Prólogo

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Ter uma faca rente ao seu pescoço, pode fazer uma pessoa repensar sobre toda a sua vida, foi o que Harry concluiu. Completamente imóvel e estático, o ômega observou enquanto o alfa forte e de estatura alta, o arrastava para um beco escuro, que cheirava tão mal quanto ele. As pálpebras do ômega se fecharam, cobrindo os belos olhos verdes repletos de pavor e desespero ao vislumbrar em sua mente todos os acontecimentos dos últimos dois dias.

Harry vivia como um cidadão comum em uma cidade pacata cercadas de habitantes que desconheciam o que os rodeavam. Alfas, Ômegas e Betas. Para eles, aquele assunto não passava de boatos e de lendas contadas por seus ancestrais. Ninguém jamais havia visto um. Mas o que não imaginavam , era que o misterioso lobo que atacava caçadores na floresta e a beira da estrada, se tratava de um alfa sedento por sangue. Um alfa cruel e faminto.

Harry sempre ponderou sobre isso. Talvez o lobo fosse um daqueles nascidos em meio a floresta, criado como um predador sem escrúpulos com sede de sangue humano, pensou ele.

O ômega jamais se atreveu a andar por aquela floresta escura e temida. Sua vida nunca fora fácil e durante toda sua infância sofreu nas mãos daquele que dizia ser seu pai. Mas tudo parecia piorar a cada dia, e Harry apenas desistiu de tentar entender quando foi raptado por Betas e trazido para essa cidade como uma espécie de troca.

Todos os Ômegas ao seu redor foram brutalmente assassinados de maneira rápida e covarde. Harry estava assustado. Um medo incontrolável inflou dentro de seu corpo com tanta intensidade que ele achou que fosse desmaiar. Levou alguns minutos para que conseguisse se acalmar e mesmo estando gravemente ferido, ele conseguiu fugir e se arrastar durante quilômetros. Foi quando encontrou Jhon, outro ômega perdido e assustado.

Eles foram encontrados, mas Jhon não teve a mesma sorte que o Harry. Não que tenha sido sorte ser capturado mais uma vez por um alfa bêbado e imundo.

Harry deixou um baixo e suave gemido de dor escapar, quando seu raptor o empurrou contra uma parede fria e a lâmina arranhou sua pele. Mais uma vez teve que juntar todas as suas forças para não ficar cego de medo.

O ômega sabia exatamente o que aconteceria a seguir. Seu corpo seria violado e logo em seguida esfaqueado até a morte pelo alfa que se livraria do seu cadáver em um lugar distante , sujo e fétido.

Não parecia sorte estar vivo agora, pensou Harry, ao pensar nos horrores que aconteceria consigo em questão de segundos. Ele precisava se manter forte e se concentrar em apenas fugir. Escapar daquele homem que o mantinha refém sob uma faca afiada.

Harry fechou seus olhos e se concentrou. Não era comum se transformar em um grande lobo de pelo branco e olhos amarelos, mas acontecia quando estava em apuros. O ômega ainda não conseguia controlar e tampouco entendia o porquê de não conseguir se transformar em um momento como o que estava vivenciando agora.

— Ômega... — murmurou o brutamontes, enquanto ajeitava a faca sobre o pescoço dele — Pensei que estivessem todos mortos. — o alfa inspira o cheiro do ômega, se deliciando com o aroma doce e lascivo — Os alfas pagariam uma grana alta por você. — ele baixou os olhos avermelhados para Harry que negou, balançando a cabeça lentamente em uma súplica silenciosa — Isso ou o levarei comigo.

O ômega fechou seus olhos outra vez, deixando que algumas lágrimas deslizem pela pele alva das suas bochechas. Ele sabe que não conseguirá se transformar. Está fraco e amedrontado.

— Você não fala? — o homem volta a falar, se irritando pelo silêncio do ômega — Responda-me, ômega idiota! — Harry se manteve quieto, enquanto encolhia os ombros — Não me faça...

— Carl? — indagou o homem alto e musculoso que havia surgido no beco. Ele se aproximou do alfa que ainda mantinha Harry sob a lâmina afiada da faca — O que está fazendo?

— É um ômega. — os dois homens se entreolharam com uma mistura de malícia e curiosidade em seus olhos frios e escuros. Harry sabia o que viria a seguir e aproveitando a distração do seu raptor, acertou-lhe entre as pernas com seu joelho e correu para longe, ignorando o medo, o desespero e o desamparo que sentia naquele momento.

Harry forçava suas pernas a irem mais rápido, porém os ferimentos e a dor sentida o impedia de ser ágil naquele momento . O ômega podia ouvir os alfas logo atrás de si, o que aumentou ainda mais o seu terror.

As ruas da cidade estavam completamente vazias e escuras com um ar pós apocalíptico que arrepiava cada pedaço da sua epiderme trêmula. O céu se dispunha de nuvens escuras e carregadas, com uma brisa fria que se chocava contra suas bochechas , queimando sua pele corada pelo frio. Havia uma névoa intensa se apossando da cidade que impedia Harry de enxergar aos arredores.

Ele continuava correndo sem olhar para trás, sentindo o ar faltar em seus pulmões. Agora sozinho, seus pensamentos estranhos e desagradáveis se tornavam mais ainda mais intensos.

Harry apenas parou de correr ao se dar conta de que não situava-se mais na cidade e sim em uma floresta escura e horripilante. Aterrorizado, o ômega abraçou seu próprio corpo , enquanto fitava os seus arredores.

Ele deus passos vagarosos e hesitantes, pisando contra as folhas secas que produziam sons, entregando sua presença no local. Harry parou outra vez, se surpreendendo pelo imenso silêncio que se apossava da floresta. Sua respiração ofegante era o único som presente, até que um ruído chamou sua atenção, assustando-o.

Harry virou-se na direção do barulho, enquanto dava passos para longe do arbusto que se mexia e antes que pudesse correr para longe, um grande animal surgiu por entre as folhas, o apavorando. Se tratava de um lobo com coloração acinzentada, apresentando tons mais claros próximo ao focinho e as orelhas e um tom escuros em suas patas. Seus olhos aparentam uma coloração azulada, com anéis verdes e amarelos ao redor das suas orbes.

O lobo se aproxima do ômega, exibindo seus dentes e suas presas afiadas enquanto rosna, prestes a atacar Harry que possui um olhar amedrontado. Ele sabe que não conseguirá fugir. Aquele lobo irá rasgar sua pele e destroçar seu corpo em um piscar de olhos. Não há uma mínima chance de sobreviver diante o ataque.

Black Out Days  ✧ l.s • ABO •Onde histórias criam vida. Descubra agora