Capítulo 31

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A noite havia sido longa.

Após soltarem as lanternas, piras de fogo foram acesas na praia dando início a muita música e muita dança. Era incrível a espontaneidade do evento e como o povo se divertia ao mesmo tempo. Era fascinante assistir a proximidade do povo e como Helion fazia parte de tudo aquilo. A maioria das festanças das outras cortes acontecia dentro de quatro paredes, apenas para os nobres, ali todos pareciam se misturar, não existindo hierarquia.

Lyra viu um relance do Grão senhor dançando em uma roda muito animada com um grupo de jovens. As cores da tinta se destacavam no escuro e davam contraste as vestimentas brancas.

Quanto mais tarde ficava, mais louca a celebração se tornava. Lyra se sentou em um tronco de árvore sozinha, enquanto Eris foi pegar qualquer coisa sem álcool para a fêmea beber.

Um feérico alto e sem camisa, com o peito todo cheio de símbolos se aproximou de Lyra, provavelmente para puxar assunto. Eris rosnou para o macho, que se assustou saindo dali rapidamente quando percebeu que a ruiva estava acompanhada.

- Acho que ele está tão bêbado que não reparou que estou grávida.

- Mesmo se não estivesse. – Eris ainda tinha fogo naqueles olhos cor de âmbar.

- Obrigada. – Ela pegou o copo das mãos de Eris e o macho se sentou ao seu lado. – Posso te fazer uma pergunta?

- Se eu responder que não, vai te impedir de fazê-la? – Ele já sabia onde a fêmea queria chegar.

Lyra mostrou a língua: - Helion nunca teve amantes... oficiais? Você sabe, alguém de quem ele gostasse de verdade.

Eris pensou muito em como responde-la. Não queria expor sua mãe.

- Como você pode perceber Helion é um macho de personalidade bem livre.

Lyra olhou para o Grão senhor dançando com um par de outros dois machos bem próximos de si. Praticamente colados um no outro com Helion no meio.

- Ele não tem preferência por gênero.

Lyra compreendeu as palavras do ruivo.

- Mas nenhum amante do qual se apaixonasse?

- Uma fêmea em especial.

- E onde ela está?

Eris queria contar toda a verdade para Lyra, confiava nela acima de tudo. Só não achava que era seu lugar de fala, não quando se tratava da própria mãe e por estarem cercados de companhia que poderia escutá-los.

- Ela... é casada. Não sei ao certo se se relacionavam antes do casamento com o outro Grão senhor ou se só aconteceu depois. O fato é que não estão mais juntos e são de Cortes diferentes.

- Grão senhor? – Lyra o encarou chocada.

Merda. Merda. Merda.

Maldito álcool. Eris havia falado demais.

- Mas então se ele se relacionou com a esposa de outro Grão senhor, só... existem poucos casados.

- Já chega Lyra, num outro momento conversamos disso, está bem?

Ela ficou perdida em pensamentos, tentando resolver a charada. 

- Foi com Feyre?

- Pela Mãe! Não Lyra!

Ela começou a tentar adivinhar quem. – Viviane? – A fêmea disse o nome com espanto.

- Não! Já disse que chega, no momento certo saberá!

- Mas...

- Estou cansado. Vamos retornar ao palácio, precisamos descansar para voltar amanhã para a Corte Outonal.

- Ok... – Lyra mordeu a língua para não implorar por respostas ao macho. Ela não conseguiria dormir anoite, estava morrendo de curiosidade.


--X—


Ao retornarem Eris decidiu que não poderia esconder mais da ruiva sobre a oposição de Beron ter uma neta fêmea. Ele não queria voltar para a Outonal com aquele segredo e Lyra merecia saber a verdade. Já haviam provado diversas vezes que estavam juntos, e que um apoiaria o outro no que quer que aconteça.

Além disso, Eris já havia bolado o plano com Helion de forma que passaria mais segurança a Lyra quando revelasse o assunto.

- Lyra, preciso te contar uma coisa.

- Vai revelar quem teve um caso com Helion? – Lyra se sentou na cama animada.

- Não, é um assunto mais sério. Sobre nós.

- O que foi?

- Antes que você surte, gostaria de dizer que não te contei antes porque queria te proteger. No começo não éramos próximos e eu não sabia se podia contar com você. Esperei até sua gravidez avançasse mais e não fosse um risco.

- Eris, desembuche.

- Espero que tudo bem pra você dar a luz aqui na Diurna. - Ele soltou de uma vez.

Lyra franziu os olhos. – Por quê?

- Porque meu pai ameaçou caso você tenha uma fêmea. Ele não aceitará uma fêmea como herdeira do trono. E eu não permitirei que ele encoste e um fio de cabelo seu ou do bebê.

Lyra entrou em ebulição.

Seus olhos azuis tornaram-se avermelhados.

- Aquele escroto ameaçou o MEU filho?!

- Nosso filho.

Ela ficou possessa de ódio, queria atravessar imediatamente para a Outonal e dilacerar o pescoço de Beron com os próprios dentes.

- Você escondeu isso de mim! Por quanto tempo?

- Por alguns meses, era arriscado demais...

- ME deixasse decidir o que era arriscado para mim e para o bebê que EU carrego na barriga!

- Me perdoe Lyra, eu...

- Saia! – Não havia compreensão nenhuma naqueles olhos, apenas puro ódio. Suas mãos começaram a esquentar.

- Quero ficar sozinha.

Ele queria negar o pedido dela. Não suportava ficar brigado com Lyra, apenas queria consertar as coisas. Mas a respeitava acima de qualquer coisa, se era isso que ela queria ele aceitaria. Talvez ela estaria aberta a conversarem amanhã de manhã quando estivessem descansados.

- Se precisar de algo...

- Não preciso de nada que venha de um macho que continua mentindo para mim. Que não confia em mim. Que trama planos que ME dizem respeito sem a minha opinião. Você diz que somos um time, quando na verdade só existe um ditando as regras. Você e seu pai têm muito em comum.

Teria sido menos dolorido se Lyra o tivesse queimado vivo.

Ele se levantou e fechou a porta atrás de si. 

Corte de Lâminas e Fogo (ACOTAR - ERIS)Onde histórias criam vida. Descubra agora