A neve interrompida em chuva era o que se via da janela do lado de fora. Cobria as ruas frias de Londres e fazia um grande ar gelado. Uma nevasca estava acontecendo fora dos muros, as crianças não podiam sair e construir bonecos de neve.
Eu tinha me esquecido em que mês estávamos há muito tempo. Era Novembro? Dezembro? Na verdade, eu nem me importava.
Weckleniffe tinha aquecedores para manter os pacientes aquecidos. E mesmo assim, o ar gelado atravessava as paredes e todos se tremiam. Reclamações eram feitas para trazer o calor ao invés de o afastar.
Mas agora, neste exato momento, o meu corpo estava suando. Eu sentia um enorme calor percorrer o meu corpo. Começava no coração e com cada batida, dirigia-se aos meus dedos e pernas. Um incêndio acontecia no meu peito, o diabo com seu tridente estava envolvendo meus pulmões, me roubando a respiração. As minhas costas pareciam em chamas, o calor me dava dor. Eu não conseguia falar. Eu não conseguia respirar. Eu não conseguia pensar.
E eu conhecia essa sensação. Era rara e estranha, mas eu conhecia. Era a mesma sensação que tive quando soube da morte de Emily. Pânico e raiva.
Eu não era uma mulher muito boa e tinha feito coisas que não me orgulhava. Mas se havia uma coisa boa que eu fiz neste mundo, era amar Camila com todo meu coração. Ela era tudo o que eu tinha. Não me importava a família, posses, dinheiro. Apenas ela. E agora Weckleniffe estava querendo tirar a minha última gota de sanidade. Então, eu entrei em pânico.
De repente, eu estava de pé. Não me lembrava de levantar. Os meus olhos percorreram a sala em busca de pistas para o que tinha acontecido naqueles últimos segundos. Livros de Psicologia estavam espalhados e abertos pelo chão. Havia canetas e lápis à minha volta. A minha garganta estava seca e eu respirava pesadamente. Eu não me lembrava muito bem do que aconteceu à uns segundos atrás, mas aos poucos tive flashs e vislumbres das minhas mãos tremendo e batendo violentamente na mesa de madeira e gritos saindo da minha boca. Não me lembro das palavras exatamente, mas provavelmente era "porra" e muitas outras vulgaridades.
– Está tudo bem aqui? – Brad perguntou assim que abriu a porta.
Ele não tinha falado comigo, mas me olhava. Agarrou meu braço e começou a me tirar dali sem resposta.
– Não! – Disse Dinah antes de nos afastarmos mais. – Está tudo bem, a culpa foi minha. Eu estou bem. Eu devolvo-a quando a sessão acabar.
– Tem certeza? – Brad perguntou.
– Sim. – Suspirou Dinah, forçando um sorriso.
Ele não parecia convencido. Mas depois de me olhar de forma cética e analisar a sala, ele saiu e fechou a porta finalmente.
Olhei para Dinah, que estava no chão pegando suas coisas e eu me senti pouco culpada. Eu não gostava muito dela mas não era sua culpa. Ao menos ela estava me ajudando a fugir.
– E-Eu sinto muito. – Murmurei. E era verdade. Eu estava com tanta raiva da Sra. Jude, da Ariana, de Weckleniffe, mas a culpa não era da Dinah.
– Está tudo bem. – Ela disse com uma voz calma e simpática que eu nunca tinha ouvido antes.
– Não, não está. – Argumentei e em seguida me abaixei para juntar alguns livros do chão.
– Lauren, suas mãos estão tremendo. – Apontou Dinah.
E estavam. Eu estava tremendo e segurava as lágrimas, eu estava com tanto medo. Mas eu ignorei e tentei continuar limpando o desastre que tinha feito.
Eu não queria lhe dar uma resposta e não tinha nenhuma. Eu não me sentia pronta para conversar. Porque cada ingestão de respiração era uma imagem da Camila numa cama cirúrgica, a minha mente repetia imagens terríveis e eu podia perder minha sanidade novamente.
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Weckleniffe
RomantizmUma nova paciente chega em Weckleniffe. Seu nome é Lauren Jauregui; Camila é uma enfermeira que trabalha na instituição. Lauren é diferente, ela é obscura, intimidante e inteligente com cada movimento seu. Havia muitos segredos escondidos por trá...