Lyra passou as horas que se seguiram trancada no quarto, chorando rios de lágrimas de tristeza e raiva. Tristeza por se sentir traída, raiva por não ter sido capaz de machuca-lo como ele a havia.
Ela iria embora dali. Voltaria para sua vida na vila com seus irmãos. E se fosse muito perigoso iria buscar refúgio em outra corte. Quanto mais perto permanecia do pai de seu filho, mais perigosa sua vida ficava. Que se dane a guerra que travaria com a Corte Outonal por fugir com um primogênito, mas salvaria seu filho das garras do tirano de Eris e sua família.
Lyra escutou um clique na fechadura da porta e seu coração congelou. A garota se levantou tentando ficar o mais afastada possível de onde veio o ruído.
Eris entrou pela porta, lentamente.
- Como conseguiu entrar?! Fique onde está!
- Por favor, sou um grão feérico. Preciso falar com você. – Eris respondeu sem rodeios, friamente.
- Já disse que não temos nada para conversar. – Lyra acendeu chamas em suas mãos.
Eris se surpreendeu com o que viu.
- Você consegue controla-lo agora. – Ele sorriu admirado.
- Sim, para usá-lo contra você se necessário! - A garota o ameaçou.
- Lyra, eu preferiria morrer ao te machucar. Por favor, me escute, depois disso pode decidir se quer me fritar vivo.
Ela poderia fazer isso. Dar a chance dele se explicar para depois o queimar, isto é, se seu poder também funcionasse contra o príncipe do fogo.
- Você tem um minuto.
Eris se sentou próximo da porta no chão, como Lyra o havia pedido.
- O que quer que Mor tenha te contado, existe um outro lado da história.
- Rá, - Lyra riu sarcasticamente. – É claro que tem. A que você é um desgraçado.
- Eu a salvei Lyra, das garras de meu pai e meus irmãos.
- Claro, a mesma história que agora aplica sobre mim. - Ela responde sarcasticamente.
- É diferente! – Eris contestou. – Keir a empurrou para a Outonal, para... fazermos o que achássemos melhor com ela. – Ele engoliu em seco enquanto completava. – Meu pai tinha planos. Planos horríveis para Mor. Ela corria grave risco de vida.
- Aham, não consigo pensar em punição pior do que ser humilhada e pregada viva!
- Ela viraria uma escrava, depois de se casar comigo. Nem mesmo eu poderia protegê-la lá dentro. Não quando meus irmãos sabiam que eu não queria nada com ela. Meu pai estava furioso com... o que Mor fez, eles queriam que ela pagasse.
- Ela só fez o que ela quis. Isso se chama liberdade de escolha!
- Sim! E era o que eu queria para ela também! Ela não me queria, ela...
- Ela o que? O que mais vai criticar em Mor? Agora todas as fêmeas têm que te idolatrar?
- Não é uma crítica. Mas Mor não seria feliz na Outonal, e nem com nenhum macho, porque ela guarda esse segredo.
- Que segredo?
- Mor prefere fêmeas. - Eris disse por fim.
Lyra se surpreendeu.
- Como você sabe?
- Porque eu vi. Certo dia... quando nossos pais assinaram o acordo paguei um espião para saber se Mor estava feliz com a decisão. E descobri tudo ao acompanha-lo até a casa de outra fêmea onde Morrigan... Não vou entrar em detalhes, é pessoal dela. O fato é que a protegi. Das atrocidades de meu pai, de ser escrava na Outonal, das garras de meus irmãos sedentos, e de ser acorrentada a mim contra a vontade. Sabe qual é a punição para fêmeas como Morrigan?
A forca. Essa era a punição na Outonal para feéricos que se relacionavam com outros do meus sexo.
Lyra ficou muda.
- Eu não sou esse monstro que todos me consideram. Não pense que não houve um preço para o que tive que fazer em relação a Mor. Pra mim pouco me importa que Morrigan prefere fêmeas, mas eu não a obrigaria a nada. E se serve de alguma coisa, eu também, secretamente claro, gostaria de ter a possibilidade de encontrar alguém que me escolhesse, que me amasse de volta.
- Isso não anula o fato de tê-la deixado indefesa e machucada na floresta!
- Eu não podia fazer nada! A partir do momento que colocasse as mãos nela, ela se tornaria problema da Outonal. E não teria volta. – Eris relembrou o momento, pelo seu olhar parecia que o momento havia sido doloroso pra ele também. – Assim que soube que Keir a estava jogando em nossa fronteira comuniquei Rysand, e ele enviou o morcego para busca-la. Se não fosse eu ela teria morrido na floresta.
- E Jesminda?
Lyra não conseguia entender como Lucien ainda mantinha relações com Eris depois de tudo.
- Não fui eu quem assassinou Jesminda como todos pensam. Eu nem estava lá no momento de sua... execução. Lucien sabe. Eu estava tentando tira-lo da Outonal, negociando com Tamlin para que o aceitasse na Corte Primaveril. O sangue dela escorre nas mãos de Beron e meus irmãos, não nas minhas.
- E por que não nega tudo isso? Por que não nega para melhorar a sua imagem?
- Porque não podemos dar a entender pra ninguém, principalmente para minha família, que Lucien e eu somos próximos. Que eu repudio as ações de meu pai em vários assuntos, isso seria um convite para meus irmãos me executarem, e para mostrar a Beron que não sou confiável mantendo relações com o filho que ele despreza. Prefiro uma má reputação a ser idiota em ser assassinado.
Lyra apenas suspirou pesadamente. Era demais para um dia só. Eris poderia ser um assassino, poderia ter sangue em suas mãos, mas ainda, ela confiava no macho diante de si completamente. Ele não podia estar mentindo, Lyra podia sentir a verdade em suas palavras, ela não sabia como, mas só sentia.
- Você sabe o que é vestir uma máscara cruel por mais de duzentos anos? Não tem um dia em que eu não queira revelar toda a verdade. Sei que a maioria não vai acreditar, mas eu juro pela minha honra, pelo meu sangue e pelo meu reino que jamais cometi esses crimes. Só quero o melhor para a minha Corte, a Outonal já sofreu demais nas mãos de meu pai. Luto por ela todos os dias, mesmo que percorrendo caminhos sigilosos para protegê-la. Mesmo que para isso todos tenham que pensar que sou o vilão.
- Acredito em sua palavra. – Lyra sentou ao seu lado no chão, encostando a cabeça na parede.
- Obrigado.
Lyra sentiu o peito de Eris relaxar enquanto acendia novamente sua chama dizendo:
- Sua batalha para uma Corte Outonal livre e promissora também é a minha. Lutaremos juntos.
Eris sorriu em concordância.
-Nada me deixaria mais honrado.
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Corte de Lâminas e Fogo (ACOTAR - ERIS)
FanfictionEris é o herdeiro direto do trono da Corte Outonal e esconde muitos segredos. Temido por muitos e detestado na Corte Noturna, ele passa muitas de suas noites bebendo e buscando diversão com fêmeas em bares clandestinos por Prythian. Depois de escuta...