Capítulo 33: Tenho um presente pra você.

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Encarei a tv, observando o filme aleatório que passava. Não estava prestando atenção nas cenas, porque estava ocupada sentindo o cafuné que Pietro estava fazendo no meu cabelo. Estávamos deitados juntos no sofá, abraçados. Não era apenas eu que parecia um poço de carinho, ele também parecia, porque não parava de me tocar ou beijar meu rosto.

—Você vai buscar o Alfredo mais tarde. —Comentei, me mexendo apenas para erguer o rosto e escorar meu queixo no peito dele, para poder observar seu rosto.

—Sim. —Ele sorriu, tocando meu rosto. —Estou feliz que ele vai voltar a morar comigo. Esse apartamento fica muito silencioso sem ele.

—Quando vocês deixaram de morar com a sua mãe? —Indaguei. Não sabia se Pietro havia chegado a morar naquela fazenda.

—Foi assim que eu me formei. Eu já estava trabalhando no café nessa época. Aluguei um apartamento pequeno pra mim e comecei a estudar gastronomia. —Ele traçou a curva do meu nariz, até chegar aos meus lábios. —Alfredo ficou só um mês morando sozinho na fazenda com nossa mãe. Ele não pediu diretamente pra morar comigo, mas eu sentia que ele estava infeliz lá e ele falava todos os dias que sentia minha falta. E eu entendia. Você viu como ela trata nós dois. Não tem a menor emoção. As vezes eu me pergunto se ela sequer ama nós dois. —Pietro engoliu em seco, balançando a cabeça negativamente. —No primeiro tempo livre que eu tive, fui buscá-lo. Não avisei, eu só fui pra lá e disse pra ele arrumar suas coisas. Ele não hesitou um segundo sequer.

—E a sua mãe? Ela não ficou... —Fiz uma careta, sem saber a palavra certa a usar. —Chateada ou brava?

—Ah, não, ela ficou muito brava. Nunca a vi tão irritada antes. Eu não entendo, sabia? Ela não demonstra o menor carinho possível, mas ainda ficou brava quando levei Alfredo pra morar comigo e disse que eu estava estragando nossas vidas. —Ele soltou uma risada baixa e triste. —Ela jurava que eu ia voltar pedindo ajuda pra ela. Disse que eu não sabia o que era cuidar de um adolescente. Fala sério, fui eu que criei ele. Desde o início. Não vou negar, as primeiras semanas foram difíceis pra caramba. Meu salário era bom, mas tinha o aluguel, os materiais da minha faculdade e a gente precisava comer também. E o apartamento era pequeno. Dormíamos exprimidos junto com nossas coisas.

—Sinto muito. Deve ter sido um período difícil. —Falei, tocando o rosto dele, fazendo o mesmo que ele fazia comigo. Pietro sorriu de leve, beijando a ponta dos meus dedos.

—Foi. Ela não procurou a gente nas primeiras semanas. Acho que ela estava certa de que eu ligaria pedindo ajuda. Não sei. —Ele deu de ombros. —Mas eu nunca pensei em ligar pra ela, porque nunca vi Alfredo tão feliz. Sabe, quando morávamos na fazenda não era ruim. Íamos pra aula e depois passávamos a tarde trancados nos nossos quartos. A gente estava acomodado lá. Mas depois, aquele pequeno apartamento virou nosso cantinho. Podíamos sair quando queríamos e tomar nossas próprias decisões. E ver meu irmão feliz era o suficiente pra me dar certeza que estávamos no caminho certo. Trabalhei e fiz todas as horas extras que conseguia. No ano seguinte, com a ajuda do Ian, aluguei esse apartamento.

—Ian? —Falei, surpresa, vendo ele balançar a cabeça afirmativamente.

—Devo muito a esse cara, Hermione. Ele não é só meu chefe, é quase como um irmão. Ele é uma das melhores pessoas que eu já conheci e me ajudou muito em todos esses anos. Todas as vezes que eu precisava de dinheiro adiantado, ele arrumava sem perguntar nada. Quando eu precisava sair no meio do trabalho por causa de uma emergência com o Alfredo, ele me liberava sem hesitar. —Ele sorriu, puxando meu rosto para deixar um beijo na ponta do meu nariz. —Ele me ajudou a achar esse apartamento. Me deixou estudar no café, quando na verdade eu deveria estar servindo os clientes.

