Capítulo um

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Acordei com uma dor horrível no corpo.

Parecia que eu havia sido costurada e virada do avesso.

Sentei-me no colchão que eu estava e um gemido de dor escapuliu dos meus lábios.

Eu ainda usava as mesmas roupas, mas onde deveria haver o buraco de bala capaz de me matar, possuía apenas um curativo e eu tinha certeza de que fui realmente costurada.

Olhei ao redor e notei que eu não estava numa cela, parecia mais o porão de alguma casa. A única janela do local estava aberta, mas possuía grades que eu só conseguiria passar se fosse uma abelhinha.

Estava bem escuro e apenas a luz da lua iluminava alguns pontos específicos do local.

Eu estava sentada no chão em cima de um colchão grosso o suficiente para eu não me sentir desconfortável. Perto da parede havia um local para eu fazer as minhas necessidades e em uma bandeja havia um copo de água com um sanduíche do lado.

Ergui as sobrancelhas.

Eu não iria comer aquilo e se tivesse veneno?

Abracei minhas pernas e chorei em silêncio por Lianna, será que ela teria sobrevivido? Tudo que eu conseguia me lembrar era do tiroteio e de uma dor rasgando o meu peito, uma dor que me fez perder a consciência imediatamente.

Se Diogo estivesse vivo, diria que eu era fraca.

E eu era mesmo.

Lembrei-me do presente de Lorenzo e tirei a fotografia do meu bolso, me arrastei para debaixo da janela para conseguir olhá-la melhor. Éramos eu e minhas irmãs, havíamos passado o quatro de julho em Nova Iorque, Marco havia nos levado para ver os fogos de artifício em Coney Island. Aquele havia sido um dia divertido, eu e Valentina havíamos realizado uma competição de cachorro-quente e depois vomitamos nos nossos pés quando fomos à montanha-russa.

Suspirei, triste.

Uma risada chamou minha atenção e eu olhei para cima, empoleirado em um canto escuro, parecendo um urubu, estava um rapaz de cabelos escuros e olhos tão verdes que pareciam olhos de gato.

Eu não havia visto ele ali, a quanto tempo aquele rapaz estava me observando?

Tentei me lembrar dele, então lembrei-me que aquele era o Nico.

— Você é o Nico? — perguntei.

Ele assentiu, mas apenas enxerguei o seu reflexo.

— A Lianna... — engoli em seco — A Lianna morreu?

O rapaz suspirou e negou com a cabeça, seus olhos estavam fixos em mim e eu sentia um ódio profundo vindo dele, mas por quê? Eu não o conhecia, o que poderia ter feito a ele?

— Você não vai comer, minha querida? — Nico perguntou apontando para a bandeja ao lado da cama.

Neguei, sentindo-me completamente chocada com o seu timbre de voz.

A sua voz no áudio era completamente diferente da voz do homem que estava na minha frente, era cheia de acidez, de crueldade.

Nico se aproximou e a luz da lua o iluminou.

Seus braços estavam cruzados e ele possuía o cenho franzido, seu polegar tocava calmamente nos lábios, mas eu sabia pela sua expressão facial e pelo seu olhar que Nico estava tentando se controlar. Aquele homem era perigosamente bonito e se eu o visse em um dos jantares da Família, o meu cérebro gritaria para correr na direção oposta a ele.

— Eu não vou matar você envenenada — Nico falou e com o pé arrastou a bandeja até onde eu estava — coma.

Engoli em seco.

A Traidora da 'Ndrangheta - Os Mafiosos, 4Onde histórias criam vida. Descubra agora