Capítulo 1

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Eris estava sentado sozinho em um dos escritórios da Corte Outonal, folheando documentos importantes em sua mesa quando o serviçal silenciosamente bate à porta.

- Chegou uma carta endereçada ao senhor. Aqui diz confidencial. Ele a entrega a Eris e se retira.

Boris era seu único serviçal de confiança. Eris se certificava de sempre dar uma quantidade generosa de ouro para ele intermediar as cartas endereçadas a Corte antes de entrega-las ao seu pai. Era essa uma de suas tantas artimanhas no reino para estar a par de tudo que acontecia debaixo de seu teto durante as últimas décadas.

"Não possui rementente." Observou, abrindo o envelope.

"Tenho uma informação valiosíssima de seu interesse. Só pode ser fornecida pessoalmente. Garanto que não irá se arrepender. Venha sozinho, para o bar Creta ao anoitecer, Assinado: L".

Eris bufou. – Claro. Mais um imbecil tentando me pregar uma peça. Por outro lado, pensou: - Pode ser Lucien. Ninguém sabia que ele frequentava esse bar específico. Era muito distante do Castelo Outonal, e o ruivo o visitava apenas quando já estava distante de casa.

Não custava nada verificar a veracidade da carta, ele iria estar perto do bar de qualquer forma naquela noite resolvendo problemas de Beron.


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Depois de resolver os problemas, ao cair da noite, Eris adentrou o bar endereçado na carta. Um espaço pequeno, mas completamente lotado por féericos da vila. A música rolava solta e as pessoas falavam alto umas com as outras, enquanto algumas atendentes transitavam pelo corredor com copos transbordando de cerveja. O ar lá dentro era bastante abafado e a luzes eram bem fracas.

O lado bom desses bares distantes é que quase ninguém percebia ou dava a mínima para quem quer que adentrasse o lugar. Se percebiam quem Eris era, não se atreviam a dizer.

Eris se acomodou no balcão e pediu uma bebida forte enquanto observava o ambiente sorrateiramente. Nada de Lucien ou de qualquer outra pessoa. Pelo menos ele estava em um bar caso tudo aquilo não passasse de um trote. Era impossível que um de seus outros irmãos mais novos soubessem desse lugar. Eris foi sempre muito cuidadoso de não deixar vestígios de pra onde ele saía tarde da noite. De qualquer forma, ele veio preparado com várias facas de diversos tamanhos escondidas por todo o seu corpo.

Enquanto tomava um gole de sua cerveja um menino passou por ele deixando um bilhete ao lado de sua mão que continha a mesma caligrafia da carta:

" Siga o menino". Dizia.

O menino o encarou e se virou andando no meio da multidão para o lado de trás do bar. Eris não teve nem tempo de pensar se deveria ir ou não, antes de quase perde-lo de vista no meio das pessoas. Ele logo se levantou e o seguiu.

O menino o levou para uma sala minúscula e apenas apontou com o dedinho indicador para que o macho entrasse:

- Certo. Vamos acabar logo com isso. Eris disse, sem paciência entrando no cômodo.

A seguir, o macho não estava preparado para a figura que estava parada diante dele. Uma fêmea, com o olhar vítreo sentada coberta por roupas pesadas de frio.

Ele a reconheceu imediatamente. Da noite em que passaram juntos há alguns meses atrás. Eris a havia conhecido neste mesmo bar, na noite em que ela estava trabalhando. Lembrou.

- Que palhaçada é essa? Disse frívolo. – Quem me chamou?

A fêmea continuou o secando nos olhos. Seu olhar frio como as noites nessa Corte. Sem mais delongas ela respondeu ríspida:

– Eu o chamei. Ela indagou. – Não sei se se lembra de mim...

- Você? Ele ri secamente. – O que quer de mim? Lyra não é? Não tenho tempo para joguinhos. Disparou.

- E eu certamente também não. Ela admite.

Eris percebeu que depois da resposta a fêmea estava lutando com as palavras. Ela tentava soar firme mas algo a estava bloqueando.

- Bem, naquela noite em que...estivemos juntos... não sei se se lembra.

- Claro que eu lembro. O que tem? Ficou com saudades? Ele debocha.

O rosto da fêmea ferve de raiva e ela se levanta da cadeira.

- Certamente que não. De ambos os lados era para ser somente uma noite.

Eris aguardou.

- Bom, essa conversa não vai ser fácil, mas vou direto ao ponto. Estou grávida de um filho seu. Diz levantando-se da cadeira, revelando uma barriga levemente arredondada.

Corte de Lâminas e Fogo (ACOTAR - ERIS)Onde histórias criam vida. Descubra agora