Anahi e Alfonso se sentaram no fim do cais e a loira colocou os pés na água. Quente, assim como no dia anterior. Sorriu com as lembranças e se repreendeu por ter pensamentos pecaminosos quando entraria num ponto decisivo com Alfonso.
Ficaram em silêncio por muito tempo. Apenas observando o céu e ouvindo a brisa do mar.
— Você deve saber que eu já fui noivo - ele murmurou num fio de voz. Anahi concordou com a cabeça, prendendo a respiração. Teve medo de um único movimento brusco fazê-lo perder a coragem. Segurou a mão dele para encorajá-lo - Eu cheguei a me casar, Anahi. Eu era jovem e inconsequente - riu sem humor - Ela engravidou, então nós nos casamos. Meu pai ficou puto, então deixamos os meus irmãos fora desse assunto. Não mencione isso com Dakota. Ela sabe do filho, mas não sabe do casamento. - Anahi concordou com a cabeça novamente.
Droga, estavam entrando num assunto delicado. Anahi não sabia se queria ouvir aquela história. O fato de outra mulher ter feito parte da vida de Alfonso e o machucado fazia com que um ódio inexplicável brotasse em seu peito.
— Elizabeth é finlandesa - suspirou - Nos divorciamos antes mesmo do pequeno Liam nascer. A gente não deu certo - sorriu com tristeza - Ela foi morar com os pais, mas vinha trazer o meu filho às vezes, ou eu ia para o país dela. Numa das viagens em que ela estava vindo, o jato teve um problema e caiu. Elizabeth ficou em coma por um semestre quase inteiro, mas sobreviveu e hoje está bem. - Anahi já imaginou o final e se chutou internamente por ter entrado num assunto tão delicado.
Alfonso tirou uma imagem do bolso e entregou à Anahi.
O garoto era lindo. Tinha os olhos e cabelos idênticos aos de Mariah. Ou Elizabeth, Anahi não sabia, já que nunca a tinha visto.
— Ele tinha cinco anos, Anahi - seus olhos brilhavam com a umidade - Ele ia vir passar uma temporada comigo na Alemanha. Aquele dia na minha casa que meu telefone tocou, era a Elizabeth. A mesma me liga todos os anos próximo a data da queda do avião para eu poder ir a missa. É um dos piores momentos da minha vida.
Anahi sentia sua enorme tristeza, além da respiração forçada. Sua mão tocou a fotografia com carinho e saudade e finalmente explodiu em choro. Derramava lágrimas que a destruíam. Não suportava vê-lo tão despedaçado, carregando uma dor tão grande. Sua única vontade era confortá-lo. Abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem, mas não conseguia se mover e então sentiu lágrimas em seu rosto, e percebeu que estava chorando também.
Ficaram assim, somente compartilhando aquele momento por muito tempo.
Quando seus soluços diminuíram e a respiração foi normalizando, Anahi se sentiu um pouco mais leve. Alfonso pegou a mão dela e a pressionou em seus lábios, fechando os olhos. Era a única maneira de assegurá-lo, naquele momento, que estava ali por ele. Aquela imagem nunca teria passado pela cabeça dela. Alfonso Herrera, CEO, tão frágil e destruído.
— Ele era lindo! A criança mais bonita que já conheci - falava como se pudesse sentir e rever as imagens da sua vida ao lado do filho - Gostava de correr pela casa. Era uma loucura - riu um pouco - Quando eu chegava... - o sorriso morreu - Ele parecia conhecer o barulho do meu carro. Corria em direção à porta e ficava me esperando. Quando eu entrava, ele se atirava em minhas pernas e pedia para voar. Sempre fazia isso quando queria que eu o carregasse por cima dos ombros para fingir que ele estava voando. Adorava ouvir seu riso quando brincávamos. Todos os dias me esforço muito para não me esquecer de nada. Não posso jamais esquecer do seu riso, nem da sua voz de anjo chamando “papai”. Eu tenho medo Anahi, medo de esquecer do meu filho, da sua face, da sua gargalhada e dos barulhinhos que ele fazia enquanto comia... - nova pausa para as lágrimas.
Foi o suficiente para Anahi. Ela aproximou os lábios nos dele e o beijou suavemente, mostrando que aquilo não a afastaria. Para que se afastar? Estava cansada de lutar contra ele. Queria paz. E queria ser a paz dele. Ele pareceu surpreso com o gesto e a olhou com estranheza em seguida.
— Está tudo bem?
— Sim. - ela sorriu.
— Você... Você vai ficar comigo? - perguntou receoso - Achei que não ficaria comigo por eu ter um filho.
Ela sorriu e acariciou o rosto dele, admirando cada detalhe de sua face. Ele se inclinou contra a mão dela e fechou os olhos.
— Nada vai mudar entre a gente, a não ser que você queira. Não tenho motivos para ficar longe de você. Se você ainda me quiser, Alfonso, eu estou aqui. Eu sou sua. E se quiser eu vou com você para a missa, estarei lá por ti e para ti.
O sorriso que Alfonso abriu teria sido o suficiente para Anahi ter a resposta, mas então ele lhe deu um beijo profundo, sanando todas as dúvidas que ela ainda podia ter.
E ela não tinha.
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No Limiar do Desejo
RomanceDepois de ter sido abandonada no altar, Anahi vive para o trabalho. Ao se tornar vice-presidente do prédio Herrera&Smith Enterprises, se vê amiga de toda a família Herrera, exceto o novo CEO e recém chegado no país, Alfonso Herrera. O homem a desarm...