16 de Novembro de 2010.
♟A viagem chegava ao fim, e Louis só se deu conta quando o balançar do ônibus sobre os buracos se tornou insuportável sendo despertado ao bater a cabeça no vidro era no fim de tudo - uma grande merda - sendo ou não o destino que escolheu não tinha perspectiva de vida alguma em qualquer lugar, suas roupas eram péssimas, aparentava ser um louco - e quase era - seria difícil arrumar um serviço, mas se já havia enfrentado coisa pior sabia que no fim sobreviveria ou esperava ao menos que sim.
— Ei! Onde estamos? - Indagou ao perguntar para uma mulher após descerem do ônibus. — Na rodoviária de Natal.
Foi quando se colocou à observar todas aquelas luzes, ver a imensidade da cidade e tudo que poderia viver ali dentro, ficou completamente bestificado fazendo uma promessa intenta para si mesmo que conseguiria um emprego antes do ano novo, faria sua chance valer a pena, sabia que era a única que teria.
E ali se colocou a vagar novamente com fome pelas ruas e valetas, quando escutou um grito alto não tão distante.
— Ei você aí o pobre fodido! - Louis se pegou a respirar com tanta profundidade após ouvir pois sabia que estavam falando diretamente com ele. — Mas deve ser um inferno mesmo, só posso ter cara de hospício. - Resmungou para si mesmo e se virou para ver quem era o louco da vez.
— Calma ai Cinderela. - Disse o rapaz se aproximando, Tomlinson logo percebeu seu sotaque carioca e suas vestes um tanto características, não estava muito mais arrumado que ele a única diferença era que o jovem usava um short preto de malha com uma camisa limpa.
— Quem é você ? - Perguntou afim de não cometer o mesmo erro de antes. — Prazer, Zayn. Zayn Malik. - O sorriso no carioca era extravagante, parecia realmente interessado em algo como se tivesse visto no pobre garoto algo que valesse a pena. — Tá.
Louis voltou a se virar começando a caminhar mais uma vez pelas ruas como se o rapaz não fosse relevante em sua vida. E de fato não era - ainda. Já Malik balançou a cabeça revirando os olhos o alcançando novamente na esperança de conseguir o que queria.
— Escuta, Eu vi que você é fodido e não tem pra onde ir, parece não comer no mínimo faz setenta anos tá tão magrinho. - Ao escutar o deboche cerrou os olhos observando mais os traços daquele que estava a sua frente, Zayn tinha além de várias tatuagens um risco na sobrancelha, usava brincos nas duas orelhas e seu cabelo era uma espécie de verde desbotado do azul.
— Escuta você. Eu não sei o que você quer, eu não tenho nada para te oferecer e não irei te vender meu cu, então vai se foder. - O carioca não foi capaz de prender o riso vendo toda aquela prepotência. — A Cinderela é até apresentável talvez sem essa roupa horrível, mas lamento te informar que você não faz o meu tipo, eu quero te ajudar. - Louis olhou por segundos em sua cara sem expressão alguma e voltou a andar. — Eu não quero sua ajuda. Não preciso da ajuda de ninguém. Não quero uma fada madrinha.
Respirando fundo o jovem que ficou para trás cruzou os braços, via realmente um potencial para algo ali, talvez até um amigo, mas era cedo demais para dizer até então seria apenas a quitação de uma dívida.
— Nem se a fada madrinha te arrumar um emprego? - E desta vez ele havia conseguido a atenção total. — Não vou me meter em esquema com quem não conheço. - Louis tinha ao menos noção do que fazia de sua vida, e agora que estava livre não queria mais voltar a correr o risco de ser preso. — Fica suave, sem caô, você sabe fazer pão? - Indagou. — Que? - Zayn então passou o braço pelos ombros do Paulista e sorriu. — Ótimo, você vai virar padeiro.
Balançando a cabeça e suspirando fundo viu que não tinha nada a perder então apenas seguiu o caminho com a sua fada madrinha pelas ruas de natal enquanto o ouvia dizer sobre a cidade e toda sua experiência excepcional como um sobrevivente nato do sistema sabia que o carioca não soava como uma salvação completa e que havia algo estranho nisto tudo, mas sempre haveria, nada nunca vinha até ele sem uma consequência por trás, desta vez só esperava que não lhe custasse três anos novamente.
O caminho foi longo, mas a conversa fluía de uma maneira tão irritante que mal via o tempo passar.
