NICO
O jantar estava impecável.
Anna soube escolher as entradas, o prato principal e as sobremesas com sabedoria, eu estava realmente surpreso. Eu jurava que aquela mulher só tinha habilidades com armas, ela atirava muito bem, contudo, todas às vezes que eu lembrava disso, recordava-me do fato dela ter atirado tão bem na minha irmã, resultando na sua morte.
Olhar para Anna me embrulhava o estômago, eu havia beijado aquela assassina, não uma, mas duas vezes, eu havia desejado mais do que um beijo.
Um beijo que pareceu mais real do que deveria.
O meu plano inicial era seduzi-la e depois quebrar o seu coração, eu gostaria que ela soubesse como era ter o coração partido, então fui fraco, e desisti daquela ideia. Percebi que as coisas estavam fugindo do meu controle quando notei que eu não estava fingindo ao massageá-la, ao abraçá-la, não era fingimento meu querer protegê-la de todos os traumas. E isso me deixou com a consciência pesada, ainda mais quando precisei me aliviar no banheiro e pensando justamente nela.
Naquela trapaceira.
E isso estava errado em todos os níveis, mas nada seria pior do que beijá-la naquela praia estúpida, no sentimento de querer ser decente para ela.
E foi por isso que me afastei, porque ficar no mesmo ambiente que Anna me deixava com a consciência pesada, eu estava falhando como filho, como irmão, como tio. Eu só sabia falhar com as pessoas que precisavam de mim.
Era minha culpa que Catarina tivesse sofrido aquele trauma, eu sempre carregaria aquele peso comigo, jamais me perdoaria. E aqui estava eu, desejando a culpada por destruir a minha família, me tornando o culpado de decepcionar meus pais pela segunda vez.
— O que você acha? — Giovanni perguntou enquanto bebia um dos meus conhaques, franzi a testa. — Com certeza a sua mente estava em outra pessoa agora.
Giovanni deu uma risada e novamente a consciência pesada veio.
Era sempre assim quando eu lembrava que já havia me divertido com Arya.
Giovanni não era um homem ruim, mas tampouco fiel, contudo ele sempre apoiou minhas loucuras e parecia ser o único a dar apoio para o casamento. Eu acreditava que se compadecia com a minha situação envolvendo meus pais e a morte do meu irmão, mesmo não sabendo que eu era o culpado dele ter partido.
— O que está achando da vida de casado? — Ele perguntou com divertimento.
Suspirei.
— Intensa. — Falei bebendo o meu uísque.
As mulheres estavam na sala de visitas conversando amenidades e os homens estavam reunidos na biblioteca conversando sobre os negócios da 'Ndrangheta.
Giovanni deu uma risada alta.
— Sua mulher não parece ser o tipo que assassina alguém. — Ele falou, pensativo — Não resisti e olhei ela de cima a baixo, peça desculpas a Anna por mim, mas eu imaginava alguém com um olhar assassino e não tão feminina e frágil como ela.
Dei de ombros.
Um dos convidados olhou para mim com curiosidade.
— Como você conseguiu perdoar aquela assassina? — Ele perguntou.
Ergui as sobrancelhas.
— Todos somos assassinos, Capuleto. — Falei com um sorriso sem humor. — Qual é a diferença dela para você?
Capuleto ficou com as bochechas rosadas e abriu a boca para me insultar, mas Giovanni entrou no meio.
— Não incomode o homem, é bem visível que eles se apaixonaram. — Giovanni suspirou. — E quem somos nós para mandar no nosso coração? — Um brilho triste surgiu nos seus olhos cor de gasolina.
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A Traidora da 'Ndrangheta - Os Mafiosos, 4
Romance[QUARTO LIVRO DA SÉRIE: OS MAFIOSOS] Traidora, psicopata, trapaceira, maluca e assassina. Esses eram só alguns dos adjetivos que deram a Anna, a traidora da família Marchetti, a culpada por matar seu pai, seu marido e a falecida e íntegra esposa de...