Algumas horas mais tarde, o grupo estava encostado em qualquer canto do quarto de hospital, pelo que entendi eles não podiam estar ali mas o dinheiro que minha mãe estava pagando para o hospital nos permitia isso.
Eu não entendia ainda por que Takemichi havia feito isso, mas meu irmão viu tantos e tantos futuros, ele deve ter encontrado algo, ele nunca faria isso se não soubesse que daria certo.
Mas por tudo que era mais sagrado... Doía tanto! Era tanta dor, se eles não estivessem ali, eu tinha certeza de que eu estaria gritando ou chorando, esperneando como uma criança.
Mas Izana havia me ensinado muito bem.
E eu engolia todo o choro como se fossem bolas de boliche descendo a seco pela minha garganta, bolas de boliche cheias de espinhos pontudos.
Eu tinha certeza de que quando eles saíssem dali, eu tentaria me jogar por uma janela, ou atirar na minha cabeça de novo.
Eu era muito egoísta, eu os machucaria, mas a dor era tanta que eu praticamente fiquei cega.
O grupo conversava entre si, Tenjiku e Toman, ambos falando suas teorias sobre Takemichi, sobre o que estava acontecendo.
No final do dia, a maioria se retirou, somente permaneceu Hina, Koko, Mikey e Izana.
– Deviam ir pra casa – Falei após alguns segundos de silêncio, os olhares se voltaram para mim – Eu acho que quero ficar um pouco sozinha.
– Nenhum de nós devia ficar sozinho agora – Hina murmurou ao meu lado – Principalmente você.
– Eu só quero... – Funguei deixando uma lágrima escorrer – Só quero um tempo sozinha pra processar tudo que tá acontecendo.
Eles olharam entre si.
– Vou te deixar em casa Hina – Mikey murmurou e ela assentiu leve, ele andou até mim – Amanhã cedo vou estar aqui.
Assenti.
Os dois saíram.
– Promete que vai estar aqui quando voltarmos? – Koko pediu de braços cruzados, ele tentava manter uma pose descontraída mas eu via os sinais do medo nele.
– Prometo – Disse com um sorriso leve, e assentiu e saiu com Izana que não disse nada.
Sinto muito Koko, terei que quebrar essa promessa.
Mais tarde a enfermeira veio trazer meu jantar, comi avidamente e ao fim perguntei a ela se podia sair um pouco.
Ela suspirou e fechou os olhos pensando por um momento.
– Tudo bem – Ela disse – Você merece ver a noite, depois de tanto tempo aqui.
Agradeci, esperava que ela não me culpasse quando encontrassem meu corpo.
Ela me ajudou a levantar e colocar uma roupa que haviam me trazido, uma calça moletom e uma camiseta, calcei chinelos e ela andou ao meu lado até os fundos do hospital.
– Eu volto em alguns minutos, qualquer coisa me chame no bipe – Ela avisou, deixando comigo um quadradinho de plástico com um botão para chamá-la.
– Obrigada – Sussurrei e me virei, ela entrou e eu continuei andando sem rumo.
Andei até sair da área do hospital e chegar a beira do canal, vi ao longe a luz da lua refletindo na água, meus joelhos se dobraram, cai de joelhos e finalmente me permiti sentir aquela dor.
Ela me varria, me corroia, me destruía de dentro pra fora, apertei minhas unhas nos braços, senti-as perfurarem minha pele, encostei a testa na grama e gritei.
Gritei até que o ar me faltasse, que meus pulmões doessem e queimassem pelo esforço.
Gritei tentando expurgar aquela dor que eu sabia que nunca iria embora, tudo que eu mais amava havia me sido tirado, e eu nem tive tempo de passar pelo luto.
Eu chorava desesperadamente enquanto me lembrava de tudo que eu havia visto naquele futuro horrível onde eu havia torturado, matado, punido, onde as pessoas olhavam pra mim com medo, mas meus olhos só refletiam vazio e escuridão.
Senti uma movimentação do meu lado, que se foda, não ligo pra quem quer que seja, podia ser alguém que me matasse logo.
– Gostei do seu cabelo – A voz arrastada falou baixo, contra minha vontade ergui o rosto do chão e olhei para o rapaz em minha frente.
– Quem é você? – Minha voz estava falha, talvez pelos gritos.
O rapaz a minha frente era magro, tinha o cabelo listrado, um olhar entediado e um palitinho na boca.
– Você não me conhece? – Ele subiu um pouco o canto da boca, não era um sorriso.
– Se eu estou perguntando – Falei já irritada, soltei meus próprios braços e junto um gemido de dor quando minhas unhas saíram.
Senti o líquido quente escorrer, o rapaz olhou brevemente para o sangue em meus braços e voltou os olhos pra mim.
– Imaushi Wakasa, mas pode me chamar só de Wakasa.
– Você é um delinquente, certo?
– Tão óbvio assim? – Ele soltou um riso anasalado.
– O cabelo entrega.
– O seu também, não é todo mundo que escolhe pintar o cabelo assim de branco.
Franzi o cenho.
– Branco? – Olhei confusa pra ele, ele assentiu.
– Branco, mexas, não lembra como pintou o próprio cabelo?
Levei a mão ao cabelo e puxei pra frente dos olhos, mexas brancas estavam misturadas no meio dos meus cabelos castanhos, não era o descolorido que eu havia pintado a algum tempo, era branco mesmo, como se eu tivesse envelhecido.
– Pela sua cara, isso não devia estar aí.
Olhei pra ele.
– Eu não faço ideia de como isso aconteceu.
Comecei a entrar em pânico, minha respiração estava entrecortada, Wakasa levou lentamente a mão ao meu rosto, colocou meu cabelo pra trás da orelha e passou um polegar na minha bochecha.
– Tá tudo bem – Ele ficou olhando nos meus olhos com aquela expressão entediada – E se não estiver, vai ficar.
Respirei fundo me acalmando.
Era a primeira vez em muito tempo que eu me acalmava sem usar remédios ou drogas.
Quem era esse garoto?
– Precisa de carona pra casa?
– Eu não... – Não queria voltar para o hospital, também não podia voltar pra casa da minha mãe onde a visão de Takemichi estaria fresca, e também não queria voltar pra Tenjiku e deixar que todos vissem o quão destruída eu estava – Eu acho que vou ficar aqui, tem alguns demônios dos quais estou fugindo, e eles estão no lugar que eu devia chamar de "casa".
Puxei as pernas contra o peito e as abracei, fiquei olhando para a luz da lua refletindo na água.
– Vem logo.
Ele se levantou e estendeu a mão.
– Vou te levar pra minha casa.
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Yuiitsui 卐 Tokyo Revengers
FanfictionCom um passado conturbado, Yumeko finalmente sai do reformatório. Ela vai morar na casa do seu irmão Takemichi e lá descobre que ele tem amigos interessantes. Mas o passado não fica em segredo por muito tempo. Yumeko pode ser doce, tímida e fofa, ma...