Capítulo 23

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Ao dobrar o corredor Lyra não conseguiu mais segurar as lágrimas, elas vieram numa corrente de tristeza.

Foi tudo uma grande mentira. A garota não sabia nem no que se apegar, os pensamentos vieram tão rápido como o choro. Eris era um cafajeste da pior espécie. Era um falso, um sujo. Ela o odiava com todas as suas forças.

E ele a havia contaminado. Lyra se sentiu suja e usada. Muito pior do que os tratamentos de machos nojentos que recebia quando trabalhava no bar. Lá pelo menos ninguém se escondia atrás de máscaras, ninguém fingia ser o que não era.

Ela não conseguia acreditar na forma em que foi manipulada, e conduzida as vontades de Eris, a acreditar que estaria em segurança se fosse morar no Castelo da Outonal, a escutar os irmãos mais novos dele a difamando nas refeições, a vir para aquela maldita cerimônia com ele e... dormir com ele. A como o deixou tocá-la, não só uma, mas duas vezes. A primeira tinha sido um deslize, mas na noite passada Lyra o quis também, quis aquele macho cruel na cama com ela. Ela o permitiu vasculhar seu corpo, Lyra ainda podia sentir a memória física onde as mãos de Eris estiveram e isso a enojava.

O que ele tinha feito com Mor, com Jesminda. Isso tudo era demais para ela.

"Fui obrigado a fazer coisas das quais não me orgulho." – Lyra lembrou-se da frase de Eris.

Não a interessava. Ele havia dito que cometeu erros no passado, coisas das quais não se orgulhava, mas isso estava fora de cogitação.

A garota estava sentada com as mãos no rosto quando sentiu uma sombra grande atrás dela.

- Aconteceu alguma coisa? Posso te ajudar?

O encantador de sombras. Azriel estava em pé, com as asas bem guardadas às costas a encarando inexpressivo. Lyra tentou secar as lágrimas, mas sabia que seus olhos inchados a delatavam.

- Não, está tudo bem. – Lyra tentou fingir um meio sorriso.

Azriel não saiu do lugar.

- Não parece estar tudo bem.

A quem ela queria enganar? Talvez a última pessoa no mundo a poder ser enganada. Nada passava pelos olhos e sombras de Azriel.

Lyra o encarou, depois para sua armadura Ilyriana, avistando ali algo preso em seu cinto. Uma ideia para acabar com sua dor.

Ela se levantou e foi até Azriel, apontando para o objeto preso em seu cinto.

- Se quer me ajudar me empreste sua faca.

Azriel se surpreendeu com tal pedido.

- Para quê a quer?

- É melhor não saber.

Azriel sabia que deveria dizer não. Ser um bom Illyriano, ser digno do Círculo Íntimo, mas existiam coisas, sentimentos lá no fundo que simplesmente não podiam ser ignorados. Décadas de dor e raiva, por ter visto fêmeas como Mor, Gynn, Lyra sofrendo. Ele pensou duas vezes antes de tirar a faca curta presa em si e entrega-la para a fêmea a sua frente. Lidaria com a repreensão de Rysand mais tarde.


                                                                                          --X--


Não existia nada que pudesse amenizar sua dor, com a humilhação que sentia agora que sabia da verdade. Todos aqueles olhares dos feéricos no jantar de noites atrás, a julgando.

Faziam todo o sentido agora. A idiota que engravidou do macho mais escroto de toda Prythian, que a manipulou para continuar ao lado dele. O que ele faria quando o bebê nascesse? O que seria de Lyra depois? Ela não deixaria seu bebê nas mãos daquele sanguinário.

Corte de Lâminas e Fogo (ACOTAR - ERIS)Onde histórias criam vida. Descubra agora