Lauren POV;
Ao longo dos dias mentalmente desafiadores que atingiram uma semana, eu tinha chegado à conclusão que não estava perdendo a merda da minha mente como eu previa estar, eu tinha estado apenas confusa num redemoinho de terríveis memórias e realidades nubladas. Eu apenas pensei que estava perdendo o juízo quando tinha realmente perdido. Mas o lodo tinha lentamente desaparecido e a confusão tinha ficado em ordem. A cada segundo que olhei para a Camila e para o seu terrível uniforme, a memória se movimentava. Como quando eu olhava para os seus lábios e de repente podia me lembrar claramente de os beijar numa cela escura, por uma vez, éramos apenas só nós. Olhar para aquele terrível uniforme azul me lembrava dela num ainda pior, branco com mangas curtas e forma estranha. Também me lembrava do seu colarinho cortado um pouco baixo e a bainha apenas ligeiramente pequena, fazendo que nela não se parecesse tão horrível. Eu me lembro dos seus olhos quando olhava para eles vendo como as minhas palavras a afetavam. Eu me lembro deles chocados, assustados, confusos, alegres, adoráveis, e tudo o que se parecesse.
E com memórias dela vieram memórias que a envolviam, e mais memórias envolvendo essas memórias. Cedo, regressei ao normal que era quase normal. Quase. Continuava havendo alguma coisa ali. Algo na parte mais profunda da minha mente que roía os meus pensamentos, recolhendo os meus sentimentos e impulsos. Como se uma recordação energética surgisse através de cada nervo e músculo. Era uma sensação nervosa como quando você está numa emocionante montanha russa, exceto desta vez com mais nervos sinistros. Eu me sentia ansiosa em vez de animada.
Mas estava tudo bem, porque eu sabia que esta cruel punição iria ter alguns efeitos colaterais. E eu podia lidar com as ondas espontâneas de estranha ansiedade, porque pelo menos eu me lembrava. Eu me lembrava da Camila e de tudo aquilo que éramos, tudo o que eu senti quando estava com ela. Também me lembrava da Ariana e do meu ódio por ela. Isto para não falar da sua monstruosa mãe. Imagens da minha própria família dominavam os meus pensamentos, apesar dessas memórias terem sido deixadas para trás a muito tempo.
Todas estas peças começavam lentamente a se unir, e eu estava quase completando o quebra-cabeça. Mas umas poucas peças ainda continuavam a faltar; como uma mistura de impulsos anônimos. E pesadelos. Os pesadelos eram os piores. Como uma silhueta de horror, uma imagem fantasmagórica de um dos meus piores pesadelos. Exceto nestes pesadelos, eu nem sabia o que o medo era. A memória bloqueada era forte nos meus sonhos embaçados, e o fato de eu não saber o que estava me assombrando ainda me assustava mais.
Mas ainda pior era quando os pesadelos eram mais claros. Eu sonhava com coisas que odiava recordar, odiava até pensar sobre isso. Então, ao invés disso, escolhi não o fazer e acendi um cigarro, colocando-o entre os meus lábios. Eu precisava realmente parar de pensar nestas merdas, eu sabia disso. E seria hoje.
Encostei a minha cabeça contra a parede, me sentando na cama elástica com as minhas pernas juntas ao meu peito. Uma corrente de fumo dispersou-se pelo ar, pintando rapidamente um rastro branco antes de desaparecer. Quando limpei toda a fumaça que restou, a escuridão que manchava as paredes e as imagens dos meus terríveis pesadelos acabaram aparecendo através delas.
Camila POV;
A única pessoa que eu tinha neste solitário local estava voltando lentamente a si mesma. O seu sorriso era cheio e deslumbrante mais uma vez, e eu observava os seus olhos aborrecidos ficando mais brilhantes ao longo dos indetermináveis dias. A Lauren estava tão perto de se tornar novamente na Lauren. Claro que perguntas continuavam a serem feitas e confusão continuava a ser evidente no nó das suas sobrancelhas, mas as suas frases eram fluentes. Ela falava com aquela familiar voz profunda achocolatada, e até fez alguns comentários sarcásticos.
