No Limiar do Desejo

Capítulo 57

— Amor, está tudo bem? - Alfonso abraçou Anahi por trás. Ela aninhou-se em seu peito. Estavam deitados na cama de Alfonso, em silêncio.

  Anahi respirou fundo e se aconchegou mais em Alfonso. Sentia-se segura com ele.

— O seu pai me odeia, Poncho. Sabe o que isso significa? - silêncio - As coisas vão ficar difíceis, Herrera. Vai ficar difícil... - suspirou sentindo os olhos pesados. Alfonso apertou-a ainda mais contra si.

— Isso é ridículo, Anahi - Alfonso bufou - Quem está com você sou eu. Eu sou um homem independente e você também. Nós somos adultos, sabemos o que estamos fazendo. Não fica remoendo isso. Alfred só está chateado por causa da situação com a Dakota.

  Anahi se virou para ele, encarando-o com os olhos úmidos.

— Seja sincero, amor - respirou fundo - Eu tive culpa em alguma coisa? Você acha que as pessoas vão pensar que eu só estou com você por causa do seu cargo?

  Alfonso praguejou baixinho e distribuiu beijos castos por todo o rosto de Anahi.

— Para de besteira, amor. Dakota já te falou e eu preciso reforçar: Alfred é um cara difícil de lidar. É impulsivo. Você ajudou a Dakota, Any. Ela ia se casar sem amor, ia fazer um curso que odeia antes de ir para alguma filial Herrera. Dak te escuta, te admira e eu te amo absurdamente por você ter feito com que ela tivesse coragem. Assim como você.

  Ele traçou o contorno de seu rosto com os dedos, fazendo-a inclinar contra o toque. Tão gentil.

— E você, Srta. Portilla - continuou - Você chegou longe por ter batalhado para isso. Começou como qualquer outro funcionário, mas você deu duro e conquistou o cargo que ocupa agora. As pessoas te respeitam, amor. E foda-se o que eles pensam. Não surta, por favor. Eu não tenho mais condições de convencer você a ficar comigo. Por favor. Por favor! Somos adultos, Any, não precisa ter medo. Eu. Estou. Com. Você. Entendeu?

  Anahi fungou e assentiu sutilmente com a cabeça. Tinha um bolo preso em sua garganta. Por que ele estava com ela? Desde que eles começaram a se envolver ela sempre dava um jeito de escapar, mas ele ficava ali. Todo o tempo. Sem recuar.

  Sentiu os olhos lacrimejarem e respirou fundo, mas acabou não aguentando e lágrimas rolaram por seu rosto. Como se soubesse que ela precisava daquilo, Alfonso enxugou pacientemente suas lágrimas e por fim a abraçou. Depois de um tempo, quando Anahi achou que ele já estava dormindo, Alfonso pigarreou e enrijeceu o corpo.

— Anahi... Eu imagino... Bem... Eu imagino que você não tenha falado com o Tom, certo?

  Foi a vez de Anahi enrijecer o corpo e enfiar o rosto no peito nu de Alfonso. Negou com a cabeça, sabendo que aquele era um assunto que não poderiam deixar de lado. Tom esperava uma resposta, certo? Ele disse que esperava uma resposta.

— Amor, você precisa conversar com ele. Colocar um ponto final na história de vocês. Eu não quero um cara achando que ainda pode ter direitos sobre você, ou aparecendo no seu escritório. Não quero. Estou me fodendo se ele foi seu noivo, eu não quero esse cara aparecendo na empresa, nem em redes sociais, ou te ligando, mandando mensagens, qualquer porra que ele possa querer, entende?

  Anahi se soltou e fez uma careta para ele. Que diabos ele estava falando?

— O Tom não vai aparecer - suspirou - Não podemos só... Esquecer?

  Alfonso suspirou e sentou na cama, esfregando os olhos. Parecia exausto.

— Ele merece, Anahi. O cara está cheio de expectativas. Eu não quero ter uma história com você sendo que tem outro esperando uma resposta sua. Seja razoável.

— Mas ele não está esperando, amor. - Anahi protestou, sentando, acariciando os braços de Alfonso.

  Alfonso soltou uma risada sem humor.

— Ele não veio aqui para visitar a Maite, Anahi. Pensa. Eu estou tentando levar numa boa um monte de coisas, mas esse cara tem que saber que o tempo dele passou e que agora você está comigo.

— Alfonso...

— Anahi, por favor! - rosnou - Eu vi as mensagens que ele te manda, tá bem? Quando a sua mãe ligou, eu acabei vendo as mensagens sem querer. Ele tinha acabado de mandar uma falando que sente a sua falta, cara. O que você faria se visse uma mensagem de alguma mulher falando que está com saudades? E ainda mais se eu tivesse uma história com ela?

  Anahi hesitou. Droga, ele tinha razão. Então por que ela queria chorar? Respirou fundo e engoliu o nó da garganta. Já havia chorado instantes antes, não adiantaria ser fraca agora. Esfregou a testa, sabendo que precisava mesmo conversar com Tom. O silêncio que se seguiu foi constrangedor e Alfonso provavelmente entendeu errado, pois só balançou a cabeça e deitou de costas para ela, apagando o abajur do seu lado.

— Amor? - ela sussurrou.

— Vai dormir, Anahi.