— A gente chegou espera aí, não foge não, ai vê se sei lá, tenta parecer menos mongo. - Não fazendo ideia do que ele queria dizer apenas mostrou seu dedo do meio e aguardou, estava bem em frente do que lhe parecia ser uma padaria de esquina, a faixada estava mal colocada, as paredes tinham uma cor azul desbotada pelo sol quase cinza, a logo demarcada em tons verdes com o nome de "Padaria do Ponto", e o cheiro de salgado velho se espalhava em uma mistura com o de pão fresco. Era um lugar simples em um bairro simples, mas se rendesse ao menos comida já lhe servia.
— Eai seu Zé, vim saldar a minha dívida com o senhor. - Disse o carioca ao entrar no lugar com um sorriso de fora a fora. E esse era um traço que Louis já havia percebido, o rapaz era muito bom de papo. — E cadê o dinheiro? Espero que não esteja de bolsos vazios como sempre. - Revirando os olhos o garoto prosseguiu. — Que nada eu trouxe uma coisa melhor que qualquer dinheiro nesse mundo. Meu amigo aqui. - Respondeu o jovem puxando Louis para dentro, soltando em seguida uma piscada para o mesmo. — Tá louco? A não ser que eu possa matar esse pobre fodido e vender os órgãos dele, ele não me serve de nada.
— E é ai que o senhor se engana. Pode não parecer muito, mas por trás dessa roupa suja e desse cabelo horrível existe um confeiteiro premiado, ele venceu os concursos todos de São Paulo e veio pra cá, mas coitado acabou sendo roubado quando chegou eu vi e fui ajudar claro. - Não sabendo se agradecia ou xingava Zayn pela apresentação ficou quieto, era um banho de mentiras, mas tão bem contadas que até ele se colocou a imaginar sua vida daquele jeito. Ela seria mais fácil naquele enredo. — Pois é, você pode não dar nada nesse cara, mas depois que esse povo comer um pão dele cabo, vendas lá em cima, qual é além de um pagamento a altura tô te dando a oportunidade de crescer!
O padeiro com os braços cruzados balançou a cabeça, conhecia a lábia fazia anos, sabia o que ele queria com aquilo, mas via que o pobre jovem que o acompanhava estava tão pacato e desnutrido que ficou com uma empatia considerável. E além de tudo seria mão de obra barata.
— Tá. Eu fico com o rapaz. - E assim percebeu que acabava de ser vendido por um cara que conhecia a menos de três horas. — Não vai se arrepender! - Exclamou Malik abraçando Louis como se de fato fossem bons amigos.
— Não fica preocupadinho não, eu venho toda quinta comprar pão, a gente vai se ver. - Aquilo poderia ser o início de uma amizade e uma vida, não a melhor do mundo claro, nem mediana, mas ao menos não uma vida tão ruim. E partindo com um sorriso aberto o garoto deixou o lugar, desta vez o paulista esperava que realmente voltasse a encontrar aquele doido.
— Então filho, vai lá atrás toma um banho e coloca o uniforme, bora ver se você sabe amaciar um pão bom da conta mesmo. - Sorrindo assentiu indo até o banheiro observando as paredes da cor mostarda.
— "Se você sabe amaciar um pão", eu vou é tomar no meu cu.
Colocando a mão sob o registro do chuveiro o ligou deixando o corpo relaxar como se fosse o primeiro banho de sua vida não reparou no toalheiro quebrado ou se quer na pia encardida com um sabão de barra pela metade na beirada, só estava preocupado em sentir a água quente cair por seu corpo, sentir o vapor se espalhando pelo banheiro, deixando com que sua mente vagasse para qualquer lugar. E foi ali que pensou ser definitivamente mais louco do que todos os loucos que tinham cruzado seu caminho até então, pois havia se deixando levar por toda a situação tinha sua parcela de culpa. Não resistiu o suficiente para sair do ônibus poderia ter feito abrirem a porta, nem se quer pensou direito sobre o emprego apenas o aceitou e também sobre o garoto que conheceu, - quais eram as chances de o encontrar naquela exata hora, no exato momento que precisava? - simplesmente foi, aceitou toda a sequência que o levou até aquele banheiro minúsculo, não sabia até onde chegaria com tudo aquilo apenas conseguia chegar a uma conclusão - o destino era mesmo engraçado. Mudar o seu rumo não seria tão fácil então após desligar o chuveiro e abrir os olhos percebeu que as vezes só viver talvez o levasse ao lugar certo ou de volta de onde saiu, mas só talvez.
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Faroeste Caboclo L.S
Hayran Kurgu"Se estiver passando pelo inferno, continue andando." - Winston Churchi Inspirado na obra original do Legião Urbana. Passar pelo inferno é o que Louis Tomlinson enfrentou por toda sua vida, com a hostilidade e o destino traçado. As coisas mudam qu...