I can't let her go

17.1K 802 776
                                    

O tabuleiro de Lauren estava abandonado juntamente com as teias de aranha no canto da cela. O chão em baixo era cimento; frio, cimento cinza. As paredes eram feitas de tijolos escuros e o teto era similar. O colchão elástico era coberto de lençóis brancos amassados, o que noutras celas eram manchados de manchas anônimas. Havia uma almofada fina no fim da cama. E era isso. Uma almofada, lençóis e um uniforme; estas eram as únicas coisas que Lauren Jauregui tinha adquirido neste tempo em Weckleniffe.

Muitos pacientes, mediante o pedido, podem obter um livro ou um cobertor extra ou até mesmo um poster se quiserem. Mas ela não tinha pedido nada destas coisas, deixando seu quarto quase nu. Apenas à uns momentos atrás eu não estava consciente deste fato, com o mundo se derretendo à minha volta enquanto eu aprecisava os beijos dela. Mas agora esses beijos tinham sido interrompidos, e tudo voltou à superfície. Cada detalhe do edifício, cada buraco e rachadura na estrutura, cada camada de poeira visível. Porque isto não era apenas um mundo onde Lauren e eu podíamos compartilhar o contato dos nossos lábios; isto era uma instituição mental para criminosos loucos.

Ainda assim, era bom esquecer as preocupações transbordantes e os misteriosos eventos, dando um lugar na minha vida para um pequeno e precioso momento. Eu estava perdida demais nela para reparar em Rosemary. E tudo voltou novamente para a minha mente com uma explosão de pressão. O que seria de mim, o que seria de Lauren se a Sra. Jude descobrisse? O meu coração batia, os meus nervos ganhavam mais uma vez.

– Merda. – Lauren xingou. Foram as primeiras palavras que ela disse num total de dois minutos. – Esse foi um beijo do caralho, Camila Cabello.

Eu me virei para ela e a vi sorrir. Sorrir.

– Lauren, ainda não percebeu que estamos metidas numa encrenca? – Perguntei.

– Oh sim. Estamos fodidas.

Olhei para ela perplexa.

– Então por que está sorrindo?

– O quê? – Perguntou ela inocentemente. – Só porque nós vamos arranjar um monte de problemas, não quer dizer que eu não tenha gostado do que aconteceu.

Abanei a minha cabeça com a sua indiferença. Quer dizer, eu também gostei do beijo. Provavelmente mais do que devia. Mas eu não podia deixar isso me cegar ao fato de Rosemary ter testemunhado o nosso caso. Ela tinha visto o que nós estávamos fazendo, ela tinha visto o corpo de Lauren sobre o meu. E julgando pelo que eu sabia sobre ela, ela iria definitivamente contar à diretora. Era como se estivessemos na escolha e ela fosse a aluna preferida da professora. Ela tentava desde sempre ser como a Sra. Jude, ordenando as pessoas à volta só porque estava aqui desde que nasceu. Mas eu não podia culpá-la. Isso não era culpa dela. Era minha.

Eu fui estúpida. Eu não queria que este beijo acontecesse. Eram os lábios cheios de Lauren, o trovão da sua voz rica, a suavidade da sua pele. Isso era tudo o que eu tinha presente nos meus pensamentos, o fato de alguém poder nos ver nem sequer me passou pela cabeça. Se eu estava tão imersa nela, eu podia ter a decência de traçar uma linha. Não importa o quanto eu gosto dela, eu sabia que beijá-la não era permitido. Pelo menos não aqui.

Mas as linhas e as morais tinham se difundido debaixo da posição encantadora de Lauren. Agora o que estava no meu pensamento era a preocupação iminente sobre o possível castigo, e o pavor de tudo aquilo em que eu podia estar metida. Quem sabe o que a Sra. Jude ou até mesmo Ariana iriam fazer. Eu estava provavelmente tirando conclusões precipitadas, ela não iria tão longe por um simples beijo. Mas nunca pode se ter a certeza e a possibilidade continuava a ser suficiente para me fazer estremecer. Eu só esperava que a Lauren ainda não tivesse chegado a esta conclusão, e pela aparência do seu sorriso, ela ainda não havia chegado.

WeckleniffeOnde histórias criam vida. Descubra agora