Capítulo trinta e quatro

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Acordei com o chão frio tocando o meu corpo, mas estranhamente o meu rosto se encontrava pousado em algo fofo. Abri meus olhos e vi duas pernas, sentei-me no chão com muita dificuldade e uma terrível dor de cabeça surgiu, mãos me seguraram gentilmente e eu senti o cheiro.

Era o cheiro de Nico.

Olhei para ele e vi que seu rosto estava machucado, um corte na sobrancelha e outro nos lábios, o olho e a maçã do rosto estava com um tom arroxeado.

— O que aconteceu? — Toquei gentilmente no seu rosto. — Por que você está machucado?

— Sofremos um ataque, Anna. — Nico murmurou. — Eu ainda não sei exatamente de quem e o porquê, mas sei que sofremos um ataque, eu acordei aqui e vi você, alguns soldados entraram, tentaram machucá-la e eu te protegi.

Assenti.

— Obrigada. — Senti meus olhos encherem-se de lágrimas. — Precisamos pensar numa forma de sair daqui.

— Eu já pensei. — Nico suspirou —, mas vou guardar para mim, no momento certo você saberá.

Remexi-me incomodada com a situação de ficar no escuro, de não saber quais planos estavam escondidos na mente de Nico.

Aproveitei o momento para observar o local e para a minha surpresa estávamos em um porão. Era difícil não me recordar do momento em que Nico me sequestrou e me jogou em um local como aquele em que eu me encontrava. Naquela época eu possuía a mesma incerteza de viver ou morrer.

Franzi a testa, observando um corpo caído na escuridão.

— Aquele é o Paolo? — Perguntei.

Nico fechou os olhos e deitou a cabeça na parede de pedra.

— Sim, eu acordei e o encontrei desmaiado, até o momento não recobrou os sentidos. — Nico murmurou e eu fiquei completamente em silêncio.

Era difícil ter noção do que estava se passando na cabeça dele naquele momento, os pais haviam sofrido um acidente e nós nos encontrávamos naquela situação de vida ou morte.

Um sentimento de alívio passou pelo meu coração.

— Ainda bem que não existiu nenhum bebê. — Sussurrei. — Ainda bem que eu não estava grávida.

Nico assentiu e apoiou o queixo no topo da minha cabeça.

— Vamos sair dessa, eu prometo. — Ele murmurou. — Vou me certificar de que você saia viva e tenha os seus filhos.

Suspirei.

Senti um incômodo surgir no meu peito.

Eu realmente fiquei triste ao descobrir que não estava grávida, mas isso não significava que eu quisesse ter filhos. Passei toda a minha vida sendo estuprada para dar um herdeiro ao Diogo, era chamada de imprestável por consequência da violência que ele praticava em mim e que causava os abortos. Depois veio o Sandro e com ele a necessidade de o prendê-lo a mim de alguma maneira, aquele homem era tão fácil de escapar quanto areia escapava por entre os meus dedos.

Eu acreditava que um bebê, um herdeiro, o faria me amar de novo.

Talvez eu não quisesse ter filhos, eu nunca pude me ver como mãe por vontade própria, apenas pelo desejo de terceiros, eu sequer tinha um bom exemplo de como ser mãe.

Eu nunca tive a chance de ter prazer na maternidade, eu era um monstro por isso?

Talvez eu fosse.

— O que foi, Anna? — Nico perguntou, carinhosamente.

A Traidora da 'Ndrangheta - Os Mafiosos, 4Onde histórias criam vida. Descubra agora