Capítulo três

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NICO

Paolo me olhava com nítido cansaço.

Eu sabia que eu não era um amigo fácil, mas me casar com Anna era me jogar no inferno.

Era estar a um passo de chegar na insanidade.

Eu a odiava e acreditava que a premissa de um casamento deveria ser o amor e não a vontade de matar a esposa.

Literalmente.

Nico...

— Você esqueceu que a Tríade e a Yakuza quer o sangue daquela trapaceirazinha? — Eu podia sentir meus olhos saltando das órbitas.

Meu amigo queria mesmo me casar com aquela... aquela mulher?!

Paolo suspirou.

— Não, eu não me esqueci. — Ele olhou para mim —, mas se você se casar com a Anna, tenho certeza que a Cosa Nostra vai retomar com a aliança e automaticamente a Camorra.

Gemi baixinho e sai da minha cadeira, andei de um lado para o outro naquela sala.

— Eu nem queria isso aqui. — Apontei para o escritório. — Só estou nessa porque sinto que devo isso aos meus pais, mas você sabe que odeio a máfia e tudo que ela representa.

Paolo assentiu e continuou me observando, ele era a única pessoa que sabia do meu terrível segredo e continuaria assim.

— E agora terei que me casar com a pessoa responsável por deixar minha mãe deprimida todos os dias e enfiada em um quarto? — Neguei com a cabeça. — Isso é inadmissível, como vou acordar diariamente ao lado de uma traidora? Pode acontecer de eu simplesmente nunca acordar porque ela é uma assassina!

Paolo coçou a testa.

— Você não precisa abdicar da sua vingança. — Ele continuou com um sorriso maquiavélico.

Franzi a testa.

— Você está sugerindo que eu mate a minha esposa? — Perguntei. — Caramba, Ferrari, você é cruel.

Paolo deu uma risada.

— Sou um mafioso e assim como eu, você também é. — Assenti a contragosto —, mas não, não sugeri isso.

Mesmo não querendo ser um mafioso, mesmo seguindo direções opostas, eu reconhecia precisar ser menos humano e mais cruel, mas isso era impossível, ainda mais quando aqueles olhos vítreos, completamente sem vida, me encaravam de volta...

— Você precisa esquecer o passado. — Paolo falou gentilmente me tirando das minhas memórias. — Acidentes acontecem...

— Aquilo não foi um acidente. — Falei friamente.

Caminhei até a entrada do meu escritório e chamei um dos guardas.

— Senhor? — Ele me olhou ansioso, eles sempre me olhavam ansiosos e isso me incomodava.

— Traga a trapaceira — falei apenas.

O soldado se virou e foi em direção ao porão que eu a mantinha.

Paolo suspirou.

— É a única solução. — Ele murmurou. — Você vai ter que se casar com ela, caso contrário você perde tudo e perde a Anna também.

Olhei para o meu anel e o toquei suavemente.

Aquele anel não deveria pertencer a mim, mas pertencia.

— Para se vingar dela, você não precisa matá-la. — Paolo continuou. — A morte seria a solução dos problemas de Anna, mas e se você fosse pior que isso? E se você a fizesse implorar pela morte?

A Traidora da 'Ndrangheta - Os Mafiosos, 4Onde histórias criam vida. Descubra agora