—Ele é um pouco temperamental as vezes. —Comentei, fazendo Pietro sorrir. —Mas é adorável.

—Sim. Tenho muita sorte de ter ido pedir emprego pra ele e ele ter me aceitado. —Pietro me puxou mais para perto de si, beijando minhas bochechas. —Não quero pensar nesses dias. Gosto de como estou agora. Esse caminho estranho e confuso me trouxe até aqui. Até você.

—Isso é fofo. —Falei, esfregando minha bochecha no peito dele.

—Você acha? —Ele se sentou, me obrigando a sentar também. —Tenho um presente pra você.

—Presente? —Ele me deu um selinho, ficando de pé. Observei ele sair da sala e ir para o corredor, voltando segundos depois com um embrulho. Encarei o presente e depois o rosto dele, ficando ansiosa pra saber o que era.

—Não vou te entregar agora. Primeiro vou te  levar pra casa e você vai abrir quando estiver no seu quarto sozinha. —Ele se sentou ao meu lado, enquanto eu tentava imaginar o que era. Tinha o formato de uma caixa média. Mas era difícil imaginar que presente poderia ser, já que estava com um simples e fofo embrulho de papel pardo, com um laço vermelho.

—Não posso abrir agora? —Ele balançou a cabeça negativamente, enquanto eu encolhia os ombros. —Por que não?

—Confia em mim. —Ele segurou minhas mãos, entrelaçando nossos dedos. —Você vai entender quando abrir no seu quarto.

—Tudo bem. —Olhei para a caixa e pra ele de novo. —Acho que eu quero ir pra casa agora, porque eu estou muito curiosa.

Ele soltou uma risada, me puxando para si enquanto beijava meus lábios. Pietro não deixou que eu pegasse o presente em nenhum momento. Ele o carregou até o carro e deixou no banco de trás, enquanto eu me sentava ao seu lado na frente, observando as ruas da cidade, agora cobertas de neve.

Bem-vindos a temporada de neve em Aspen. Muitos turistas, tombos na rua por conta do chão escorregadio, bonecos de neve em formatos estranhos e toda aquela magia diferente que aquela cidade ganhava. Mal podia esperar para o Natal.

Fiquei tão ocupada olhando as ruas que nem notei o quão rápido chegamos no meu prédio. Pietro subiu comigo até a porta do meu apartamento, me enchendo de beijos e abraçados quentinhos e aconchegantes, antes de enfim de despedir.

—Vejo você amanhã? —Ele me deu um último beijo, tirando os flocos de neve do meu cabelo. —Não vou trabalhar no café. Tenho que ir pro prédio da padaria. Vão montar a cozinha amanhã e eu preciso estar lá pra que tudo fique no lugar certo. Mas podemos almoçar juntos. Eu, você, Alfredo e a sua mãe.

—A minha mãe e sua versão legal. —Murmurei, feliz por escutar a risada que escapou dele. —Eu gosto dessa ideia.

—Tudo bem. —Ele finalmente estendeu a caixa pra mim, parecendo muito feliz por todo suspense. —Vejo você amanhã, meu bem.

—Obrigada por essa noite e pelo presente. —Afirmei, ficando na ponta dos pés para beija-lo.

Pietro foi embora logo depois de me roubar alguns beijos. Entrei em casa com o coração quase na boca, passando direto pela minha mãe, que comentou algo sobre o sorriso imenso que estava nos meus lábios. Azeitona estava comigo quando me sentei no meio da cama, com o embrulho na minha frente.

—Vamos ver o que é, Azeitona.

Tirei o laço, rasgando o embrulho, sentindo meu coração acelerar ao ver que era a mesma caixa que eu havia entregado pra ele de manhã. A caixa em que todos os post-its estavam. Abri a caixa na mesma hora, com meus dedos tremendo ao encontrá-la cheia deles, mas agora com as letras de Pietro em cada um.

Citações de livros. Elogios. Todos os motivos que o fizeram gostar de mim.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora