Capítulo 47: Vim ver o meu filho.

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Dei um passo para trás, com meu sorriso diminuindo um pouco ao vê-la ali. Seus olhos se cerraram, me avaliando de cima a baixo, antes da mesma torcer os lábios, fazendo meu interior se revirar.

—Olá! —Tentei sorrir de forma simpática, sentindo um nó se formar na minha garganta quando a expressão dela sequer oscilou.

—Onde está o Pietro? —Ela passou por mim, quase me empurrando para o chão no processo.

—Na padaria. Deve chegar daqui a pouco para almoçar. —Esclareci, vendo os olhos dela pararem em Azeitona, que estava largado no sofá. —Eu estou aqui por causa do Alfredo. Ele está gripado e Pietro não queria que ele ficasse sozinho. Como não estou abrindo a floric...

—Sim, eu sei que ele está gripado. Fui avisada sobre isso. —Comentou, dispensando o resto da minha explicação com um aceno de mão. —Eu vim ver o meu filho. Onde ele está?

—No quarto... —Antes que eu terminasse de falar, ela já estava marchando naquela direção, com as botas fazendo um barulho nada agradável pelo caminho, me causando um calafrio pelo corpo.

Me encolhi, esfregando minhas bochechas antes de ir atrás dela, me sentindo um pouco idiota. Ela abriu a porta sem bater, dando um susto em Alfredo que estava claramente cochilando. Ele piscou, olhando dela pra mim, e então outra vez, confuso.

—Mãe? —Ele se sentou na cama, pegando alguns lenços para assoar o nariz. —O que está fazendo aqui?

—Vim saber de você, é claro. —Ela parou na ponta da cama, enquanto eu me escorava no batente da porta, abraçando eu próprio corpo. —Já foi ao médico?

—Ontem. —Alfredo se limitou a dizer aquilo, mesmo que a realidade tenha sido o médico vindo até ele.

—Ótimo, então você já vai ficar melhor. —Ela olhou de novo na minha direção, me fazendo desviar os olhos dela para o chão. —E a senhorita já pode voltar pra própria casa.

—Ficou louca? —Alfredo murmurou, um pouco alto. —Hermione pode ficar aqui por quanto tempo quiser. Você está sendo grosseira, mãe. —Ele olhou pra mim, enquanto a mãe começava ficar vermelha. —Sinto muito, princesa. Tia Lucy já voltou?

—Quem é Lucy? —Ela olhou pra mim, enquanto eu sentia meus ombros ficarem pesados e minha garganta se fechar.

—Minha mãe. —Falei, vendo os olhos dela ganharem um tom que eu não fazia ideia do que significava, mas tinha certeza que não era coisa boa.

—Sua mãe. —Repetiu, pouco mais que um grunhido.

—Pois é. Tia Lucy é um amor, sabia? Ela cancelou o viagem de volta dela pra Boston pra vir aqui cuidar de mim. —Alfredo ergueu o queixo, abrindo um sorriso muito, muito grande para a mãe. —Ela é uma mãezona.

Eu já conhecia Alfredo o suficiente para saber que ele estava falando aquilo de propósito. Mas não achava que era uma boa hora para aquilo. A expressão dela deixava claro que ela estava muito, muito infeliz e irritada. E eu tinha certeza que a maior parte desse sentimento ruim era direcionado a mim, por mais que eu não tivesse feito nada.

—Você não tem cinco anos. Não precisa de alguém pra cuidar de você como uma criança mimada. —Afirmou, fazendo Alfredo jogar as cobertas pro lado e ficar de pé.

—Que hipocrisia hein, mãe? Quando eu tinha cinco anos e precisava de cuidados você não estava lá como deveria. —Ele começou a tossir, fazendo uma careta ao tentar alcançar o copo de água na mesinha ao lado da cama. —Na verdade, acho que você nunca esteve em momento algum.

—Não comece com esse drama infantil. —Ela bufou, enquanto Alfredo revirava os olhos, dando de ombros. —E você?

Me encolhi, vendo que agora ela estava olhando pra mim.

—Mãe, pode brigar comigo e falar o que quiser pra mim. Mas não vai fazer isso com a Hermione! —Alfredo exclamou, enquanto eu me encolhia mais ainda, querendo abrir um buraco no chão e me esconder. —Não ouse a ofender na minha frente.

—Está tudo bem, Alfredo. —Murmurei baixinho, ouvindo ela rir.

—Não, com certeza não tem nada bem aqui. —Ela retrucou, falando um pouco alto demais. —Eu fecho os olhos por dois segundos e essa garota está morando com vocês? Trazendo a mãe dela junto?

—Ela só dormiu aqui essa noite porque eu estava mal e ela passou o dia comigo! —Alfredo afirmou. —Você nem liga pra gente. Que merda pensa que está fazendo agora, mãe?

Levei um susto quando Azeitona parou atrás de mim, começando a latir. Ele sempre fazia isso quando o tom de voz das pessoas ao seu redor subia mais do que necessário.

—Além disso, ela é namorada do Pietro. Pode dormir aqui quantas malditas noites ela quiser! —Alfredo completou, enquanto a mãe dele olhava para o cachorro ao meu lado, latindo sem parar na direção dos dois.

—Cuidado com o que fala! —Ela soltou o ar com força. —Pode mandar esse cachorro calar a boca?

Puxei Azeitona para fora do quarto, sentindo minha respiração ficar irregular e meu coração martelar dentro do peito. O mundo parecia estar se fechando ao meu redor, dificultando cada puxada de ar para dentro dos meus pulmões.

—Mãe, pare! Pare agora mesmo, mãe...

—Você não tem vergonha? —Olhei por cima do ombro, vendo ela vir atrás de mim, com a expressão mais fechada e raivosa possível. —Acha que eu não sei o que está fazendo?

—Não estou entendendo. —Sussurrei, vendo ela soltar uma risada que fez minhas bochechas esquentarem.

—Pare de agir como se fosse a criatura mais inocente do planeta, garota! —Exclamou, enquanto eu me virava para tentar acalmar Azeitona, que tinha voltado a latir sem parar na direção dela.

—Mãe, pare com isso! —Alfredo apontou para a porta. —Vá embora! Se vai ficar ofendendo ela, então vá embora! Não quero você aqui.

Mas ela não pareceu ouvir o que ele disse, porque ainda estava olhando pra mim. Ainda estava me encarando de uma forma que fazia meu coração despencar no peito. Me olhando da mesma forma que todas aquelas pessoas olhavam pra mim no colégio, na época daquela festa e daqueles post-its idiotas. Era o mesmo olhar de julgamento. E aquilo estava me deixando sem ar.

—Você nem contou ao seu namorado que tem autismo. —Eu parei, congelada de horror, sentindo meu mundo parar de girar. —Pois é, eu sei disso. Pietro também sabe, porque eu contei pra ele, já que pelo visto você não tinha intenção alguma de contar a ele.

Acho que não consigo respirar. Tudo estava girando e girando. Meus olhos ficaram embaçados pelas lágrimas e eu pensei ter ouvido a voz de Pietro. Mas o que quer que fosse, minha mente estava longe demais pra ouvir.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora