Yuiitsui 卐 Tokyo Revengers

10 - Eu vou viver com isso

AVISO: (GATILHO) ESSE CAPÍTULO CONTÉM REFERÊNCIA A ABUSO SEXUAL, TORTURA E MORTE, SE VOCÊ É SENSÍVEL A ESTES ASSUNTOS NÃO LEIA, PARA SUA PRÓPRIA SAÚDE MENTAL!

Minutos mais tarde, o costumeiro grupo dividido entre membros da Toman e da Tenjiku estava na sala de casa.

Eu tinha reações involuntárias do corpo, alguns abraços me fizeram travar ou afastar automaticamente, ninguém estava entendendo.

Logo todos estavam sentados em algum lugar, eu estava numa poltrona fofa de veludo preto, na qual estava bem encolhida, com as pernas apertadas contra o corpo, protegendo aquele pequeno ponto que me havia sido violado no futuro.

Uma reação totalmente involuntária, mas que agora eu fazia cada vez que me lembrava, um instinto de proteção.

– Você foi bem rápida, mal dois dias – Chifuyu foi o primeiro a falar, fiquei alguns segundos olhando pra ele – Não vai dizer que eu morri?

– Quase – Admiti fungando baixo – Mas consegui chegar até você antes pra voltar.

– Mas o que aconteceu? – Draken perguntou, ele analisava meus movimentos, talvez, por conta de onde morava e havia crescido, ele conseguisse ver o que eu tinha tanto medo de falar.

– Você consegue ver..? – Sussurrei olhando pra ele, meus olhos se encheram de água e ele se aproximou devagar.

– Posso? – Perguntou respeitosamente, assenti.

Ele me abraçou e eu comecei a chorar em seu ombro completamente desesperada e sem chão.

– Não fui forte o suficiente! – Culpei-me – Não fui! E ele... Ele fez... – Draken me apertou mais – Eu não consigo tirar aquelas lembranças da minha cabeça!

– Eu sei que não está bem, mas vai ficar – Ele passou a mão na minha cabeça fazendo um carinho – Estamos aqui e não vamos permitir.

Minutos depois eu já havia me acalmado levemente, Draken ficou sentado no braço da poltrona onde eu estava, me oferecendo apoio.

Os demais mantinham olhares confusos, eu tinha que explicar, suspirei.

– Quando voltei pra lá, estava em um lugar diferente, uma casa grande, eu usava roupas largas que tampavam todo o meu corpo e meu cabelo... Estava branco, completamente, e não havia sido pintado – Comecei com as partes menos ruins – Eu levantei e saí do quarto, ouvi vozes e as segui, quando cheguei lá encontrei vocês, exceto os Haitanis, Izana e Chifuyu.

– Onde estávamos? — Perguntou Ran.

– Vocês dois estavam envolvidos com a máfia japonesa, na verdade eu também estava – Tentei explicar – Eu não sei o que aconteceu, a eu que ficou no passado era aquela que a Tenjiku criou, e descobriram que ela não era tão boa, vocês três entraram comigo nisso – Olhei para os haitanis e depois para Izana – Mas então, os demais pararam de ter notícias nossas... Semanas mais tarde receberam o corpo... do Izana...

Me forcei a falar, parecia que minha língua era feita de areia.

– Koko se infiltrou pra me procurar e descobriu que eu estava sendo... – Levei as mãos a cabeça quando as imagens brotaram em frente aos meus olhos, lágrimas ardiam em minha visão – Eles estavam me torturando.

Com os olhos vidrados revivi centenas de momentos horríveis, sendo torturada de todos os tipos, eu ainda podia sentir a dor.

– Eles me eletrocutavam, tentavam me afogar, me cortavam, quebravam meus ossos repetidas vezes... – Comecei a soluçar – Mas o pior... Quando eu não tinha mais forças... Ele aparecia.

– Ele quem? – Mikey perguntou quebrando o silêncio que ficou.

– Tetta Kisaki – Meu olhar ardia em fúria, mas ao mesmo tempo eu estava com tanto medo e sentia tanta dor – Ele vinha me ver depois das sessões de tortura – Falei baixo em um sussurro doloroso – E ele destruía meu corpo de uma maneira que eu nunca poderia me curar.

Eu não conseguia dizer com todas as letras o que ele havia feito, já doía tanto, eu já estava em um choque tão absurdo, que dizer a palavra de verdade... Eu sentia que desmoronaria.

Longos minutos de silêncio se seguiram, com olhares raivosos vindos de todos no recinto.

– Eu quero matá-lo... – Anunciei para o nada, com o olhar a muitos anos de distância – Mas eu ainda sinto... Por mais que não esteja mais lá, eu sinto tudo, minhas pernas ainda doem onde foram quebradas, ainda sinto meu corpo formigar pelos choques e sinto minha carne queimar pelo fogo, e o pior, eu sinto cada vez que ele tocou em mim.

A última parte foi dita em um sussurro, um lamento da minha alma quebrada, partida, em pedaços.

– Não sei se consigo fazer mais isso – Declarei para o grupo – Alguns de vocês morreram lá... Tudo que eu vi e passei...

No mesmo momento me silenciei, eu era tão fraca, estava a ponto de deixar minha missão nas mãos de algum deles, queria entregar esse poder para não ter mais que empunha-lo.

Meu irmão sofreu sozinho tanto tempo e eu mal aguentei uma viagem no tempo.

A questão sobre o amor é muito mais profunda do que se acha.

O amor incondicional, as vezes pode nos fazer ter um complexo de herói, este se sacrificaria pelo bem do mundo ou daqueles que ama.

Eu estive acostumada a ser egoísta por um tempo, um capricho ensinado pelos membros da Tenjiku, eles me ensinavam que eu devia ser assim, me colocar em primeiro lugar, defender a mim, e depois pensar nos demais.

Mas eles faziam isso por que se importavam comigo, por que queriam que eu fosse forte sozinha, mas se eu precisasse, eles entrariam na frente da mira de uma arma pra me salvar.

Izana morreu por mim no futuro, os Haitanis se envolveram com a máfia japonesa, Kokonoi se infiltrou pra me procurar e salvar.

E os garotos da Toman que eu tanto amava, por mais que eu fosse grosseira, que fugisse, que brigasse, eles continuavam ali, eles também tinham complexo de herói, dariam suas vidas pela minha.

Chifuyu no futuro levou tiros e quase morreu pra chegar até mim, Draken aqui no passado foi o primeiro a notar o que havia acontecido comigo, Mikey, havia feito uma bela homenagem para seu irmão que havia sido morto por me ajudar, Mitsuya fizera roupas pra mim que fossem do meu agrado.

Cada um me amou e deixou coisas que amava de lado por mim.

Então eu calei minha maldita boca, ignorei as lágrimas, sequei o rosto, e fiz uma promessa.

Eu vou viver com isso, para que eles não precisem.