Capítulo 42

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  Anahi tomou um banho rápido, deixando para curtir a banheira em outro momento. Colocou um vestido azul longo e de costas nuas, as alças se encontravam ao meio das costas em uma trança, além de possuir um decote em V. Ao olhar no espelho se sentiu uma peça da casa. Tudo azul e branco. Seus cabelos estavam lisos e soltos, como sempre e usava apenas um rímel como item de maquiagem.

  Começou a caminhar pela casa observando cada detalhe azul e branco que havia nela. Com certeza em menos de duas horas não conseguiria mais aguentar estas cores e quando dormisse teria pesadelo onde existiria apenas um mundo azul e branco. Por que ela estava tão irritada?

  Encontrou Alfonso na varanda, observando a vista. Usava uma camisa de linho azul e calça jeans. Não estava casual, mas também não estava vestido para uma reunião. E aquela cor... Parecia brincadeira.

— Senhorita Portilla - Christian a chamou, fazendo-a dar um salto, virando para onde ele estava - Está tudo bem? - perguntou com a testa enrugada.

— Tudo. O que houve, Christian? - Anahi alisou o vestido, tensa.

— A Dulce pediu para falar que vai ficar no quarto dormindo um pouco e como só teremos reuniões a noite, decidi andar um pouco pela cidade.

— Mas aqui é isolado.

— O senhor Herrera me mostrou uma trilha que dá acesso a Atenas - sorriu - Como meus avós são gregos, conheço a Grécia perfeitamente.

— Por favor, esteja aqui no almoço, senhor Chávez. - Alfonso falou atrás dela. Muito perto. Anahi sentiu o corpo arrepiar e ela tinha certeza que ele sabia disso.

— Sim, senhor. - sorriu educadamente e saiu.

  Anahi permaneceu imóvel, com medo das pernas cederem se ela fizesse um movimento brusco.

— Está tudo bem, Anahi? - Alfonso perguntou com a voz divertida. Ainda muito perto. Ele percorreu sua mão pelo braço dela - Parece nervosa.

— Eu gostaria de saber um pouco mais da reunião com o pessoal de hoje à tarde, Alfonso. - conseguiu balbuciar.

— Hum, você tem certeza? - ele agarrou os cabelos dela, puxando-a para si. Anahi apertou os lábios para não ser traída pelo próprio corpo - A gente pode fazer outra coisa, você não acha?

— Alfonso, por favor. Me solta. - sussurrou.

— Quero você. - seus dedos hábeis roçavam carinhosamente pela pele do pescoço de Anahi, descendo de maneira lenta até tocar no volume dos seios que se destacava no decote do vestido.

  Ela ofegou. Sem contato visual não podia prever o que ele pretendia, no entanto, seus dedos acariciaram suavemente as curvas de seus seios e desceram até a barriga ainda por cima do vestido. Era uma longa e deliciosa tortura. Apesar do corpo de Anahi estar queimando de desejo, ela não queria ceder tão facilmente. Respirou fundo e se afastou.

— Alfonso, estou praticamente às cegas sobre essa reunião. Você pode ter ocupado o cargo do seu pai, mas eu continuo sendo vice-presidente e essa conta é importante para a Dulce. Fraude é algo que pode acabar com os planos dela, então, por favor, vamos respeitar os nossos cargos e trabalhar. - falou mais firme do que se sentia por dentro, e se sentiu imediatamente grata por isso.

  Ele pareceu surpreso, mas empurrou qualquer vestígio rapidamente, o semblante impassível dando lugar ao homem que antes estava tentando transar com ela.

— Como quiser - enfiou as mãos nos bolsos - Vamos?

  Quando a reunião acabou, Alfonso e Christian foram para o escritório e Dulce e Anahi pegaram duas taças, uma garrafa de vinho e foram para a área da piscina. Era como ela imaginava. À noite, com as luminárias acesas, era um espetáculo. Digno de filme romântico, só faltava o par. Anahi afastou esse pensamento ridículo e se deitou na espreguiçadeira. Dulce serviu o vinho e se deitou também. Brindaram e ficaram observando as ondas quebrando e aproveitando a brisa fresca. Anahi sabia que Dulce estava preocupada com a conta. Se o problema não fosse resolvido, ela poderia ser prejudicada e perder o MBA.

— Anahi, eu estou definitivamente na merda. - Dulce murmurou com os olhos fechados.

— A gente vai resolver, Dul. Fica tranquila.

