Capítulo 10

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Era final de tarde no castelo e Eris não encontrava Lyra em lugar nenhum. Ele havia terminado os relatórios do dia, e havia passado no quarto da fêmea o encontrado vazio. Seu segundo palpite foi ir até a biblioteca, mas de novo, não havia ninguém.

Ele realmente não queria bancar o macho super protetor com Lyra, mas se tratando de em que Corte eles se encontravam, todo cuidado era pouco. Já fazia muito deixando ela solta por todos os cômodos do lugar sem supervisão, mas o que mais poderia fazer? Ela não era um bicho para ser acorrentada no quarto e Eris certamente já sabia onde isso poderia dar, levando de exemplo Tamlin e todos os boatos da Corte Primaveril enquanto Feyre ainda era sua amante.

Eris já estava ficando preocupado quando desceu pela ala Oeste, passando direto pela sala de música quando escutou uma melodia escapando de lá de dentro.

Ele abre uma fresta da porta espiando dentro.

Ali estava ela. Lyra estava sentada na banqueta do piano. Os últimos raios de luz do dia refletindo em sua pele pálida. Ela não havia se dado conta ainda que o macho a espiava enquanto seus dedos hábeis passavam pelas teclas do instrumento.

Há quanto tempo não escutava música dentro do castelo? Aquele timbre provocou algo indescritível pela espinha de seu corpo, e Lyra e seu talento eram os culpados por isso.

Ela parecia um milagre, um anjo naquele inferno de Corte.

Lyra sente o olhar de alguém sob si e vira a cabeça para a porta.

- Eris. Ela para a melodia no meio, envergonhada. – Há quanto tempo está parado aí?

- Não sabia que podia tocar piano. Ele diz ignorando sua pergunta, chegando mais perto.

- Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe raposinha.

- Por favor, não pare por minha causa.

Por favor. Essa foi a primeira vez que escutou tal palavra saindo dos lábios daquele macho.

- Onde aprendeu a tocar? Eris pareceu perceber o deslize fora de seu personagem frio de sempre.

- Eu nem sempre fui pobre sabe. - A ruiva volta a tocar de onde parou. - Ainda quando meus pais eram vivos meu pai era músico. Ele me ensinou muitas coisas.

Imagino que sim, pensou Eris. Mesmo pobre e usando roupas simples Lyra já se destacava. Seu rosto angelical sardento e os olhos azuis como os rios famosos da Corte Diurna. Aquele cabelo de fogo que tanto combinava com o tom dos de Eris. Depois que sua mãe disponibilizou roupas finas para a fêmea ela se sobressaiu mais ainda.

- E você? Entende alguma coisa sobre música ou é apenas um bruto como aparenta ser?

Então eles tinham voltado ao tratamento usual. Eris percebeu.

- De quem você acha que é o piano? Eris ri dizendo: – Chegue mais para lá.

Lyra sentou mais para o lado da banqueta, dando espaço para que pudessem dividir o assento.

Ela ficou bastante surpresa com o que viu em seguida.

Eris arregaçou as mangas de sua camisa branca antes de dominar o piano para si. Seus dedos largos eram rápidos e ritmados. Um verdadeiro artista escondido naquela sala.

A imaginação de Lyra foi para a noite em que finalmente cedeu às investidas de Eris. A forma como ele a tocou e a reivindicou naquele banheiro do bar. Com os mesmos dedos ferozes e ágeis que agora dedilhavam o teclado do piano.

E a canção que ele apresentava, era uma mistura de tons altos com baixos. Como se contasse uma história, despertando sentimentos diversos em seu corpo e alma, fazendo seu coração pulsar mais rápido.

Ele terminou sua partitura e Lyra teve que se conter.

- Exibido. Cuspiu

Eris ri falando: - Você também não se saiu nada mal.

- Eu queria te perguntar uma coisa... Já que tocou no assunto da minha família.

- Estou escutando.

- Eu não recebi nenhuma carta de meus irmãos, desde que cheguei aqui. E já faz quase um mês... Não sei, eu os conheço e acho improvável que ainda não tenham escrito. Também enviei algumas e até agora nada.

Eris ligou um ponto no outro.

Ele sabia a rapidez com a qual as cartas vindas da Corte Outonal eram endereçadas. Sempre eram prioridade. Se Lyra acreditava mesmo que seus irmãos haviam escrito para ela... Só havia uma pessoa que poderia ter intercedido.

Maldito Beron.

- Vou ver o que posso fazer. - Eris responde, disfarçando seus pensamentos.

- Obrigada.

- Não sabia que essa palavra constava em seu vocabulário chulo.

- Porco. Ela dispara.

- Agora está melhor. Ele sorri felinamente. 

Corte de Lâminas e Fogo (ACOTAR - ERIS)Onde histórias criam vida. Descubra agora