No início estava um buraco no lugar do conforto, parecendo que apenas o meu conforto não fosse total. Mas quanto mais jogos de tabuleiro jogamos, quanto mais jogos de cartas lhe mostrei, quanto mais atividade no seu cérebro fosse estimulada, as coisas pareciam ficar mais claras para ela. Quanto mais conversávamos, as suas poucas palavras quebravam em gaguejos ou desapareciam no absurdo. E ela fez isso tão rápido, nunca deixando de me surpreender. Com o seu progresso o buraco foi remendado enquanto eu me sentia confortável novamente com a sua presença. A Lauren estava melhorando, e o plano maquiavélico da Sra. Jude para tentar nos "quebrar" não parecia resultar.
Ainda não, dizia o meu consciente. Mas dispensei o pensamento o mais rápido que pude quando ele chegou. A Lauren tinha quase se recuperado numa semana, e ela podia apenas melhorar. Não piorar. Não piorar o suficiente para satisfazer a Sra. Jude.
Isto apenas se confirmou quando ela entrou no refeitório. Havia um grande sorriso nos seus lábios de cereja. Os seus longos cabelos escuros estavam como sempre; em ondas bagunçadas para o lado, saltando ligeiramente enquanto ela se dirigia para a mesa. Eu não consegui esconder o sorriso quando ela se sentou ao meu lado.
- Olá. - Eu disse.
- Oi. - Respondeu.
- Como se sente? - Isto era sempre o que eu perguntava primeiro, para uma pequena atualização do seu progresso.
- Me sinto um pouco melhor até. - Ela disse.
- Isso é bom.
- Sim. Eu acho que estou me sentindo muito melhor em geral. Eu não sinto muito ódio hoje mas sim amor. Eu me sinto mais... apaixonada em relação a certas coisas.
- Amor? - Repeti, não sendo capaz de não perguntar.
Lauren assentiu lentamente. Os seus olhos verdes encaravam alguma coisa invisível.
- Sim, eu me lembro de sentir amor. Eu não me lembro por quem exatamente, mas havia alguém definitivamente.
O meu coração vibrou no meu peito quando ela falou, e eu não podia esconder a euforia que cresceu em mim. Era eu a pessoa que ela amava? A Lauren me amava?
Eu não perguntei alto, esperando que ela descobrisse por si mesma. Ela iria conectar aquele sentimento de amor a um pensamento e se lembrar eventualmente; eu só espero que seja um pensamento sobre mim.
Mas enquanto eu ponderava, Lauren já parecia estar noutro tema.
- Quem é aquela? - Ela perguntou, olhando na direção de uma mesa que estava na diagonal da nossa.
Sentada numa cadeira ao lado estava uma mulher não muito mais velha que eu, com o seu cabelo ao comprimento dos ombros e negro. Era difícil dizer desta distância mas eu achava que seus olhos eram castanhos e sua pele era escura e brilhosa.
- Não faço ideia. - Eu disse. - Acho que ela é nova.
A mulher estava sentada e olhava à volta da sala, vigiando-a, não muito assustada mas curiosa. Eu nunca tinha visto-a antes.
- Oh. - A Lauren disse em resposta. - Ela parece diferente do resto.
E ela parecia. O seu cabelo parecia limpo e livre de sujeira, e ela não parecia triste, assustada ou zangada como o resto dos pacientes; apenas curiosa. Eu não sabia nada sobre ela, exceto pelo fato que assim que eu e a Lauren começarmos a falar novamente com os pacientes, ela iria ser a primeira com quem eu iria querer falar.
Mas antes de fazermos isso eu queria esperar mais uns dias, apenas até ter a certeza de que a Lauren estava completamente recuperada. Eu não queria correr o risco de a confundir ainda mais.
Parecia que a Lauren estava me confundindo mais do que eu estava a confundi-la, embora novamente de outra forma.
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Weckleniffe
RomanceUma nova paciente chega em Weckleniffe. Seu nome é Lauren Jauregui; Camila é uma enfermeira que trabalha na instituição. Lauren é diferente, ela é obscura, intimidante e inteligente com cada movimento seu. Havia muitos segredos escondidos por trá...