24 - Corra!

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– Café? – Rindou falou assim que saímos da reunião.

– Por favor – Falei.

Nos mais de dois anos que se seguiram, Rindou virou um grande amigo pra mim, ele me ajudava, me ensinava, nos saíamos juntos pra comer e quando eu não queria ficar sozinha, ele estava lá.

Andamos pra fora do esconderijo e entramos no carro.

Ran apareceu correndo.

– Se fossem sem mim, eu ia matar vocês – Ele brigou baixinho.

– Sabe que nunca iria sem você amorzinho – Brinquei debochada.

Eu e Ran vivíamos uma relação de amor e ódio, ele havia me ensinado muito, assim como Rindou, mas havia um interesse a mais ali, nos doís sabíamos, já havíamos trocado alguns beijos e carícias, mas nada mais que isso, ele sabia que eu não estava pronta e talvez nunca estivesse, não depois de tudo o que aconteceu...

Rindou ligou o carro e o conduziu até o centro de Tokyo, verifiquei o horário no meu celular, não queria me encontrar com nenhum deles por aí.

Eu não falava com ninguém da Toman a pelo menos dois anos. Eu havia cortado totalmente os laços, disse para Takemichi que só voltaria a vê-los no dia que eu tivesse o controle necessário para não machucar nenhum deles.

Desde então, eu fico na Tenjiku, sob o nome de Yuiitsu, assim os meninos da Toman não saberiam que era eu. Nas lutas de gangue, eu aparecia com uma máscara preta, deixando somente meus olhos de fora, e como havia mudado meu cabelo, eles pareceram não notar.

Entramos no café e fizemos nossos pedidos, eu gostava muito desse lugar, apesar dos irmãos não saberem por que, mas pelo menos quatro vezes na semana, eu parava no banco do outro lado da rua e via Mikey e Draken entrarem ali e comerem.

As vezes meu peito rasgava de tanta saudade deles, de todos eles, então eu tinha uma rotina que me permitia ver eles algumas vezes na semana.

– No que tanto pensa? – Rindou me perguntou me tirando dos meus devaneios, apoiei a o queixo na minha mão.

– No passado...

Eles ficaram em silêncio alguns segundos.

– Vai poder vê-los logo, você está quase perfeita, Izana fez um ótimo trabalho – O mesmo falou com um sorrisinho, devolvi um sorriso a ele.

– Tenho saudades, principalmente do meu irmão – Suspirei – Mas todos os meninos... Eles foram importantes mesmo que no pouco tempo que estivemos juntos.

– Eu sei – Rindou não tirava o olhar meio triste de mim – Eu sei que eles estiveram com você mesmo depois de tudo, mas era necessário que se afastasse para não machucá-los.

– E aí veio nos machucar – Ran murmurou enquanto mexia no celular, senti o duplo sentido na frase.

– Pois é, ainda sinto alguns dos seus socos nas minhas costelas! – Rindou riu fazendo uma expressão sofrida.

Não era aquilo que Ran queria dizer, ele estava falando que assim que eu ficasse "perfeita" como Izana diz que irá me transformar, eu irei embora.

Mal sabe ele que talvez eu não conseguisse.

Nossos pedidos chegaram e começamos a comer, não conversamos muito, até que eu ouvi o sino da porta do pequeno lugar, olhei e vi uma cabeleira loira que eu conhecia bem, além de uma tatuagem de dragão.

– Haitanis... – Murmurei, eles olharam e Ran se levantou da mesa e sentou do meu lado.

Ele puxou meu rosto para o seu e escondeu com o meu cabelo, quem olhasse de fora diria que estávamos nos beijando.

Ele me olhou e por alguns segundos vi seu olhar aflito, o meu olhar era perdido.

– É sério Kenzinho! Se eles não colocarem minha bandeirinha de novo, eu nunca mais venho comer aqui! – Mikey brigava.

– Tudo bem Mikey – Draken murmurava.

Eles passaram pela nossa mesa e foram pro fundo.

Soltei o ar, e junto com ele uma lágrima desceu pelo meu rosto, Ran passou o polegar e a secou.

– Vamos sair daqui – Ele falou e eu fiz que sim com a cabeça.

Deixamos o dinheiro da mesa e fomos saindo, na hora que estávamos saindo alguém estava entrando e eu esbarrei com um menino de cabelos platinados que eu nunca esqueceria.

Pedi desculpas baixinho e fui passando, mas antes de chegar a porta ouvi a voz dele.

– Yumeko? – Mitsuya falou e eu travei.

Olhei para os Haitanis e falei sem som:

– Corram.

Eles abriram a porta e correram, eu olhei por cima do ombro e vi Mikey e Draken se levantando sem tirar os olhos de mim, comecei a correr também.

Do lado de fora eu vi os Haitanis correndo juntos, eu não podia ir com eles, seria muito óbvio, fui na direção contrária.

Comecei a correr pelas ruas do centro, não sabia se viriam atrás de mim mas preferi não tirar a prova.

Era por esse motivo que eu diariamente treinava como fugir e me esconder, era óbvio que os Haitanis sempre me pegavam.

Afinal eles eram os Haitanis.

Mas eu devia conseguir fugir da Toman.

Eu precisava.

Não podia deixar que me vissem desse jeito, eu ainda não estava pronta.

Parei em uma esquina e tirei minha máscara do bolso da calça, coloquei ela e prendi o cabelo em um coque rápido.

Bom que eu estava com a mochila nas costas, parei em um beco e tirei da mochila meu uniforme da Tenjiku, coloquei o longo manto e deixei a mochila ali.

Sai do beco e continuei andando até chegar a um bar conhecido, quando ia entrar ouvi a voz de Draken.

– Ei! Você! – Ele gritou, olhei por cima do ombro e vi os três ali, me virei totalmente e cruzei os braços.

– Quem seriam vocês? – Perguntei.

– Não precisa mentir, pode ter colocado um uniforme de gangue, mas eu nunca esqueceria quem é você – Mikey falou dando uns passos a frente.

– Não se mova – Ordenei, mas ele continuou vindo.

– Você nunca me machucaria, Yumeko.

Ele chegou a minha frente.

– Yumeko nunca te machucaria – Falei e tirei a máscara, sorri – Mas eu não sou ela, ela morreu junto com os pais, vocês podem me chamar de...

– A Dama da Tenjiku! Ela está ali! – Ouvi as vozes atrás de mim, olhei e eram membros da Tenjiku, claro que eram, aquele bar era nosso, Kokonoi apareceu e jogou o braço pelos meus ombros, olhei pra ele e sorri cúmplice.

– Peço desculpas pela demora, querida, os Haitanis só avisaram agora – Ele falou.

– Tudo bem, eu estava só batendo um papo com um velho amigo – Sorri pra ele.

Os membros da Tenjiku que estavam no bar começaram a sair e formar uma meia lua atrás de nós.

Me virei novamente para Mikey.

– Se eu fosse você iria embora, estamos em maior número – Dei de ombros.

– Você acha que também não chamei reforços? – Ele deu um sorriso triste acompanhado de um olhar vazio – Chamei no momento que vi você beijando um dos Haitanis.

Engoli em seco.

– Eu não estava..!

Ouvi o som de motores de motos e xinguei mentalmente.

Yuiitsui 卐 Tokyo Revengers Onde histórias criam vida. Descubra agora