15 - Cavalo doido

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HEEEY

Demorei né hehehehe

Eu estava jogada na BR triste e chorando que o Lula não ganhou no primeiro turno e demorou um tempo para achar disposição para mexer em qualquer coisa escrita.

Boa leitura e beijinhos da Imbigo!

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Uma floresta funciona como um grande organismo conectado em que um processo depende do outro e afeta o outro. Por mais que cada ser vivo em sua maioria funcione individualmente, o individual é adaptado à comunidade. Uma árvore de florestas tropicais, por exemplo, cresce e se mantém sozinha independente das outras, mas ela quase nunca cai sozinha. Quando derrubada sem o devido cuidado uma rede intrincada de cipós trabalha de forma que uma queda se converte em média em vinte outras.

O fato dos cipós crescerem e se ligarem a eles mesmos e a outras árvores torna quase impossível que uma queda seja solitária. O abraço que as interligava em vida se converte no aperto que puxa para a morte.

Amar e se importar às vezes é um pouco assim. Nenhuma ventania disfarçada de dificuldade poderia te derrubar, mas a queda de quem você ama é capaz de te puxar de uma maneira fatal. Aquilo que atinge quem você ama machuca mais que as feridas em seu próprio corpo.

E mesmo que isso soe como vulnerabilidade, no fim talvez seja a vulnerabilidade que mais fortalece. Uma floresta não cresce e se interliga de maneira tão intrincada sem um motivo que justifique tal comportamento. Os seres vivos sempre estão a procura de se adaptar e se moldar no intuito de maximizar suas chances de viver e se multiplicar.

Aceitar a vulnerabilidade de amar ainda é a estratégia mais assertiva para viver. Mesmo que possa doer como uma morte.

Era sexta, fim de uma semana de provas consideravelmente estressante, e Caliandra não tinha a mínima ideia do que faria com a própria mãe. Dona Rosa havia decidido descer todo o caminho do Piaui a São Paulo apenas para passar o fim de semana com a filha alegando que em todos aqueles anos nunca tinham ficado separadas por tanto tempo. Nem mesmo a promessa de que se veriam em pouco mais de um mês com a chegada das férias do fim do ano foi o suficiente para deter a mais velha de fazer exatamente o que queria.

Quando naquela manhã Caliandra saiu da primeira aula do dia para atender uma ligação da própria mãe avisando que estava em um dos prédios da USP pensou por alguns segundos que era alguma brincadeira, mas não demorou muito para raciocinar que aquele era justamente o tipo de coisa que sua mãe faria. Ir aleatoriamente para uma cidade desconhecida, sem nem mesmo saber como localizar onde estava, apenas para ver sua menininha.

-Mamãe? – Caliandra exclamou assim que deu de cara com a mulher de meia idade sentada em um dos banquinhos do departamento de Biologia. Ela nem mesmo tinha certeza de qual curso fazia, mas já parecia ter feito amizade com vários alunos. Havia distribuído docinhos e conversava animadamente com um grupo curioso de alunos.

-Oh, meu amor. – A mais velha exclamou emocionada assim que avistou a filha. As duas tinham uma relação muito especial, ligadas a ponto de apenas a visão uma da outra ser capaz de deixar os dois pares de olhos cheios de água.

-Oxe, não chore não. – Caliandra exclamou com certa hipocrisia, considerando que as lágrimas já molhavam sua face.

Desde que se entendeu como gente eram apenas as duas, é claro que contavam com o resto da família incluindo avós, tios e primos, mas o núcleo familiar restrito a casa onde moravam era composto apenas pelas duas. Sua mãe havia dedicado toda a vida a lhe sustentar e dar as melhores condições possíveis para que fosse capaz de fazer o que quisesse da vida. Mas não era apenas aquilo. Elas se entendiam, de uma forma que poucos pais e filhos conseguiam fazer. As diferenças de idade e responsabilidades não afastavam, as uniam. Sabiam que uma dependia da outra em níveis e aspectos diferentes e respeitavam muito essa dependência.

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