16 - A verdade

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Pov Yumeko

Eu não entendia como não me lembrava daquelas coisas, do que havia acontecido no reformatório.

Não me lembrar era o pior.

Não saber o que tinha acontecido comigo, o que Kazutora tinha feito comigo, até onde ele tinha ido comigo.

Não comigo, mas com Futari.

Apesar de mentes diferentes, personalidades completamente diferentes, tínhamos o mesmo corpo, e isso era uma das coisas que mais me dava medo, talvez eu nunca mais me sentisse segura com isso.

Quando vi que Baji caiu no chão, me levantei sem pensar duas vezes, corri até ele e coloquei logo as mãos no ferimento pra fazer pressão.

Os sons ao meu redor estavam abafados, os meninos estavam desesperados, mas eu só sabia que precisávamos de uma ambulância.

– Ambulância – Balbuciei – Liguem pra ambulância!

Não me certifiquei de que alguém tinha feito realmente isso.

Tirei minha jaqueta, a jaqueta da Valhalla, e coloquei em cima do ferimento da faca, fazendo pressão, Takemichi já chorava ao meu lado, Baji tinha perdido muito sangue.

– Vamos Baji, fica comigo, ainda temos muito que irritar um ao outro – Falei tentando mantê-lo acordado.

– Você é boa Yumeko... – Ele tossiu – Pode pegar o canivete no meu bolso?

Peguei e entreguei pra ele.

– Mikey! – Ele gritou com a pouca força que tinha, olhei na direção do loiro e vi ele socando Kazutora, eu nem vi que isso estava acontecendo de tão focada que estava.

Mikey virou pra nós, seu olhar estava perdido em Baji, eu podia ver um ódio imenso, mas uma tristeza maior ainda, pelo amigo machucado, e pelo antigo amigo no qual ele batia.

Eu achava que a tristeza que eu carregava era grande, mas Mikey... Ele carregava uma depressão tão, mas tão grande, que as vezes ele se perdia nela.

Ouvi um som estranho, olhei para Baji e coloquei a mão na boca com pavor.

Ele havia esfaqueado a si próprio...

– Mikey... – Ele tentou falar, mas começou a cuspir sangue – Está vendo? Eu estou me matando! Kazutora você não me matou... Eu fiz isso comigo mesmo! Não pode culpá-lo pela minha morte Mikey, estou fazendo isso a mim mesmo!

Os demais capitães ao redor começaram a chorar, inconscientemente eu também estava.

– Takemichi... Cuide dele pra mim – Baji deu um sorriso murcho – Deixo eles em suas mãos.

– Não Baji... Por favor – Chifuyu estava chorando ao lado de Baji.

Um silêncio se fez, enquanto só se podia ouvir o som das fungadas e das lágrimas se escorrendo.

Baji estava morto.

– Ele se matou pra que eu não me culpasse... – Ouvi Kazutora murmurar, nem sabia como ele ainda estava vivo.

– E ele se matou pra que eu não te culpasse pela morte dele – Mikey engoliu em seco.

Ouvi os sons das sirenes.

Os demais membros começaram a fugir achando que era a polícia.

– Precisamos ir – Draken foi quem falou.

– Mas, e o Baji? – Chifuyu perguntou inconformado.

– Deixem ele – Kazutora foi quem disse, todos olhamos pra ele – Eu tenho muitos pecados pelos quais pagar – Ele olhou pra mim – Vou assumir meus crimes e vou pagar por isso na cadeia.

Ninguém disse nada.

Takemichi pegou meu braço e Draken buscou Mikey, Mitsuya puxou Chifuyu que não queria sair dali.

Saímos de lá correndo, todos com a visão embaçada pelas lágrimas.

Todos ficamos em casa, nós estávamos em silêncio. Não havia o que dizer naquele momento, todos estavam tristes, todos tinham marcas de lágrimas nos rostos, e alguns como eu, Mikey e Takemichi, tínhamos sangue também.

Me levantei pra fazer um chá, não lembrava a última vez que tinha comido algo.

– Onde vai? – Mikey levantou o rosto pra mim no momento que me levantei do sofá.

– Só vou fazer um chá... – Apertei os lábios, era óbvio que ele não confiava em mim.

– Tudo bem, eu faço pra você, preciso me mexer um pouco – Mitsuya foi quem disse se levantando, ele passou a mão no meu ombro – Vocês deviam conversar, vem comigo Chifuyu.

Me sentei novamente, Takemichi estava do meu lado e passou um braço por meu ombro, me aconcheguei nele.

– Quer falar ou quer que eu fale? – Ele falou baixinho.

– Tudo bem, eu falo, só me dê um minuto – Suspirei.

Me ajeitei no sofá, fiquei de cabeça baixa e com as mãos apertadas no colo.

– Eu menti pra vocês – Comecei assim – Eu sei que é bem óbvio, mas não menti só sobre minha doença, mas também sobre o que realmente aconteceu pra eu parar no reformatório.

Olhei pra Takemichi, ele me incentivou a continuar, olhei na direção de Mikey e Draken.

– Eu tenho transtorno dissociativo de identidade, ou seja, eu tenho personalidades diferentes, cada uma complexa, com pensamentos e sentimentos diferentes das outras – Engoli em seco, Draken tinha levantado a cabeça e me olhava, Mikey permanecia olhando pro chão – As principais personalidades em mim são Yumeko e Futari, são como Yin e Yang, o total oposto uma da outra.

– Mas Yumeko é quem você é, certo? – Draken perguntou, assenti pra ele.

– A maioria das pessoas pode conversar com suas outras personalidades, mas Futari é muito persuasiva e durante um tempo ela me persuadia a fazer coisas ruins, foi quando minha madrasta notou e começamos a fazer um tratamento – Continuei explicando – Nós encontramos um método de tratamento que bloqueia as outras personalidades, só que...

Apertei os olhos quando uma lágrima escorreu.

– Futari tem vício em adrenalina, e isso me atinge também – Funguei, Takemichi passou a mão nas minhas costas – Eu fico completamente obcecada por qualquer coisa que me ofereça qualquer pingo de adrenalina, e quando chega a um certo ponto, Futari consegue aparecer.

– A nee-san era muito inteligente e ela já contou como de onde ela vem as pessoas não valorizam isso, e sim a sua popularidade – Takemichi contou – Então ela sofria muito bullying...

– Teve um dia que eles passaram do limite...

– O que fizeram? – Mikey finalmente falou, levantando o olhar pra mim, me senti completamente intimidada.

– Me colocaram numa roda no meio do corredor, as pessoas me impediram de passar, riam de mim e gritavam xingamentos – Coloquei as mãos nos ouvidos, Takemichi passou a mão no meu cabelo – Eu ainda escuto eles quando vou dormir, ainda ouço os gritos quando estou no colégio... Uma das garotas avançou e me empurrou, eu cai e quando levantei... Eu estava cega.

– Era Futari – Mikey murmurou.

– Eu não me lembro do que eu fiz – Comecei a chorar e soluçar – Eu só lembro de acordar amarrada no hospital com a minha madrasta do lado, e descobri que eu tinha... Matado a garota.

Yuiitsui 卐 Tokyo Revengers Onde histórias criam vida. Descubra agora