Capítulo 28

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Ao saírem do restaurante já estava quase escurecendo, e a temperatura havia caído drasticamente. Lyra sutilmente cruzou os braços para se proteger do frio. Na pressa para saírem ela esqueceu completamente de trazer um casaco.

- Está com frio? Não pensei que fosse esfriar tanto hoje. – Eris tocou seu braço, e em seguida tirou seu próprio casaco de linho e colocou sobre os ombros da fêmea.

- Obrigada. – Ela vestiu o casaco de Eris que mais se parecia com um vestido em seu corpo pequeno.

Ele segurou sua mão, enlaçando seus dedos nos dela e a conduziu por uma das pontes do centro que atravessava o rio da cidade. Muitos dos moradores já haviam retornado as suas casas depois das compras, e as lojas já estavam fechando as portas, de modo que as ruelas já se encontravam vazias. Uma paz e tranquilidade emanavam por onde passavam, mas uma nuvem escura estava se formando no céu.

- Acho que vai chover. – Lyra olhou para o céu e ajeitou o casaco em seus ombros.

- É só uma nuvem passageira. – Eris continuou a caminhar com Lyra ao seu lado.

Eles caminharam alguns minutos em silêncio, só admirando a paisagem outonal.

- Você nunca me disse sua preferência... Para o bebê. – Lyra cortou o silêncio.

- Não tenho preferência. Desde que venha com saúde é a minha maior alegria.

- Você já se imaginou sendo pai de fêmea?

Na verdade não. Eris não queria nem pensar nisso. Não porque estava mentindo quanto ao que disse anteriormente, mas porque agora que seria pai, temia o mundo em que a colocaria. Um mundo machista em que ele viveu e dançou conforme a música durante séculos na corte e dentro de sua própria casa.

- Eu nunca nem me imaginei sendo pai, imagine de fêmea. – Eris tentou descontrair. – Veja bem, já vivi muitos anos e me tornar pai só me parecia cada vez mais uma realidade utópica.

Ele já havia tentado fracassadamente duas vezes de se casar. A primeira com Morrigan, que num primeiro momento Eris acreditou estar fazendo a coisa certa. Já que em seu mundo o herdeiro era obrigado a encontrar alguém nobre e por questões políticas procriar, mas acabou virando uma atrocidade que poderia ter sido poupada. E depois de séculos, por pura vaidade e atração física, arriscou novamente com Nestha, ele poderia ter vivido sem aquele toco.

Depois disso Eris já tinha perdido as esperanças de encontrar alguém ou de ser feliz.

Lyra pareceu ler seus pensamentos.

- Eu sei que já disse isso Eris, mas gostaria de repetir. Você é um macho bom, só é uma pena que Prythian ainda não possa saber disso. Mas eu sei, e o bebê também saberá.

- É só o que me importa. – Eris deu um beijo no topo da cabeça de Lyra.

Ela parou de caminhar na metade da ponte, Eris percebeu que a fêmea diminuiu os passou e parou na sua frente.

- Está cansada? Quer retornar?

- Não, não é isso... – Lyra tentou encontrar as palavras, mas elas não vieram e ela acabou sendo direta demais. – Eris, o que nós somos? Quero dizer, vamos ter um filho juntos, ok. E, nós... trepamos mais de uma vez... – O rubor subiu nas bochechas de Lyra. – Você disse que eu era mais do que apenas a mãe do seu filho e agora estamos caminhando num encontro, não sei o que ... – A garota tentou continuar seus pensamentos frenéticos, mas Eris a interrompeu.

- E você é. – O macho tirou uma mecha do cabelo da fêmea que estava caindo em seus olhos com a brisa do vento. Um trovão iluminou o céu acima deles. – Eris nunca tinha ficado tão sem palavras. Ele sempre foi afiado, parte disso vinha de sua máscara que usava com todos, uma forma de se camuflar, mas Lyra, com aqueles olhos azuis, conseguia derrubar suas proteções e com uma grande facilidade despi-lo apenas com o olhar.

Corte de Lâminas e Fogo (ACOTAR - ERIS)Onde histórias criam vida. Descubra agora