Capítulo vinte e quatro

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Acordei no outro dia com a respiração de Nico no meu ouvido.

Bocejei e tentei me situar do que estava acontecendo. Lembrei-me então da noite anterior, do que eu quase havia feito e de como fomos interrompidos.

Uma parte de mim estava aliviada.

Eu tinha muito medo de me entregar a alguém daquela forma, não existe momento mais vulnerável do que quando entregamos o nosso coração a uma pessoa e eu sentia que a qualquer momento eu poderia fazer isso com Nico.

E eu me assustava muito e não pelo Sandro, mas sim porque sempre me decepcionei ao amar alguém.

Eu tentei amar o Diogo, mesmo com suas brutalidades, mesmo me batendo, eu tentei amá-lo e ser a esposa perfeita.

E qual foi o resultado? Mais sofrimento.

Com o Sandro não foi muito diferente, mesmo não me ferindo fisicamente, ele me feriu emocionalmente, eu confiei a minha vida a ele, dediquei todo o meu amor para aquele homem e ele me traiu.

Sandro transformou o meu amor em uma bolinha de papel e o jogou no lixo.

E agora tinha o Nico que eu não sabia o que estava acontecendo.

Às vezes eu tinha medo de que toda aquela gentileza fosse apenas um plano para partir o meu coração, mas será que ele não conseguia ver? Será que Nico não percebia? Eu não tinha mais um coração para ser partido, eu tinha só um vazio dentro do meu peito.

Senti algumas lágrimas rolarem pela minha bochecha.

Eu havia acordado com um sentimento triste no peito, ver Nico com o seu pai, lembrou-me de Marco e de como ele havia sido bom para mim na minha infância, mesmo não sendo meu pai biológico, Marco havia cuidado de mim, me dado um sobrenome, uma casa.

Ele havia me dado mais amor do que a minha mãe, mas errei tanto em me deixar ser manipulada daquela forma.

Cresci tentando encontrar uma explicação para a maneira que a minha mãe me tratava, quando Filippo me deu as respostas, eu acreditei e quis me vingar, mas eu me vinguei da pessoa errada.

Eu deveria ter enfiado uma bala na cabeça de Filippo e não de Marco.

Céus, ele me perdoaria um dia por aquilo? Eu nunca saberia.

— Anna? — Nico sussurrou, seu polegar tocou a minha bochecha suavemente.

Virei-me para ele e encontrei seus olhos.

— Bom dia.

Ele suspirou.

— Por que você está chorando? — Nico perguntou carinhosamente.

Engoli em seco.

— Porque sinto falta do meu pai. — Murmurei. — Não de Filippo, mas sim do homem que me amou como uma filha, eu sinto falta dele e me odeio tanto por ser burra a ponto de matá-lo.

Nico beijou minha testa.

— Sinto muito.

— Mereço morrer, Nico. — Funguei. — Mereço ser jogada no inferno e ser esquecida lá.

Nico me apertou contra o seu corpo e eu escondi meu rosto no seu peito, logo a sua camiseta estava molhada com as minhas lágrimas.

— Acredito que você merece uma segunda chance. — Ele falou em voz baixa. — Todos merecemos, exceto os estupradores e pedófilos, mas você não é isso, você é uma vítima de pessoas assim.

Suspirei, apenas ouvindo o som da sua respiração e da batida do seu coração.

— Seu pai parecia ser inteligente, tenho certeza de que ele entendeu o que estava acontecendo, entendeu que você havia sido usada e manipulada. — Nico fez carinho nos meus braços. — O importante não é saber se ele te perdoou, infelizmente seu pai se foi e você terá que conviver com essa dor, o mais importante agora é saber se você pode se perdoar.

A Traidora da 'Ndrangheta - Os Mafiosos, 4Onde histórias criam vida. Descubra agora