Capítulo 4

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Nas primeiras horas da viagem Eris e Lyra permaneceram em silêncio. Um sentado de frente para o outro naquela carruagem simples e bem menor do que as carruagens oficiais. Seus joelhos quase encostando. O único som que saía da noite era o barulho do trotar dos cavalos puxando o meio de transporte.

- Por que veio me buscar de carruagem? Lyra corta o silêncio olhando pela janela, mas era inútil. Estava muito escuro lá fora.

- Esperava que eu fosse te atravessar grávida? Eris olhou para a barriga de Lyra. Algo passou pela cabeça de dele ao observar, Lyra percebeu, mas Eris disfarçou olhando para o outro lado.

- Sua família já sabe? Ela não precisava dizer mais do que isso. Eris entendeu do que ela estava falando.

- Não. Contaremos amanhã.

Há coisas que só podem ser contadas com provas. Eris pensou.

- E como eles são? Lyra tentou segurar sua língua mas já era tarde demais. Eris a encarou.

- Quero dizer...como você acha que reagirão com a notícia?

Sinceramente não tem como prever o que sua família desestabilizada irá pensar. Eris passou os dias anteriores pensando em contar logo, mas teve receio que seus irmãos mais novos chegassem até Lyra antes dele. E já sabia que seu pai iria querer provas da fêmea grávida. Um passo de cada vez, planejou.

- Minha mãe ficará feliz. Disse por fim. - Meus irmãos e meu pai, vai perceber prontamente que não são os machos mais simpáticos e confiáveis do mundo. Fique longe do radar deles e você se sairá bem. Concluiu.

- Hm. Já sei de quem puxou seu humor extraordinário, então.

- Ficaria chocada em saber.

Lyra já tinha ouvido o bastante do macho arrogante. Ela apenas encostou sua cabeça na parede da carruagem e tentou pegar no sono.


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Próximo do amanhecer, a carruagem estava se acercando do castelo. Eris passou a viagem mais uma vez sem pregar o olho.

Pensou no quanto sua vida tinha virado de cabeça para baixo. Pensou na profecia de Elain e em Lyra.

A fêmea estava num sono profundo sentada. Uma mecha de seu cabelo ruivo cobria o lado direito de seu rosto. Ela era tão jovem. Observou Eris. Não passava de uns 20 anos. Tinha uma longa vida pela frente, e, no entanto, ela a havia desperdiçado na noite em que se deitou com ele. Lyra não fazia ideia do buraco em que estava se metendo ao entrar com ele naquela carruagem.

Uma vida estava sendo gerada em seu ventre. Será que o bebe se pareceria mais com ele ou com ela? Ele cortou seu pensamento. Não importava. Não quando eles finalmente haviam chegado ao castelo.

Os portões altos e escuros se abriram, dando passagem aos cavalos que pararam na porta de entrada. O cocheiro desceu de seu assento e abriu a porta da carruagem.

Lyra percebeu o parar do movimento da carruagem e se ergueu. Ainda estava amanhecendo mas o rosto dela manifestava certo choque, receio e um leve pingo de curiosidade.

O Castelo era... Lyra não encontrava palavras. Nunca tinha visto nada assim antes. Bom, ela nunca tinha colocado os pés para muito longe de sua vila, mas a Corte Outonal era preponderante. Ficava cercado de uma grande vegetação nos tons de laranja, vermelho e amarelo. Escondido do olhar de curiosos como ela.

Suas paredes eram revestidas de pedra e as janelas eram enormes e distribuídas por todas as torres. Uau.

- Chegamos. Eris disse. – Não se esqueça de limpar a baba que você deixou escorrer enquanto dormia feito uma pedra.

- Nossa Eris, não sabia que além de arrogante podia ser engraçado. A fêmea deu um sorrisinho falso.

- Venha. Ele deixou o deboche de lado e ficou novamente sério. -Todos ainda devem estar dormindo.

O que era bom, pensou ele. Não queria dar de cara com ninguém nos corredores antes de fazer o anúncio.

- Pra onde vamos, exatamente? Ela disse enquanto descia os degraus da carruagem.

- Vou te levar ao seu quarto, onde poderá se preparar para o café da manhã. Com a minha família.

Lyra engoliu em seco. Já tinha ouvido escutado histórias sobre a família de Eris. Muitas delas cruéis, outras um tanto quanto tendenciosas, mas definitivamente conhecia a reputação do Grão Senhor Beron e de seus filhos, isso em qualquer das histórias era praticamente a mesma. No que ela foi se meter?  


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- Aqui ficam seus aposentos, espero que seja de seu agrado. Era de um dos meus irmãos mas ele não mora mais aqui...

- Só pode estar de brincadeira.

Lyra ficou de queixo caído. Aquele quarto era maior do que sua casa na vila. Ele não era chique ou requintado, mas tinha sua beleza rústica. As paredes eram de um tom de verde claro e havia muitas janelas para entrar luz no ambiente e um tapete felpudo no centro. Além disso, ela viu uma lareira do lado esquerdo do espaço com uma linda poltrona acolchoada de frente para o fogo. Do lado direito ficava uma pequena escrivaninha com prateleiras e uma cômoda ao lado de sua cama.

Sua cama. Pensou. Ela dividia sua cama apertada com um de seus irmãos mais novos na vila. Agora, a cama que iria passar a noite cabia facilmente três pessoas. Era larga e ao pé dela estava exposto um cobertor quente de pele e muitos travesseiros de diferentes tamanhos.

- O banheiro é por aquela porta, tem água quente sempre que precisar. E o meu quarto fica logo ao lado do seu, se necessitar de algo.

Lyra não podia perder a oportunidade de importuná-lo.

- Acredite em mim, raposinha, eu preferiria me jogar dessa torre a ter que ir até o seu quarto.

Eris entrou na brincadeira.

- Duvido. Te encontro daqui uma hora. Disse por fim, fechando a porta do quarto e a deixando sozinha. 


Notas da autora:

Oiiie, como está sendo a leitura para vocês?! Me contem nos comentários! Quero interagir com vocês leitores! 

Aah, não esqueçam de deixar a estrelinha! isso me ajuda a continuar trazendo mais capítulos todos os dias (:

Corte de Lâminas e Fogo (ACOTAR - ERIS)Onde histórias criam vida. Descubra agora