Acordei com um cutucão na minha perna.
Abri os olhos com irritação e encontrei a ponta do sapato de Nico na minha perna, olhei para ele e seus olhos verdes estavam brilhando para mim.
Nico estava impecável e como sempre o seu perfume tomava conta de todo o local.
— Finalmente. — Ele respondeu, impaciente. — Paolo terminou os papéis do casamento, levante-se para se casar.
Sentei-me no colchão e abracei o cobertor grosso que Nico havia mandado entregar a mim. Era bom ter algo quentinho nas noites frias, Seattle era muito mais congelante do que o local que eu estava agora, muitas noites eu simplesmente desejava morrer de frio, em outras eu acreditava que já estava morrendo, até mesmo respirar doía.
Pelo menos Nico não era ruim, ele nunca mandava um soldado para falar comigo, era sempre a empregada loira, ela cuidava desde a minha comida até os meus banhos. Era bizarro me sentir segura naquele porão, mas eu sentia muita segurança ali.
Eu não compreendia a atitude do homem parado na minha frente. Se ele me odiava tanto, por que se dava ao trabalho de ser bondoso? Aqueles atos poderiam ser vistos como coisas mínimas para outros, mas mesmo assim, apenas Lianna se esforçou para me dar o mínimo.
— Você me odeia, certo? — Nico franziu a testa confuso com a minha pergunta.
Afinal, ele amava dizer com todas as letras que me odiava e preferia se jogar debaixo de um trem a se casar comigo.
Nico assentiu devagar.
— Por que está me perguntando isso? — Ele cruzou os braços.
Dei de ombros.
— Você me deu tudo isso. — Apontei para o porão, que por mais escuro que fosse, não tinha ratos e era um bom refúgio. — E de certa forma me sinto segura aqui, nenhum soldado veio abusar de mim no meio da noite e isso acontecia muito na... — Minha voz falhou e lágrimas escorreram pela minha bochecha, lágrimas que eu não queria que descessem, eu as sequei com revolta. — Ganhei peso porque você realmente se importa se como ou não. — Olhei para ele que estava visivelmente incomodado com as minhas palavras e com o meu choro. — Eu não conheço esse tipo de ódio, só conheço o ódio brutal, o ódio que mostraram para mim, que me ensinaram.
Nico engoliu em seco e deu de ombros.
— Sou o tipo de pessoa que pode te odiar a ponto de querer te matar — ele falou em voz baixa —, mas mesmo odiando eu não seria capaz de não lhe dar o básico, você estava imunda quando chegou e não me surpreenderia se estivesse com piolhos no seu cabelo. — Nico fez cara de nojo. — Infelizmente você é um ser humano como eu, e odiaria que fizessem o mesmo comigo.
Olhei para ele em completo choque.
— Você não parece um mafioso. — Sussurrei. — Você parece ter coração.
Nico abriu um sorriso zombeteiro.
— É... — Ele respondeu. — Já me falaram muito isso, minha querida.
O observei em silêncio.
Não era apenas fisicamente, mas moralmente, Nico poderia facilmente ser um bilionário comum, bem-vestido e muito cheiroso.
— Por que você usa tanto perfume? — Perguntei, suas sobrancelhas escuras ergueram-se.
— Porque gosto, é bom ser cheiroso. — Ele respondeu simplesmente. — Vamos logo trapaceira, tenho outras coisas para resolver.
Suas mãos seguraram meu braço e eu levantei-me.
Nico não foi muito gentil e arrastou-me escada acima, passamos pelos soldados que nos olhavam com confusão e raiva, nem eles entendiam porque o chefe iria se casar com a traidora, com a pessoa que destruiu o clã deles.
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A Traidora da 'Ndrangheta - Os Mafiosos, 4
Romance[QUARTO LIVRO DA SÉRIE: OS MAFIOSOS] Traidora, psicopata, trapaceira, maluca e assassina. Esses eram só alguns dos adjetivos que deram a Anna, a traidora da família Marchetti, a culpada por matar seu pai, seu marido e a falecida e íntegra esposa de...