17 - Julgando

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Passei a mão no rosto tentando secar as lágrimas que brigavam pra descer.

– Eles me mandaram pro reformatório, teve aquela briga e consegui vir cumprir aqui, por ser mais seguro pra mulheres, e no reformatório eu conheci Kazutora...

– Mamãe sabia que Yumeko tinha feito amizade lá, e na verdade achou até bom – Takemichi contou – Mas depois de um tempo ela recebeu uma ligação de lá, nee-san tinha atacado um guarda e um garoto que também tava lá, Kazutora teria conseguido fazer ela parar, mas igual prenderam ela na enfermaria, e ela ficou sedada por bastante tempo.

– Eu nunca entendi o que tinha acontecido, mas agora... – Me encolhi e escondi o rosto no peito de Takemichi, ele me abraçou – Eu me importava com ele! Ele tinha sido meu único amigo lá dentro e agora eu descubro que tudo foi só pra me manipular e me usar a favor dele!

Takemichi ficou fazendo carinho no meu cabelo.

– Você não tem culpa, foi manipulada por ele – Draken afirmou – Kazutora ficou assim depois de algumas coisas que aconteceram, acho que ele deve ter te contado...

– Ele culpa o Mikey – Olhei pra ele – Ele disse que você fez uma promessa pra ele quando eram crianças, que a dor dele era sua dor, e que juntos não sofreriam de novo – Engoli em seco – Quando ele... matou o seu irmão sem saber que era ele, ele se desesperou, e culpou você, as vezes ele dizia que achava que tinha enlouquecido, ele não conseguiu lidar com a culpa e teve que transferi-la pra outro.

– Independente do que tenha acontecido, Baji se matou pra que eu não culpasse o Kazutora – Mikey suspirou – Então eu perdoo ele, não posso fazer o mesmo que ele e guardar essa raiva dentro de mim.

– O que vamos fazer em relação a Futari? – Draken perguntou, olhamos pra ele – Querendo ou não, pode aparecer em algum outro momento, e não sabemos lidar com ela.

– Futari é manhosa – Expliquei – É má, cruel e intensa, mas também é carente, se apaixona fácil e mesmo sendo ótima ótima em enganar e persuadir, é muito fácil de manipular.

– Ela está apaixonada pelo Kazutora, se ela assume de novo, não pode tentar ir atrás dele? – Takemichi perguntou.

– Não sei dizer, ela se apaixona fácil, mas com a mesma facilidade se interessa por outros, quanto mais adrenalina a pessoa render pra ela, mais ela vai ir atrás – Tentei explicar da melhor forma que podia – Kazutora era o garoto mau que conquistou ela com promessas de amor e ódio.

– E até onde ela estaria disposta a ir por ele? – Draken me olhou.

– Enquanto está apaixonada? – Ri com raiva, ele assentiu – Ela mataria por ele... Talvez pior, ela viveria por ele.

– Mas e você? – Mikey olhou pra mim e eu travei, eu sabia que ele não confiava em mim.

– Yumeko é boa! – Takemichi falou, ele se levantou do sofá – Ela é carinhosa, é engraçada, é gentil e gosta de ajudar os outros.

– Mas vamos combinar que a garota boa podia ter matado alguém hoje – Draken falou com um riso anasalado e um sorriso de canto, ele cruzou os braços – Se Kazutora tinha um gatilho pra Futari aparecer, outra pessoa pode descobrir e usar ela, sei lá.

Alguns segundos de silêncio se fizeram no ambiente.

– Eu acho que eu tenho que ligar pra minha madrasta – Me levantei do sofá e fiquei de cabeça baixa.

– Por que? – Meu irmão perguntou.

– Pra pedir pra ela me internar.

– Do que tá falando?! – Ele segurou meus braços – Nem pensa nisso!

– Takemichi! Eu posso machucar alguém! – Recomecei a chorar, olhei pra ele – Você não entende como é horrível pensar no que Kazutora pode ter feito e eu simplesmente não me lembro! Não me lembro do que fiz, mas sei que machuquei vocês!

– Eu não te culpo por nada nee-san – Ele falou começando a chorar também.

– Apesar de você ter derrubado Baji fácil, sei que ele não te culparia, e sim que iria querer uma revanche – Draken soltou uma risada.

Os dois ficaram em silêncio e olharam para Mikey, ele não falou nada.

Eu sabia que ele me culpava, e saber que não tinha mais a confiança dele, doía muito.

Doía por que eu estava sentindo algo muito forte por ele.

Abaixei a cabeça quando as lágrimas começaram a cair de novo.

– Eu vou tomar um banho – Falei baixo tentando não tremer a voz.

Subi as escadas rápido, quando entrei no quarto desabei em lágrimas.

Corri pro banheiro e liguei o chuveiro, a água começou a cair se misturando com minhas lágrimas, coloquei a mão na boca pra abafar o som do meu choro.

Eu era uma tonta, ele não iria se apaixonar por mim em tão pouco tempo, fala sério, o Mikey? Ele era tudo que eu iria querer, um garoto gentil que se importava com seus amigos, que era divertido, sabia brincar mas sabia a hora de ser sério.

Mas talvez ele só quisesse me ter, assim como Kazutora.

Talvez ele só quisesse a minha força do lado dele, assim como Kazutora.

Talvez eu só fosse um meio para um fim, e ele nem se importasse comigo.

Como Kazutora.

Senti a raiva subir repentinamente.

E algo dentro de mim ansiava por aquela raiva, era como uma droga tão melhor que qualquer outra coisa.

Eu não deixaria que me manipulassem de novo.

Não deixaria que ninguém me machucasse de novo.

Desde que me lembro eu era controlada por causa dos problemas que eu tinha, mas eu não tinha culpa desses problemas, eu simplesmente nasci assim!

Era como ser preconceituoso, racista, era julgar alguém pela cor de pele que nasceu, ou por uma doença que a pessoa tem, a pessoa nasce assim, ninguém pode culpar.

Minhas lágrimas cessaram, meus soluços pararam e eu fiquei olhando pra parede com a água caindo na minha cabeça.

Eu iria me curar desses problemas.

Eu só não imaginava que as coisas poderiam piorar.

Yuiitsui 卐 Tokyo Revengers Onde histórias criam vida. Descubra agora