Capítulo 21

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ALERTA: CONTÉM CONTEÚDO PARA MAIORES DE 18 ANOS!

Depois que os Grão senhores saíram do quarto, Eris ajudou Lyra a se levantar da banheira cuidadosamente e vestir um roupão.

- Já estou me sentindo melhor Eris...

- Todo cuidado é pouco. - Ele cobriu-a com o roupão nas costas.

Os dois se sentaram na banqueta de frente para a cama. Lyra ainda estava com o cabelo molhado.

Os dois pensavam silenciosamente nas últimas horas, no que quase aconteceu.

- Eris... aquelas coisas que você me disse...quando eu estava ardendo em febre...

- Você escutou? Achei que não fosse lembrar...

- Eu tenho uma vaga memória de algumas coisas...

Lyra ainda sentia o toque das mãos de Eris nas suas, a forma como ele fazia carinho em seu cabelo quando estava quase desacordada. Ela se lembrava das palavras de apoio, do desespero na voz de Eris... De o quanto lutou por ela.

A garota ainda estava conectando todas as memórias, tentando fazer sentido de tudo.

Eris atormentara Lyra no começo de tudo, o macho a tirava da paciência como ninguém mais sabia. Era mandão, frio, arrogante, e Lyra passava dia sim dia não querendo jogá-lo da ponte. Mas com o passar do tempo sua hipocrisia foi substituída por atributos que a ruiva nunca imaginou que Eris poderia ter. Pelo menos quando estavam a sós, eles podiam conversar sobre tudo com sinceridade, rir juntos e importunar um ao outro como sempre faziam. 

- Eris eu,

- Por favor, deixe eu falar primeiro... - Eris estava em uma bolha de pensamentos, percebeu a fêmea.

Lyra o deixou.

- No começo, quando você me disse que estava grávida de um filho meu eu... quase não acreditei. Não que eu não acreditasse na sua palavra, mas porque não podia crer que uma benção tão grande pudesse recair sobre mim.

Lyra o encarou surpresa. Ele nunca havia revelado isso, seu ponto de vista da gravidez não planejada.

Ele segurou suas mãos e a olhou nos olhos com ternura. – Logo eu que há 500 anos sinto como se apenas existisse, sentenciado a ser um futuro Grão Senhor de uma Corte autoritária e violenta, a conviver em uma família sem amor e generosidade, a ser obrigado a fazer coisas que não me orgulho. Eu sei que cometi muitos erros no passado, e pra mim tudo de ruim que acontecia era apenas a Mãe me pagando de volta, me castigando como meu pai o faz. Por muito tempo assumi que merecia ser julgado, e deixei o rótulo de frio e cruel tomar conta de mim. Era mais fácil sabe? Houve uma época que eu até mesmo acreditei que eu fosse aquilo.

Lyra ouvia atentamente, segurando firme a mão de Eris como ele o fez na banheira. Havia muita dor em seu discurso, como se aquilo estivesse entalado há muito tempo no peito e nos pensamentos do macho.

- Aí você chegou. – Ele sorriu relembrando. – Como um furacão na minha vida, sem tempo para me preparar, para assimilar. Era uma chance em um milhão. Uma chance de ser genuinamente feliz, como nunca fui antes. Eu até tentei lutar contra, contra a sua teimosia, senso de humor, sorriso selvagem. Acho que quando a gente não conhece a felicidade acabamos negligenciando o sentimento. Eu duvidei que pudesse ser real. 

Lyra sorriu também ao escutá-lo.

- Mas foi mais forte que eu. Você não faz ideia do controle que tem contra mim. E quando acordei e te vi a beira da morte, isso se tornou claro. Por outro lado foi como se a Mãe estivesse me punindo outra vez, como se estivesse arrancando de mim às forças tudo o que eu precisava, mas até então não reconhecia. Como devolver a Mãe tudo o que eu havia sentido ao longo desses últimos meses? Como voltar a ser aquele Eris sozinho, frívolo? Eu orei com todas as forças enquanto estava dentro da banheira por um milagre. - Eris lutou contra as lágrimas que ameaçavam surgir novamente.

Corte de Lâminas e Fogo (ACOTAR - ERIS)Onde histórias criam vida. Descubra agora