a segunda briga

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Naquele mesmo dia, todos os garotos inclusive eu estávamos cansados. Tivemos que retornar ao campo grande e fazer os treinos. Correr e agachar e levantar vários troncos de árvores.

No Quartel, a gente podia se dispor de um grande salão de descanso. Havia sofar e almofadas fofinhas para aproveitarmos e se quiséssemos tínhamos disponibilidade de rede de internet e livros.

Eu não fiquei naquela sala, óbvio. Com aqueles ridículos homofóbicos, eu resolvi me recolher no conforto barato da minha cama de almofada mofada. Fechei a porta do dormitório e tirei a camisa. Havia hematoma em todo o meu corpo. O soco que levei do sargento me deixou com uma bochecha avermelhada.

Meu Deus, minha família estava feliz em me ver aqui. Irei retornar como um homem de verdade, segundo eles. Meus olhos encheram-se de lágrimas.

Então a porta se abriu, e Junior entrou no quarto. A julga pelo seu rosto ele ficou aborrecido em me ver ali, talvez tenha achado que o quarto estaria vazio. É, meu filho, eu cheguei primeiro. Não vou dá gostinho pra hétero me tirar de todos os cantos do quarto.

Eu peguei minha camisa meio envergonhado e vesti. Enquanto Júnior jogava o seu corpo imenso sobre sua cama e deitava de costas para mim. Era desagradável saber que nossas camas ficavam centralizada nas extremidades da paredes. Eu tentei me aconchegar na minha cama mais uma vez.

Às oito horas da noite. O sargento Quintamante havia chegado do seu horário de almoço. Senti um arrepio quando ouvi sua risada com o comandante, que me cumprimentou com um aceno de cabeça.

Eu caminhei pelos corredores do Quartel deixando Junio com a glória de ficar sozinho. Nunca tive interesse em fazer uma caminhada por ali. Eu passei por diversas portas e corredores com escada que achei estranho que aquele lugar grande poderia ser apenas um Quartel.

Foi quando passei por uma porta entreaberta que braços longos e magros me puxaram para dentro de uma sala desconfortável de produtos de limpeza. Na escuridão do ambiente em não conseguia distinguir o rosto do meu sequestrador.

- Sou eu bicha - era Mike num sussurro divertido.

- Que está fazendo aqui - sussurrei de volta. - chupando alguém, sabe que os dois últimos não foram bem recebidos com essa prática.

- Não seja ridícula! - cortou Mike enquanto eu ria - você está preparada!

- Para o quê?

- Para a briga com o Gato do Seu Quarto. Como é o nome dele, Ju...Ju...

- Júnior - eu estremeci ao pronunciar aquele nome.

Então eu me lembrei. Como eu não pude pensar nisso. O sargento havia marcado uma briga entre mim e o Júnior, mas eu nem levei a sério.

- Os garotos do meu quarto estão fazendo apostas para ver quanto tempo você vai durar em pé. Eles até irão levar o celular para medir o tempo.

- Ridículos. Eu não estou preparada, eu...Júnior me odeia, provavelmente estará feliz em me matar nessa próxima briga.

- Você é cheio de deboches e respostas na ponta da língua , mas não é forte o suficiente para dar uma boa surra nesse gostoso?

- Cala a boca! Sou uma garotinha que brincou de boneca e lavava as louças da minha mãe, não gostava de brincar de luta como o meu irmão e meus primos - esclareci de sobrancelhas impecavelmente desenhadas e erguidas no escuro.

- E os garotos que foram pegos se chupando - citou Mike - eles eram gatinhos. Você viu a panturrilha de um deles, meu Deus que panturrilhas.

- Eu não chutei eles. Pensei que não ia fazer isso também.

- Sabe - começou Mike - por um momento eu ia fazer resistência, mas aí pensei que eles faziam parte do grupo dos garotos que iam da gente quando faziam gracinhas com meu gosto sexual. Então fui pra cima.

- Está certo. Eu acho que não fui porque queria desafiar o sargento. - eu repensei sobre meu comportamento, será que eu de fato estava querendo me encaixar nesse mundo hetero e homofóbico? Eu, o gay mais afeminado que o meu pai ou meu irmão preferiam ver morto do que em uma mesa de uma festa de final de semana da família. Eu era uma vergonha para a família.

- Acho que não é saudável você desafiar ele. Ele está aqui para nos ensinar. Disseram que o negócio é duro aqui, até mesmo com gays ou negros, eles não fazem diferença, acho que é por isso que ele pega pesado com a gente.

- Não, acho que aqui é diferente. Se o local não tivesse homofóbicos que veem gays como uma lástima, acho que não tem haver com o local e se com o pessoal que compõe o local.

Mike ficou em silêncio. Então ouvirmos um barulho horrível de sinal de trânsito. Era uma espécie de sinal de escola.

Saindo as pressas para não sermos vistos em uma sala escuro nós seguimos o barulho irritante. Eles nos reuniram fora do quartel e ordenou para nos prepararmos para o treino noturnos. Era um novo horário de treinamento.

- Queria dizer, que em breve teremos grandes viagens. Vocês estarão armados e preparados para caçar em outros lugares. É por isso que temos que duplicar os treinamentos. Tudo bem para vocês, Saldado?! - disse o comandante, ele tinha indícios de ser uma pessoa de respeito não estava ali para brincar de comandar.

Todos nós gritamos de volta:

- Sim, comandante!

- Agora vou deixar vocês sobre os cuidados do sargento Quintamante. - ele se retirou, e eu engoli em seco quando vi ele.

- Vão se preparar para os treinos!

Todos nós nos retiramos. Antes que eu chegasse a entrada que levava aos dormitórios alguém me puxou pelo braço. Era o sargento, com seu sorriso feio.

- Hoje você irá enfrentar o Júnior, certo? - ele disse.

- Certo - respondi, e me senti ótimo quando vi seu sorriso morrer.

Eu ao desvencilhar do seus dedos eu massageei o local que ele me pegou.

Quando retornamos, uma tempestade não pareceu interessada em ver a gente treinar com nossos uniformes secos. Um chuva fraca que foi ficando forte conforme fazíamos os treinos deixou nossas roupas encharcada e nossos cabelos colados a testa.

Havia lanternas de luzes em vários portes, mas as luzes eram tão desagradáveis quanto os raios que cortavam os céu escuro.

- Chega! - gritou o sargento, ele estava debaixo de um guarda chuva. Olha, mais que fina ela!

Todos nós paramos com o treino de correr. E ficamos ao redor deles.

- Bom, como eu prometi senhores. Hoje o nosso adorável e preferido saldado Guilherme irá enfrentar o Saldado Júnior não é mesmo.

Enquanto vi garotos perto de mim ligar celulares e colocar no aplicativo do relógio para medir o tempo, eu me perguntei como o Sargento Quintamante sabia o meu nome. Eu nunca disse, será que alguém ali falou sobre mim, ou o sargento Quintamante estav mexendo nos meus documentos de inscrição?

- Vamos todos fazer um círculo. - os garotos obedeceram.

Na escuridão da noite chuvosa, eu vi o Júnior na outra extremidade do círculo. Me lembrei dele deitado na cama e senti que aquele momento foi a séculos.

- Vocês dois, se aproximem!

Eu e Junior nos aproximamos. Meu coração bateu forte. Mike tinha razão, o gay afeminado e debochado estava prestes a enfrentar um hetero forte que provavelmente odeia gays como odeia uma pelota de sujeira no sapato.

A gente se encarou. Ele ficava bonito molhado pela chuva, me encarava com raiva. Tentei fazer o mesmo, mas sentia que meu coração iludido merecia umas boas surras para parar de bater por pessoas que não valiam a pena.

GAY NO EXÉRCITO (não revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora