Passamos algumas horas conversando, principalmente sobre como eu era ótima lutando e sobre como era pra ele administrar a gangue sozinho, quando anoiteceu, comecei a ficar com fome e pedi que Hanma me levasse para casa.
Ele não contestou.
Quando paramos em frente a casa, desci da moto.
- Está entregue - Ele sorriu, retribui.
- Adorei o passeio, obrigada, me fez esquecer o estresse do dia.
- Sempre que precisar - Ele fez um sinal de saudação, parou por uns segundos e mordeu o lábio antes de falar - Acho que você não gosta muito dessas coisas, mas você é uma garota muito forte e adoraria ter você na Valhalla.
- Não sei se isso é pra mim...
- Tudo bem, não é um ultimato - Hamma soltou uma risadinha - Mas se em algum momento mudar de ideia, vai ter um lugar vago ao meu lado.
Sorri mais.
- Será o primeiro a saber.
Nos despedimos, ele acelerou a moto e se foi pelas ruas escuras.
Quando abri o portão, meu celular tocou, olhei o nome de minha madrasta brilhar do visor, atendi depois de um suspiro.
- Oi.
- Olá minha garota! Como estão as coisas aí?
Abri a porta, fui tirando meu sapatos.
- Tudo certo.
- Não minta, acha que não sei das coisas? Takemichi falou com a sua mãe, e ela falou comigo - Revirei os olhos.
- Está tudo bem, ele é muito exagerado!
Comecei a entrar na sala.
- Já estou sabendo que saiu de moto! Você está tomando os remédios? Sabe que não pode alimentar seu vício! - Ela começou a falar e eu revirei os olhos - Se você não se cuidar eu vou aí cuidar de você!
- Não! - Quase gritei, soltei um suspiro - Eu prometo que vai ficar tudo bem, ninguém vai descobrir nada sobre aquelas coisas e eu vou ficar longe dos vícios.
- É bom mesmo! - Ouvi um suspiro da parte dela - Só quero que fique bem querida, não quero que aconteça nada como da última vez.
- Não vai acontecer - Eu estava subindo a escada para meu quarto - Preciso ir agora.
- Tudo bem, qualquer coisa me ligue, vou atender a qualquer hora!
- Certo, amo você.
- Eu também, boa noite.
Desliguei o celular e abri a porta do meu quarto.
- Merda! Tudo uma merda! - Joguei o celular na cama e me sentei no chão, minhas mãos foram para meu rosto e senti lágrimas quentes, arranhei meu rosto com as unhas curtas, olhei para o espelho do armário - Eu odeio você! Por que tem que ser tão problemática! Não podia ser normal?!
Meu celular tocou, eram os remédios, abri a caixinha e os peguei.
Aproveitei e peguei um calmante pra dormir.
Tomei todos com uma garrafinha de água que mantinha comigo.
Depois de alguns minutos eu adormeci.
E o pior, eu sonhei.
Eu estava novamente naquele corredor, no meio de uma roda de pessoas que riam com expressões nojentas, me chamavam de louca, de doente, tentavam me humilhar, meu controle não estava mais aguentando.
As vozes gritavam "Doente!"
Minha cabeça gritava de volta "Eu sei que sou!"
Lágrimas quentes escorriam, meu coração batia acelerado.
Ouvia risadas ao meu redor além dos xingamentos, eu estava tonta.
Uma daquelas garotas loiras veio na minha direção e empurrou meu ombro.
Eu perdi o controle.
Me lembrava depois disso só de acordar em um hospital.
Quando fui tentar me sentar, notei que meus braços estavam amarrados.
Forcei as amarras e alertei a presença de minha madrasta na poltrona, eu nem tinha visto ela ali.
- Yumeko - Ela me olhou com aquela expressão, aquele de que todo o esforço tinha sido em vão, comecei a chorar, ela passou a mão no rosto e suspirou.
- Me desculpe! - Pedi chorando - Eu machuquei alguém?
Ela me olhou por alguns segundos e tive minha confirmação.
- Você vai tomar remédios mais fortes agora - Ela mudou o assunto, se levantou e pegou seu celular - Tenho uma reunião com seu pai e alguns advogados, depois eu volto e aviso pra onde você vai.
- Como assim pra onde eu vou? - Perguntei com voz de choro.
- Ela morreu, Yumeko! - Disse ríspida - Não vai ser questão de internar você agora, está sendo acusada!
Arregalei meus olhos, achei que tinha machucado alguém, não matado.
Comecei a não conseguir respirar, as lágrimas desciam em torrentes e eu comecei a suar frio.
- Droga... - Ela murmurou, apertou o botão do quarto e enfermeiras entraram, eu ainda não estava bem, elas me deixaram mais nervosa.
Uma delas pegou uma seringa, eu odiava elas, não aguentava mais aqueles furos em mim.
Comecei a me debater na cama tentando me soltar das amarras nos pulsos.
- Não! Por favor! - Eu me debatia, as enfermeiras xingaram baixo e dois homens entraram, eles seguraram meus braços enquanto eu continuava me debatendo - Me soltem! Não podem fazer isso! ME SOLTEM!
Acordei com alguém me balançando, Takemichi estava na minha visão, sentei rapidamente na cama me afastando.
Atrás dele estavam Mikey e Draken.
- Saí daqui! - Falei alto para Takemichi, estava sem respirar direito, tentei me levantar da cama mas cai.
- Você tava gritando! - Ele passou o braço pela minha cintura.
- Eu preciso... da minha bolsa - Pedi baixo com lágrimas escorrendo, o ar não entrava.
Draken foi quem teve a melhor reação, ele pegou a bolsa na mesa e trouxe até mim.
Abri rápido e peguei as seringas, minha visão estava embaçada, estava hiperventilando.
Puxei a tampa da seringa vermelha, para casos de crises extremas, me soltei de Takemichi, peguei o elástico na bolsa e enrolei no braço, puxando ele com os dentes.
Dei apenas dois segundos e injetei o calmante na minha veia que saltava no antebraço.
Instantaneamente senti um alívio.
O ar voltou a entrar nos meus pulmões.
Joguei a seringa em um canto e soltei o elástico.
Ainda estava ofegante, meu corpo tremia.
- Você tá bem, nee-san? - Takemichi perguntou baixinho.
- Tô sim - Murmurei.
- Isso foi igual a... - Ele começou mas eu cortei.
- Sim, eu sonhei com aquele dia - Respondi seca enquanto tentava voltar a mim.
- Como podemos te ajudar?
Olhei para o dono da voz, era Draken.
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Yuiitsui 卐 Tokyo Revengers
FanfictionCom um passado conturbado, Yumeko finalmente sai do reformatório. Ela vai morar na casa do seu irmão Takemichi e lá descobre que ele tem amigos interessantes. Mas o passado não fica em segredo por muito tempo. Yumeko pode ser doce, tímida e fofa, ma...