Capítulo 19: Ah, eu lembrei!

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Nunca pensei que uma família poderia ser tão caótica como aquela. Eles estavam berrando uns com os outros, fazendo acusações e, principalmente, querendo saber o que o tal tio Luigi fez com o dinheiro. Eram tantas pessoas falando ao mesmo tempo que eu nem mesmo entendia a maioria das coisas que eram ditas.

Me encolhi na cadeira quando eles começaram a falar mais alto, com crianças chorando junto, berrando, enquanto o padrasto de Pietro tentavam controlar a situação. Um calafrio passou por todo meu corpo e eu tampei os ouvidos com a mão, tentando abafar o som da discussão de todos eles ali, enquanto meu rosto se curvava em uma careta.

—CHEGA! —Alguém gritou, fazendo a mesa toda ficar em silêncio.

Tirei as mãos dos meus ouvidos quando percebi que a mãe de Pietro ainda estava olhando pra mim. Alfredo estava encolhido na cadeira ao meu lado, tampando a mão com a boca para esconder o riso, enquanto Pietro parecia muito tentado a rir também, já que estava com os lábios muito pressionados.

—Ele é meu filho e precisava de dinheiro. Fiz o empréstimo no meu nome, como teria feito pra qualquer um dos meus filhos. —A senhora de cabelos brancos e expressão séria murmurou, enquanto se ajeitava na cadeira ao lado da mãe de Pietro.

Ela continuou a falar, puxando a orelha de cada um por causa daquela discussão. Mas eu já não estava prestando atenção. Minha atenção estava no meu prato e na comida deliciosa que havia ficado esquecida.

—Tudo bem? —Pietro sussurrou ao meu lado, enquanto sua família ao redor começava a conversar lentamente, agora sem acusações e brigas.

—Sim. Claro. —Abri um sorriso tímido e voltei a comer, querendo terminar aquela refeição o mais rápido possível.

—Alfredo, pare de rir. Isso não tem a menor graça! —Ergui os olhos, vendo a mãe deles olhando diretamente para o filho mais novo, com os lábios comprimidos. Em vez de parar de rir, Alfredo explodiu em uma gargalhada maior ainda, o que a fez ficar com o rosto vermelho. —Alfredo!

—Descul... desculpa! —Alfredo gaguejou, ainda gargalhando, enquanto limpava as lágrimas que caiam dos olhos. —Foi sem querer. Não achei que ia dar briga.

—Você fez de propósito! —Ela afirmou, ainda com o rosto vermelho. —Pare de rir! —Ele não parou de rir, parecendo muito tentativa provocá-la apenas com aquela risada.

—Pietro, controle seu irmão. —O padrasto dele pediu, antes de sussurrar alguma coisa para a esposa. —Ele não está sendo muito respeitoso com sua mãe.

—Alfredo? —Pietro chamou, fazendo o irmão parar de rir em instantes e ficar sério. Alfredo continuou comendo, parecendo não estar minimamente preocupado com nada. Mas eu vi quando ele ergueu os olhos para a mãe e soltou uma risadinha, antes de ficar sério de novo. —Alfredo não fez de propósito. Ele achou que todos já sabiam.

—Pare de passar a mão na cabeça dele. Você sabe que ele não é nenhuma criança. —A mãe dele puxou um copo de água, bebendo um pouco antes de olhar na minha direção. Me encolhi, sabendo que ela estava pronta para perguntar alguma coisa pra mim. —Stai uscendo con questa ragazza? (Está namorando com essa garota?)

Fiquei muda, assim como todos na mesa.

—Ela é minha amiga. —Pietro respondeu, olhando pra mim e abrindo um sorriso, como se quisesse dizer que estava tudo bem.

—Non ha una buona influenza su tuo fratello. (Não é uma boa influência para o seu irmão) Ela continuou, fazendo Pietro soltar uma respiração pesada, enquanto eu tentava entender o que ela estava dizendo.

—Você não a conhece. —Rebateu, soltando os talheres e empurrando a cadeira para trás, pronto para levantar. —Eu disse pra parar com isso.

—Estou pensando no bem de vocês. —Afirmou, enquanto Pietro ficava de pé. Até mesmo Alfredo havia parado de comer dessa vez, para prestar atenção na mãe. Ela olhou pra mim e então para Pietro de novo. —Conosco questo tipo di donna. (Conheço esse tipo de mulher)

—Non sei la persona migliore per giudicare la morale di qualcuno, mamma. (Você não é a melhor pessoa pra julgar a moral de alguém, mãe) —Alfredo murmurou, fazendo as pessoas ao redor se engasgarem e a mãe dele ficar muda no lugar. Olhei para Pietro, desesperada para saber o que eles estavam falando.

—Respeite a sua mãe, Alfredo. —O padrasto dele falou, com um tom um pouco mais duro. —Isso não é o tipo de coisa que se diga a mulher que te deu à luz.

—Certo... —Ele deu de ombros, soltando uma risada. —Vou tentar me lembrar disso da próxima vez que ela julgar alguém que nem conhece.

—Eu sei o que estou falando. —Ela afirmou, enrugando a testa. —Mas vocês dois nunca me ouvem.

—Alfredo! —Pietro chamou, assim que Alfredo abriu a boca para retruca-la de novo. —Deixa quieto. Não vale a pena. —Pietro puxou a minha cadeira, me estendendo a mão. Fiquei de pé, sem saber ao certo que fazer depois de todo aquele momento tenso e estranho. —O almoço estava excelente. Peço licença agora, quero mostrar a fazenda pra Hermione.

—Foi o melhor almoço da minha vida. —Alfredo ficou de pé, sorrindo iluminado pra todo mundo. —Deveríamos fazer encontros familiares mais vezes. São sempre adoráveis. —Algumas pessoas soltaram risadas baixas, enquanto a mãe dos dois ainda estava séria, olhando pra nós três. —Voltaremos na hora do bolo, é claro.

Pietro já estava me puxando para longe daquele jardim, negando com a cabeça. Deixei que ele segurasse a minha mão, com meu coração tão acelerado no peito, enquanto eu tentava ainda entender o que havia acontecido ali.

—O que ela disse? —Indaguei baixinho. —O que ela estava dizendo em italiano?

—Nada. Não se preocupe. Minha mãe não é sensata. —Ele sorriu pra mim, querendo me passar confiança. —Está tudo bem, Hermione. Prometo a você...

—Ah, eu lembrei!

Olhamos para trás, vendo Alfredo voltar para mesa, parando na ponta dela e abrindo um sorriso muito grande para a mãe. Pietro apertou minha mão, fechando os olhos como se soubesse o que estava por vir naquele segundo.

—Mãe... —Alfredo respirou fundo, sorrindo muito abertamente, antes de erguer o queixo. —Eu vou largar Harvard!

Não pensei que aquela mulher fosse capaz de desmaiar. Mas ela desmaiou. Caiu tão dura no chão ao lado da mesa que fiquei até mesmo preocupada. Mas Alfredo não ficou, porque virou as costas e caminhou na nossa direção, com um sorriso muito inocente nos lábios.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora