Capítulo cinco

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NICO

Assim que finalizamos os votos do casamento e assinamos os papéis, eu saí daquele escritório sufocante. Tudo que eu conseguia pensar era nos meus pais, principalmente na minha mãe, deitada em uma cama presa no próprio luto e eu ali jurando proteger e cuidar da culpada de deixá-la daquele jeito.

Eu não merecia ser um Lombardi, pela segunda vez estava jogando o nome da nossa família na lama.

Entrei no meu quarto aos tropeços e desabotoei os quatro primeiros botões da minha camisa, apoiei minhas mãos na cômoda e respirei fundo. Eu precisava me controlar, pois, já estava tremendo, eu não deveria ter bebido tanto antes do casamento, mas só aquilo para não me fazer surtar com aquela palhaçada.

Um embrulho no estômago me fez correr para o banheiro e despejar todo o uísque no vaso sanitário. Assim que me recuperei um pouco, dei descarga e fui para a pia. Lavei meu rosto, aproveitei para escovar os dentes e tirar aquele gosto horroroso do vômito.

Aquele gosto que me remetia a tantas lembranças desagradáveis, aquele cheiro que me obrigava a passar perfume mais do que o normal, para evitá-las.

Após ficar mais apresentável, voltei para o meu quarto e destranquei minha mesinha de cabeceira, retirei de lá o meu bem mais precioso e sentei-me na cama. Observei com atenção a foto antiga e descascada nos cantos, com o meu polegar, acariciei o rosto da pessoa em questão.

— Tenho certeza que você realizaria um trabalho muito melhor do que eu. — Murmurei observando um garotinho idêntico a mim, seus braços estavam envoltos nos meus e sorrisos enormes estavam nos nossos rostos.

Enquanto eu usava azul, ele usava verde.

Quando eu era apenas uma criança inocente, eu amava aquela cor.

Teve uma época em que tive um irmão gêmeo, um irmão que participava de todos os meus planos diabólicos, um irmão que dividia a casa da árvore comigo, um irmão que era o meu norte.

O gêmeo que nasceu primeiro e como consequência seria aquele que herdaria tudo isso, tudo isso que era de direito dele, não meu. Até mesmo o anel de família seria dele, mas não foi, porque ele morreu e eu fui o culpado da sua morte.

Eu o matei.

E eu merecia ir para o inferno por isso.

Uma batida na porta me fez guardar a foto na gaveta e trancá-la, sequei as lágrimas que haviam descido pela minha bochecha, falei um entra mal-humorado e Catarina passou pela porta, ela caminhou em direção ao banheiro e saiu de lá com uma roupa, a roupa de Anna.

Eu não prestei atenção nelas.

Franzi a testa.

— Onde você está levando isso? — perguntei.

Catarina olhou assustada para mim.

— Para o porão, a menina precisa tirar o vestido e...

Levantei-me.

— O quê? — Eu realmente não conseguia compreender.

— Senhor...

— Catarina, pegue esse dinheiro e vá para a cidade mais próxima, compre roupas para a Anna e a tire daquele chiqueiro, a partir de hoje ela dorme aqui e manda nessa casa, ela se tornou uma Lombardi. — Entreguei várias notas de cem para a garota.

— Mas senhor...

Bufei.

Sai do quarto e fui em direção ao porão, se Catarina era idiota para entender uma ordem simples, eu mesmo iria fazer isso.

A Traidora da 'Ndrangheta - Os Mafiosos, 4Onde histórias criam vida. Descubra agora