4 - Farinha de maçã

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HEEEY

O que estão achando até aqui?

Ainda não sei se terá um dia certo para atualizações, mas não pretendo demorar mais que uma semana entre elas.

Boa leitura, beijinhos da Imbigo.

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LIS

Cheguei ao laboratório às oito e quinze em ponto, era uma segunda de manhã e normalmente eu não estaria ali. Meu trabalho tinha mais a ver com a parte administrativa, então apenas visitava o laboratório ocasionalmente, mas aquele era o primeiro dia de Caliandra e eu precisava garantir que tudo estava no mais perfeito funcionamento.

Hunter caminhava ao meu lado balançando no ritmo da música que explodia em seus fones. Minha amiga tinha um carro, um salário bom o suficiente, mas, mesmo assim, insistia em pedir carona todos os dias. Mesmo quando não estávamos indo para o mesmo lugar ela insistia em me fazer buscá-la e deixá-la onde quer que fosse e por algum motivo que eu não queria pensar muito profundamente, considerando que gentilezas do tipo não eram o meu comum, eu continuava a atendê-la dia após dia. Suspeitava que aquele hábito seria mais reforçado ainda, considerando que ela trabalharia ao lado de Caliandra e isso me dava oportunidade de estar por perto com grande constância.

Era completamente estranho que o primeiro dia de trabalho com Caliandra soasse como o primeiro dia de trabalho com uma estranha. Havíamos nos conhecido da forma mais profunda que dois seres humanos podiam se conhecer, ela tinha tido a oportunidade de olhar as partes mais sensíveis dentro de mim, mesmo sem saber todos os contextos, ela esteve lá, ela tinha tocado as áreas que eu mais protegia dos olhos alheios. Assim como eu tinha alcançado as dela.

Mas teríamos um primeiro dia como estranhas.

Não estranhas como as outras pessoas. Ela não era realmente uma estranha. Essa era a questão. Pessoas mudam, amigos viram inimigos, inimigos viram amores, a vida muitas vezes parece ter um humor muito desgraçado. Eu não era romântica o suficiente para me doer com tais coisas. As circunstâncias eram como eram. Não me importava tanto que alguém próximo o deixasse de ser. Mas de alguma forma Caliandra conseguia ser uma desconhecida, muito conhecida. Ela estava marcada em mim em cada mínimo detalhe. Eu sabia sobre seus gestos, sobre como quando falava uma coisa querendo dizer outra, sobre as emoções que suas expressões deixavam passar, sabia sobre seus princípios, sobre suas falhas que não queria mostrar e suas falhas que não se importava de deixar visíveis. Eu sabia sobre ela de trás para frente. Mesmo assim éramos estranhas. Ela não queria que eu fizesse parte de sua vida, não mais, e eu também não queria fazer, não de outra forma que não fosse profissionalmente (pelo menos era o que eu pensava racionalmente).

O problema é que era inevitável que não fôssemos íntimas quando nos olhávamos de muito perto. Quando entendíamos sorrisos os quais ninguém mais poderia compreender. Quando compartilhávamos do mesmo senso de humor. Quando ela repreendia minha insensibilidade e eu debochava de sua ingenuidade e compaixão além dos limites. Aquele era o incômodo, aquele era o perigo, aquela intimidade fácil, quase instantânea, intimidade indesejada e impossível de se deter. Antes que qualquer uma pudesse se dar conta já estávamos mais próximas do que o sensato. Era disso que eu precisava fugir. Precisava correr na corda bamba. Estar próxima o suficiente para supervisionar sua pesquisa e distante o suficiente para permanecermos estranhas.

"Como fui me apaixonar, mesmo sem te conhecer. Baby eu estou sofrendo, baby onde está você....".

Pisquei em confusão ao ouvir o som relativamente alto da música.

Calcinha preta, identifiquei facilmente.

Caliandra era completamente obcecada por Calcinha Preta. Eu reconhecia boa parte daquelas músicas com facilidade por conta dela. Uma baseada em uma música da Beyonce era ainda mais facilmente reconhecida por mim. Precisava admitir que conseguir fazer uma música soar tão boa quanto a original, quando a original pertencia a Beyonce, era um feito e tanto.

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