— Temos dois meses, Anahi. Sinceramente não sei como fui tão burra e deixei passar esse roubo estrondoso. Que droga. - a voz ficou embargada.

— Ninguém percebeu, Dulce. Fica tranquila. - bebericou o vinho.

— Merda - sussurrou com os olhos marejados - Conversei com os meus pais. Eles querem que eu volte para casa.

  Anahi arregalou os olhos e se sentou virada para a amiga.

— Meu Deus, Dulce, nem pense nisso. Jesus - virou o vinho de uma vez - Eu sei que as coisas complicaram um pouco, mas a gente vai resolver. Confia em mim. Você sabe que essas coisas podem acontecer.

— Não sei, Anahi. Nunca vi uma perda tão grande como essa. Não na nossa empresa - suspirou - Eu não tenho mais condições disso. Preciso dar um up nessa vida ou vou acabar me matando. Estou sozinha, com tantas contas que mal consigo comer em casa.

— O quê? - Anahi berrou.

   Dulce era a secretária com o maior salário ali. Na realidade, o salário dela estava bem acima da média, então como ela estava mal desse jeito?

— Papai está doente - Dulce murmurou secamente - E eu estou ajudando. Ele é aposentado e a mamãe dona de casa. Sou filha única, então preciso ajudar. Meu salário está indo praticamente todo para eles.

  A cabeça de Anahi girava. Dulce não havia lhe dito nada daquilo. Provavelmente porque ela aumentaria o salário da amiga e a mesma odiava se sentir nas graças dos chefes.

— Dulce, você não vai embora - Anahi rosnou - Nem pense nisso. Nós vamos dar um jeito nisso. Para tudo tem um jeito.

— Inclusive você e o CEO? - sorriu maliciosa.

  Anahi sabia que era uma forma que Dulce tinha de esconder os seus problemas, mas era mesmo necessário trazer mais uma vez o assunto “Alfonso” na vida delas?

— Precisamos mesmo falar disso? - Anahi resmungou, colocando mais vinho em sua taça.

— É claro - riu - Anahi, como você conseguiu um homem desses na sua cama? Meu Deus, eu tenho dedo podre para homem. O Christopher é o melhor que consegui, mas porra, ele viaja tanto que eu até desanimo.

— Christopher parece ser um cara legal. - Anahi sorriu, tentando focar nele.

— E é. Mas se o Alfonso me quisesse, com certeza eu ficaria com ele. Sem pensar duas vezes - sorriu maliciosa. O corpo de Anahi enrijeceu. Aquela conversa não estava tomando um rumo bom. Ela se deitou na espreguiçadeira, bebericando o vinho - De verdade, Anahi, o Alfonso é o cara mais gostoso que os meus lindos olhos já viram.

— Não o idolatre tanto. Ele é muito arrogante. - bufou, revirando os olhos.

— Ah, mas eu aceitaria esse arrogante dentro de mim. Era só ele dar mole. Ele deve ter um pau enorme. - tomou o seu vinho.

— As senhoritas estão satisfeitas conversando sobre meus atributos sexuais? - a voz tensa de Alfonso atingiu os ouvidos de Anahi, fazendo-a levantar.

— Alfonso?

— Puta que o pariu - Dulce gritou, largando a taça, que quebrou, mas ela parecia mais chocada com o CEO a sua frente - Senhor Herrera, desculpa... Perdão... Ah, meu Deus. - balbuciou, tremendo.

  Alfonso estava imóvel na porta, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, o maxilar tenso, mas seus olhos demonstravam diversão. Óbvio que ele estava adorando aquela situação. Anahi revirou os olhos e cruzou os braços.

— Dulce, fica tranquila. Precisamos arrumar essa bagunça. A taça quebrou.

— Senhor Herrera, desculpa mesmo. Eu... Eu não sei o que me deu. - Dulce a ignorou, praticamente chorando.

— Dulce... - Anahi chamou-a.

— Deixe isso aí, Anahi - Alfonso olhou-a - Nia vai arrumar depois do jantar. E fique tranquila, senhorita Saviñón - permaneceu sério - Anahi é quem tem o poder de te demitir. Contanto que esse assunto não chegue na empresa, não teremos problemas. O jantar está servido. Estamos esperando vocês na sala de jantar. - saiu.

  Silêncio.

  Silêncio.

  Mais silêncio.

— Cacete - Dulce murchou na espreguiçadeira - Esse homem não dá mesmo liberdade para a gente brincar. - murmurou, escondendo o rosto.

No Limiar do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora