estivesse esperando algo acontecer... até que ouvi uma voz desconhecida.

XXXX: Mão na cabeça malandro, perdeu!

Olhei para trás, meu coração foi a milhão ao ver que estava rodeado de cu azul, com as armas apontadas para mim, levantei as mãos e pus atrás da cabeça.

Steve 1: Uma hora todo malandro bom cai, né chefia?

Badá: Não sei do que você está falando.

Steve 1: Não sabe?

Ele riu.

Steve 2: Um anos apenas investigando o dono da Rocinha, sabemos muito bem quem você é, Badá ou melhor, Felipe... né?

Steve 1: O erro de todo marginal é achar que vai viver a vida de rei pra sempre...

Eles me revistaram em seguida, desci as mãos e fui algemado. Todo mundo dentro do hospital apenas olhava a movimentação e dava pra ver geral conversando entre si. Mas na hora eu só consegui pensar em como a Luíza reagiria... mano, a minha filha tá a caminho e minha mulher tá sozinha aqui. Como vou deixar ela aqui? Como deixar minha filha e ir?

Steve 1: Bora vagabundo, tá preso um conselho que eu te dou. Procura um bom advogado, de preferência um que não esteja de resguarda.

Steve2: E reza pra gostosa não ser presa igual você.

Eles riram e saíram me puxando. Me fazendo caminhar com eles enquanto era escoltado por uns seis policias. O tempo todo era alguma pergunta, era uma gracinha diferente, eles são desacreditado e não sabe a besteira que estão fazendo ao me impedir de conhecer a minha filha e estar com a minha mulher. Não sou vingativo mas isso terá volta ou não me chamo Felipe. Me colocaram no porta-malas, preso, me mantive calado e a com a mente a milhão. O que eu poderia fazer? Já era, a casa tinha caído e a minha capivara era gigante. O tanto que esses cara falaram dentro daquele carro, era incrível, era como se alguém repasse todas as informações da minha vida para eles e a forma que eles afirmavam o que diziam só confirmava a tese de existir um traidor entre nós. Passou um tempo depois, percebi que estávamos fazendo um caminho diferente, quando questionei, recebi um "fica caladinho" e então eu ignorei os dois. Toda a situação estava muito estranha, se eles saibam que eu era o dono da Rocinha, cheio de aliados e me encontraram justo num momento em que eu estava sozinho?  Poucos policiais e dois camburões? Tem alguma coisa muito errada, mas deixa estar... se eles querem brincar, nós vamos brincar... só não pode esquecer que eu sou malandro e que o meu conhecimento da rua é mais eficaz.

O carro parou, eles desceram, um veio me tirar do carro e o outro já foi entrando numa espécie de galpão. Estava abandonado, as portas eram de madeirite improvisadas e estavam quebradas. O que me conduzia, me ignorou no começou quando fiz algumas perguntas, então, decidi agir da melhor maneira e reverter a situação ao meu favor.

Badá: Te pagaram quanto?

Stive2: Quem te deu ordem pra falar, vagabundo?

Badá: Eu posso dobrar o valor.

Stive2: Sou uma pessoa de princípios, não me vendo fácil.

Badá: Se fosse, tu não tinha me trazido pra cá, Zé.

Badá: Aproveita, porque se vocês realmente quiserem arrumar ideia pro meu lado, é bom sair do mapa e levar a família toda.

Ele parou e me peitou. Olhou dentro do meu olho e manteve a postura.

Stive2: Não é uma boa ideia ameaçar quando você não conhece com quem você está falando. Você é grande dentro da sua favela, fora dela, é um fraco que precisa dos outros para manter você vivo. Ninguém sabe que estamos aqui, pra mim te levar de arrasta pra cima é dois toque, então segura tua onda.

Eu dei risada.

Badá: Você é o tipo de homem que não coloca medo em ninguém, acha que usar uma farda te torna um homem de ferro?

Eu ri novamente.

Badá: Eu acho que não.

Nisso, entramos no galpão, tudo escuro, mas dava para ver, restos de madeira, uns paletes, uns resto de metal, muita sujeira e mato. Ouvi barulho de carro se aproximando, fazia um barulho alto, me sentaram no chão com um empurrão, nisso os carros entraram dentro do galpão, eram três blazers pretas, com vidro fechado na película g5, não demorou muito para descer uns cara, de longe não reconheci... até que aos poucos eles foram se aproximando e sabe quem era? Na hora meu coração parou, tentei respirar fundo mas... me sentia como se alguém estivesse roubando todo o meu ar. Caralho, como assim?!

Morte: Que foi meu chegado? Achou que ia fazer um dos meus rodear e ia ficar por isso mesmo?

Morte: Jamais...

Morte: Ainda mais, quando tentam contra a minha família.

Morte: Certo ou errado, tu levou meu filho de arrasta pra cima, agora é a sua vez.

Badá: Teu filho?  Teu afilhado né, aquele safado, rato, a morte foi pouco, queria ter machucado ele mais, não deu certo, ele não aguentou...

Morte: Agora, vamos ver se você aguenta!

Morte: Vai ser na mesma moeda e no final, sabe quem vai acabar sofrendo também? A sua mulherzinha, que vai ficar sem o bandidão e será mãe solteira. Só que disso ela já sabia né? Ela sabia que tu era um homem morto no momento que tu achou que podia matar o Matheus e passar batido.

Badá: Pra ele ser teu filho, no mínimo tu traiu a sua senhora, Raiane, ôpa! Não era você que era homem de uma mulher só?! Ela sabe? 

Eu dei risada.

Badá: Entendi porque ele era traíra, teve a quem puxar.

Badá: Tu é safado demais.

Badá: Paga de disciplina e anda dos dois lados? Que bandido é você que não preza nem pelos irmãos, como tu ousa dizer que é do crime e anda com esses cara, mermão? Que papo é esse?  Aliás, são muitos papos tortos né? Imagina, teus irmãos saberem disso tudo e o mais engraçado que você é o chefão, que merda em!

Ele deu risada.

Morte: Negócios. Você precisa aprender a fazer os seus, qual é Badá... O mundo não é esse conto de fadas que você imagina e o crime é só pra quem tem intensidade de viver no limite. O limite é imposto apenas por você mesmo. 

Badá: O que é limite pra você? Compactua com o inimigo? Aposto que muita coisa caiu por culpa sua. Querer comprar tudo e todos. Viver de qualquer maneira, principalmente gosta de viver como um rato. 

Só lembro de terminar de falar isso, acordei horas depois, com fortes dores de cabeças, alguns flash backs passavam em minha mente e eu só conseguia pensar na minha mulher...



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