Capítulo 15

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Lyra caminhou em silêncio para dentro da floresta com Eris em seu encalço. Ao chegar a uma distância significativa da casa a fêmea parou, virando-se para o ruivo, seu olhar frio como Eris nunca tinha visto antes.

- Onde estão as cartas?

Droga. Ela havia descoberto. Havia grandes chances de isso acontecer ao levar Lyra de volta a casa de sua família, mas Eris não ligava. Não quando o olhar dela se iluminou ao ver sua antiga casa, e ao passar a tarde com sua família.

- Não as tenho.

- Me. dê. as. minhas. cartas! – A respiração de Lyra saiu entrecortada.

Eris nunca tinha visto uma fêmea tão possessa de raiva, e ainda mais grávida. Isso não ia fazer bem ao bebê.

- Já disse que não as tenho. Não fui eu quem as tomei.

O olhar de Lyra se suavizou um pouco.

- Beron.

- Sim. Depois que você me confessou escrevê-las eu fui atrás de mais informações...

Eris deixou no ar o resto, mas Lyra era muito inteligente, ligando os pontos.

- Aquela noite. – O olhar da fêmea vagou. – Que você brigou com o seu pai.

Eris apenas disse: - Eu sinto muito, não consegui recuperá-las. – Eris sopesou. - Beron as queimou.

Lyra estava em um misto de emoções.

Com ódio mortal de Beron. Com raiva de Eris por ter escondido isso dela, mas ao mesmo tempo culpada em descobrir o motivo da surra dele. Aquela noite ainda atormentava Lyra em seus sonhos ao dormir à noite, a pele de Eris arrebentada e sangrando. Mas ao mesmo tempo sentiu-se censurada pelo roubo de suas cartas, privada de manter contato com sua família. Todos aqueles dias no castelo em que se sentiu sozinha, esquecida por sua família, na verdade não tinha passado de um grande engano.

- Eu vou acabar com o seu pai.

- Sem ofenças meu amor, mas entre na fila. Estou a séculos na sua frente.

- Ele não tinha esse direito! Você escondeu isso de mim!

- Ele não tem o direito de muitas coisas. – Eris tentou chegar mais perto da fêmea, mas ela manteve distância se desvencilhando. – Mas eu te prometo que isso acabará. Eu só preciso de um pouco mais de tempo.

Tempo para reunir mais forças para auxiliá-lo no golpe. Tirar Beron do poder e assumir o trono. Eris usaria o pretexto da celebração na Invernal para tentar estabelecer algum pacto com Rysand e os outros inimigos de seu pai.

- Isso não anula o fato de que mentiu para mim.

- Eu sei que não. Sei que é tarde para me desculpar e que nada justifica, mas faria de novo se isso significasse colocar você e nosso filho em segurança. Eu não menti para o seu irmão hoje mais cedo quando disse que farei qualquer coisa para protegê-los.

Até ser torturado por seu pai.

Eris tinha mesmo mantido sua promessa quanto prover para seus irmãos. Lyra viu com os próprios olhos a melhora da situação deles. Viu a sinceridade nas palavras dele para Ian.

Viu a forma amorosa que Eris brincou com seus irmãos mais novos. E a maneira como ele tratava a mãe no castelo.

Ele havia sido torturado por tentar obter as cartas da garota. Isso tudo tinha que dar algum crédito positivo a ele.

Eram dois pesos e duas medidas? Lyra poderia aponta-lo como o vilão? Ou como o herói?

Ela achava impossível enquadrar Eris em um dos dois parâmetros.

Ela não conseguia nem se encaixar em um dos dois. O mundo em que vivia provava isso a todo instante.

Havia tanto em Eris que Lyra não compreendia. Ele bagunçava com suas certezas, com suas convicções. As motivações do macho, suas conversas, os segredos guardados. 

- Nunca mais me esconda nada. Se quiser que eu continue ao seu lado vai ter que confiar em mim também. Lutaremos lado a lado daqui para frente, em igualdade, pelo que quer que seja.

Eris nunca se sentiu mais honrado, e orgulhoso por ter Lyra em sua vida.

Por receber tanta confiança de alguém que o conhecia a tão pouco tempo. Que mesmo com tantas histórias o retratando como o vilão, ela ainda podia dá-lo o benefício da dúvida. De enxergar mais nele do que qualquer um pudesse.

Ele se aproximou de Lyra, a encarando nos olhos, seus rostos a centímetros.

- Assim será.


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Os dois voltaram juntos, lado a lado, para a propriedade da família de Lyra.

Ian estava do lado de fora observando seus irmãos mais novos brincarem e tentanto escutar qualquer indício de problema vindo da mata.

- Achei que não voltavam mais. – Ian disse preocupado.

- Eu não iria embora sem me despedir. – Lyra abraçou seu irmão e em seguida os gêmeos.

- Se cuidem, por favor.

- Vocês também.

Eris ajudou Lyra a subir na carruagem enquanto os irmãos mais novos da fêmea correram para abraça-lo uma última vez.

Ele retribuiu o abraço.

Eris adorou a simplicidade da família de Lyra, como eram unidos e descontraídos. Como cuidavam uns dos outros. Como eram abertos e carinhosos com ele.

- Eris. – Ian chamou-o antes de entrar na carruagem.

Ele estendeu a mão para um aperto, que Eris aceitou contente.

- Acho que minha irmã já deve ter te dado um esporro lá na mata, então acho que vou poupá-lo de mais. Eu ia dizer bem vindo a família, mas também não me decidi ainda. – Ian ri. – Um até logo já me parece de bom tamanho. E cumpra com a sua promessa.

- Eu também sou irmão mais velho sabe... mas só de machos. – Risos -Só sua consideração já significa muito.

Dito isso, Eris subiu na carruagem e o cocheiro deu partida nos cavalos.

- Machos super protetores. – Lyra disse por fim cruzando os braços.

Corte de Lâminas e Fogo (ACOTAR - ERIS)Onde histórias criam vida. Descubra agora