Eu não conseguia tirar as palavras de Nico da minha mente.
Tinha algo na voz dele...
Uma intensidade que eu não sabia se me assustava ou alguma outra coisa que eu não queria pensar sobre. Eu simplesmente não queria pensar sobre nada, o seu ódio era totalmente recíproco, mas mesmo me odiando eu achava um absurdo ele ter me traído assim.
Encontrei uma porta entreaberta e me enfiei dentro dela, era uma biblioteca.
Eu nunca tive muita paciência para ler livros, ao passo que fui crescendo, minha ansiedade tomava conta de mim e eu simplesmente não conseguia ficar muito tempo parada prestando atenção nas letras.
Minha mente sempre foi muito fértil e ativa, então eu imaginava outras coisas quando estava lendo, eu invejava a paixão da Valentina pela leitura.
Eu sempre quis ser apaixonada por algo assim e no fim fui, mas por um homem que não gostava de mim da mesma forma, ele sempre havia amado a Luna e eu havia interferido no amor dos dois.
E não o contrário, como eu sempre imaginei.
Sentei-me no estofado fofo que tinha no parapeito da janela e observei o céu do lado de fora, eu não fazia ideia de muita coisa, como, por exemplo, em que mês estávamos, mas pelas minhas contas eu havia sido pega pela Cosa Nostra no final da primavera e início do verão, seis meses haviam se passado desde que Nico havia me levado com ele, então estaríamos em dezembro?
Suspirei.
Eu amava o natal, era uma época em que sempre nos reunimos com a tia Laura e a Lianna, trocávamos os presentes e olhávamos as luzes na árvore-de-natal até sermos engolidas pelo sono. Eu jamais teria isso de novo, eu jamais mostraria isso para os meus filhos, se é que eu poderia ter um.
Os meus dez anos com Filippo me fez duvidar da minha capacidade de gerar um bebê, foram várias ocasiões em que Sandro e eu simplesmente esquecíamos de usar proteção e em apenas uma delas, nove anos depois do massacre em Chicago, eu engravidei, mas quando estava com cinco meses, quando já sabia o sexo do bebê, quando já sabia estar esperando por uma linda menina, eu a perdi.
Ela nasceu prematura e acabou não resistindo.
Depois disso senti Sandro distante e o sentimento que ele tinha por mim, foi diminuindo, foi se desgastando.
Foi se esfriando.
E eu quase não o via com tanta frequência, ele sempre estava ocupado demais em Nova Iorque e quando estava em Seattle, vivia em reuniões e não podia se dar ao luxo de ser descoberto com a traidora da máfia.
Suspirei, abraçando com força as minhas pernas, então me permiti chorar baixinho.
Era sempre assim, eu sempre terminava chorando quando me lembrava de Sandro, dos dois filhos que eu poderia ter tido com ele, das duas crianças que amei mesmo sem conhecer e agora ali estava aquele homem criando expectativas em ter um herdeiro.
Nem se eu quisesse eu poderia dar isso a Nico.
Primeiro que eu duvidava da minha capacidade em conseguir gerar um bebê e segundo que eu estava traumatizada demais para ter relações com outros homens, eu sempre tive muita confiança com Sandro, mas eu não sabia dizer se conseguiria isso de novo com outro homem.
Não com tantos traumas naquela prisão da Cosa Nostra.
Às vezes meus pesadelos consistiam em mim, deitada, machucada no chão imundo da prisão, chorando, implorando pela morte enquanto um soldado me violentava.
Teve noites em que eles se revezavam e eu não podia falar nada para ninguém, porque eles diziam que nada do que uma mentirosa e assassina falasse, seria levado a sério, que se eu abrisse a boca para alguém, seria mil vezes pior depois.
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A Traidora da 'Ndrangheta - Os Mafiosos, 4
Romance[QUARTO LIVRO DA SÉRIE: OS MAFIOSOS] Traidora, psicopata, trapaceira, maluca e assassina. Esses eram só alguns dos adjetivos que deram a Anna, a traidora da família Marchetti, a culpada por matar seu pai, seu marido e a falecida e íntegra esposa de...