Capítulo 50: Você nunca vai encontrar outra Hermione.

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Pietro

Fechei a porta do apartamento com o pé, fazendo ela se fechar com um baque. O cheiro de queimado ainda estava um pouco evidente, mas nada que não pudesse ser resolvido, diferente da situação que eu estava. Minha cabeça estava uma bagunça, assim como meus sentimentos.

—Cara... —Alfredo apareceu na sala, esfregando o nariz. —E aí? Falou com ela? Ela está bem?

—Ela não quis me ver. —Falei, dando de ombros, enquanto me dirigia até o sofá e me sentava de cabeça baixa.

—O que? —Alfredo parou na minha frente, ainda vestindo o pijama de hoje mais cedo, quando tudo aconteceu. —Como assim? Vocês... vocês terminaram?

—Eu não sei. Ela só se trancou no quarto e não abriu de jeito nenhum. Nem pra mim e nem pra mãe dela. —Olhei pra ele, me sentindo cansado demais até mesmo para explicar. —Acho que não terminamos. Mas também não acho que isso seja um bom sinal. Eu mandei mensagem, liguei, bati na porta e nada.

—Cara, ela deve estar super triste. Você sabe que nossa mãe consegue ser super maldosa quando quer. Eu não estava esperando que ela fosse aparecer aqui e ela também não me ouviu quando eu mandei ela parar. —Alfredo se sentou ao meu lado, encolhendo os ombros. —A Hermione ficou bem assustada quando nossa mãe falou que sabia que ela tinha autismo. Acho que eu não ia saber o que fazer se você não tivesse chegado na hora.

—Ela estava assustada. —Falei, lembrando de quando cheguei e ela estava toda encolhida no chão, tapando os ouvidos para não ouvir a briga e os latidos de Azeitona. Estava tremendo em soluços. Senti meu próprio coração doer ao vê-la daquele jeito e saber que foi por causa da minha mãe. —Por que ela veio aqui?

—Ela disse que tinha vindo me ver. Sei lá. —Alfredo coçou a garganta, olhando pra mim de relance. —O que vai fazer agora?

—Vou dar um tempo pra ela. Se ela quer espaço, não posso ficar forçando nada. Mas também não vou desistir dela. Vou consertar o que nossa mãe fez. —Afirmei, muito mais do que determinado. —Não vou deixar nossa mãe estragar a única coisa boa que consegui na vida.

—Nossa... valeu. —Alfredo levou a mão no peito, fingindo ter ficado chateado.

—Para, você é meu irmão. É diferente. —Baguncei o cabelo dele, o escutando rir. —Você está melhor?

—Sim, não se preocupe. Tia Lucy é um anjo. —Ele sorriu pra mim, ficando de pé. —Vá cuidar da sua namorada agora. Eu vou ficar bem.

[...]

Pietro — Ela está bem?

Lucy — Ela saiu do quarto só agora.
Talvez seja melhor dar um tempo pra ela, está bem?
Eu te aviso qualquer coisa.

Hermione não havia respondido nenhuma das minhas mensagens, por sorte a mãe dela gostava de mim o suficiente para me mandar mensagens algumas vezes e me responder quando eu perguntava por ela. Mas aquilo estava acabando comigo. Não consegui me concentrar no restante do trabalho do dia. Não consegui prestar atenção em nada que as pessoas falavam pra mim. Eu só queria que a Hermione falasse comigo. Só queria que ela me ouvisse.

Minha mãe havia me ligado e enviado várias mensagens, mas tudo que eu fiz foi ignorar cara uma dela, como se o número fosse de algum estranho querendo incomodar. Tentei por tanto tempo esperar dela algo mais do que indiferença. Mas quando ela resolve participar, é apenas para estragar o único laço afetivo que consegui formar com alguém.

Não sabia que tipo de relação de mãe e filho tínhamos até hoje. Mas agora acho que não existe mais nada. Não sei o que Alfredo pensa disso, mas ele é adulto o suficiente para resolver os próprios problemas com nossa mãe. Mas pra mim já deu. Cansei de tentar e não avançar. Não posso lutar sozinho por essa relação que morreu a anos.

—Pietro? —Ian estalou os dedos, me fazendo erguer os olhos. Estava no mini escritório da padaria, olhando para a parede a uns bons minutos, que nem ao menos o vi chegar. —O que está havendo com você, ragazzo? A florzinha terminou foi? —Olhei pra ele sem esboçar nenhuma reação, vendo seus olhos se arregalaram. —Meu Deus, vocês terminaram mesmo?

—Não, não... pelo menos eu acho que não. —Dei de ombros, soltando uma respiração pesada. —Aconteceram umas coisas e ela está me evitando. Talvez ela só queira ficar sozinha, eu não sei. Mas isso está me matando por dentro agora.

—O que você fez de errado? —Olhei pra ele com as sobrancelhas erguidas.

—Não foi eu. Foi a minha mãe. —Afirmei, vendo ele fechar os olhos e soltar um barulho de indignação com a boca.

—Merda! —Sibilou, enquanto eu concordava com a cabeça. —O que a bendita fez dessa vez? Sério, sua mãe é o capeta, Pietro. Aquela mulher sofreu uma lavagem cerebral depois do seu pai falecer.

—É, dá pra ver o quanto o luto afeta as pessoas as vezes. Ela não era nem perto disso quando meu pai estava vivo. —Soltei o ar com força, esfregando minhas mãos no rosto. —Mas não importa mais. Só quero que Hermione volte a falar comigo. Que me escute e que não termine comigo.

—Ela não vai fazer isso. Relaxe. —Ele deu umas batidinhas no meu ombro. —Vá pra casa. Eu cuido de tudo por aqui.

—Ah, não. Eu... —Ele balançou a cabeça negativamente, me puxando para ficar de pé. —Ian, eu posso ficar. É sério, está tudo bem.

—Vá pra casa, pense, relaxe e depois vá atrás da sua namorada. —Ele se sentou na cadeira onde eu estava, sorrindo. —Você nunca vai encontrar outra Hermione por aí se perder essa, ragazzo. Mas acho que sabe disso.

Eu não sabia. Eu tinha certeza.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora