força e coragem

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O sargento pegou apenas no ombro de Júnior, como se tivesse deixando claro quem ele queria que vencesse essa merda.

- Quero uma briga justa. Quando estiverem sangrando o suficiente para podermos intervir, ou quando acharem que é necessário parar a gente de irá separar. Digo, eu e os garotos aqui, separaremos vocês.

Junior confirmou. Ele estava falando aquilo para mim, como se eu fosse pedir pra parar. Mas quer saber de uma coisa.Tudo bem se eu saísse dessa brigar, sangrando ou até mesmo morto. Mas-eu-não-iria-pedir-para-parar, irei lutar e sangrar até mostrar pra eles que a cor do meu sangue era idêntica aos deles e não colorida como acho que eles pensam que era.

- Estão preparados?

Não fizemos nenhum movimento comprovando que estávamos preparados.

- Lutem!

Uma trovoada retumbante iluminou os terrenos do Quartel como um tiro de aviso para iniciarmos a briga. Encarei Júnior, que parecia relaxado em relação aos meus movimentos.

Dessa vez não foi ele quem veio pra cima, foi eu. Peguei Júnior pelos braços enquanto ele me envolvia. Em segundos estávamos enrolados no chão em uma luta de força de braços.

Junior me acertou um murro forte nos lábios  que senti o gosto do sangue. Eu alcancei seu rosto com meus dedos e comecei a meter minhas unhas. Não havia unhas é claro, porque eu as comia por causa da ansiedade. Mas eu sabia que em algum ponto elas fizeram o que eu queria : deixar minha marca no rosto daquele infeliz.

Tive uma oportunidade e não deixei ela passar direto. Acertei um soco no nariz do Júnior e vi o sangue jorrar. Ele urrou de dor e ódio e eu percebi que estava ganhando vantagem. Fiquei sobre ele e me preparei para dar socos em seu rosto. Estava irado, fora de mim não só queria provar a todos ali que eu não era fraco tinha força e coragem!

Então, o sargento Quintamante me tirou de cima do Júnior no momento em que eu ia dar o primeiro soco.

- Vamos , saldado Júnior seja forte! - gritava o sargento Quintamante.

Entendi que eu era apenas uma peça naquele jogo. Ótimo, eu iria continuar sendo sem medo. Eu e Junior ficamos em pé, sujos e encharcados, ofegantes e com a visão turva.

Junior fungava incomodado com o sangue no nariz e eu me deliciava com o gosto do meu sangue.

Ele me olhava, me analisava como se fosse algo fora do comum. Queria saber o que se passavam naquela mente. Eu não era mais apenas um gay; ao seus olhos eu era um igual, um homem com força, que deu em cima da sua garota. E isso me deixou animado...porque eu não queria a garota dele.

Então nós dois avançamos ao mesmo tempo. Mais uma luta de braços e pernas. Ele me envolveu em um abraço pelo pescoço.

- Eu não quero te matar - ele sussurrou em meu ouvido, a respiração descontrolada.

- Eu não tenho medo de você! - respondi com ódio, ele achava que era homem o suficiente para tirar minha vida, pois bem vem com tudo, otário!

A gente se bateu de forma louca um no outro. E, a chuva continuou caindo. Os garotos observavam como se fosse um filme de porno. Acho que algum deles estavam até excitados com a cena. Enfim, seja o que for.

Junior reduziu suas forças contra mim que investia as forças mais banais mais descontroladas que havia em meu corpo. O aperto do seu braço em meu pescoço, pareceu um abraço carinhoso.

Então, ouvi ele gritar:

- Quero parar!

Meu cérebro parou de mandar forças aos meus músculos que pararam de lutar. Junior saiu de cima de mim, e ficou em pé, e me deu a mão para me ajudar a ficar de pé também.

Me levantei ignorando sua ajuda, sua mão continuou erguida. Uma decepção veio em seu rosto. Mas resolvemos encarar o sargento.

- Muito bom. Essa briga...eu não esperava... Júnior, você apanhou hein.

Ninguém riu diante das palavras do sargento. O pessoal ali parece ter um respeito pelo Júnior. Me pergunto se eu tivesse dito pra parar, se seria diferente. Provavelmente não, todos ia rir.

- Porque decidiu parar com a briga, Júnior? - quis saber o sargento no meio da chuva.

- Saldado se mostrou forte. - ele disse me indicando sem olhar para mim. Então ele era o jurado que decidia se eu era ou não forte. Me poupe, admita que você apanhou.

- Muito bom. Vocês aprenderam algo com essa briga? - sargento Quintamante perguntou. - para ser forte não precisa mostrar força, mas mostrar coragem. Sejam corajosos, e não forte.

"Vejam só, um Viadinho mostrou força, mesmo com pouca coragem" ele finalizou seu discurso.

- Não - eu respondi, os garotos ali ficaram tensos provavelmente ansiosos para ver o que eu tinha a dizer -, eu mostrei coragem e força veio conforme minha raiva - respondi irritado com aquilo.

O sargento me encarou, e me lançou um sorriso. E sabe, não era um sorriso feio como o de costume, mas um sorriso raro. Ainda sim achava ele um homofóbico.

No dia seguinte, a minha briga com o Júnior pareceu ser a novidade do dia. Quando me levantei para o café aquele dia seguinte, senti que ganhei uma batalha.

Era como se os garotos tivessem me dado um respeito quase apertado ali dentro. Quando eles me olhavam desviavam os olhares com medo que eu fosse dar uma chave de braço neles.

Júnior, por sua vez, estava com o rosto cheio de marcas. Fiquei feliz que minhas unhas comidas conseguiram atingir algum objetivo.

Júnior parecia descontraído diante daquela situação toda. E ninguém ali, se atrevia a fazer brincadeiras na frente dele, pois suponho que seu jeito carrancudo ainda metia um certo medo.

O único que parecia decidido a mostrar resistência diante da homofóbia contra a minha pessoa era o Júlio. Ele dizia em altas vozes que preferia dormir na floresta do que ficar em um quarto com um gay que poderia lhe abusar sexualmente. Eu rebatia:

- Se seu pênis for tão interessante quanto o que eu tenho aqui entre minhas pernas, pode ter certeza que sim eu irei lhe abusar sexualmente, se não, você e seu pênis não significam nada para mim.

Ele se retirava com seu ódio retraído e falava para um e para outro o quanto me odiava.

Não vi mais notícias sobre os dois garotos que foram pegos se chupando. Talvez a prática seja tão comum entre os "homens" do quartel que acho que para eles falar sobre isso é mexer em um papo de homem que a gente só encontra em banheiro público masculino, se que me entende.

Naquele mesmo dia, Mike sentou em minha mesa com um ar de superioridade.

- Sabe das novas?

- Não - disse retirando os olhos do Júnior a uma mesa de distância.

- Se colocarem a gente na floresta de novo e sozinhos... - ele fez uma pausa dramática antes de prosseguir - Iremos fazer uma festa.

- Sério. Mas e quanto a regra de não ter festa. E o que vai ter nessa festa, suco de morango em pó, gosto de suco de maracujá em pó, é azedo e agradável . - eu disse prático e ácido.

- Não! Deixa eu te contar. Um dos garotos, tem uma casa aqui por perto, eles disseram que lá tem bebida para por o mundo inteiro bêbado.

- É daí - disse.

- E daí que iremos aproveitar. E você vai comigo.

- Espera , espera, espera - eu disse , alguma coisa errada não estava certa - quem convidou você? E como esses garotos descobriram isso?

- Se abaixa mais um pouco que vou te contar: Sabe o garoto que eu deu uma surra naquele dia? - concordei - Bom, ele tem meio que um respeito por mim por eu ter batido nele. Aí ele criou laços comigo por medo, é hétero que não tem preconceito, sabe. Então ele quem tem um amigo que está aqui com a gente, e esse amigo tem uma casa por perto daqui. Além disso, sabe aquele dia que a gente foi dormir na floresta. Bem um dos grupos dos garotos ficaram explorando a floresta e descobriram que existe uma saída que leva até a casa desse cara. Então, ele e o garoto que bati se juntaram e estão planejando fazer essa festa. Você vai né, estou super afim de beber um pouco , isso aqui tá muito chato.

- Bom, se isso conta como um desafio ao sargento. Eu tô dentro.

GAY NO EXÉRCITO (não revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora