Capítulo 18: Ex-militar.

3K 424 114
                                    

Pietro e Alfredo tem muito da mãe na fisionomia. O tom dos cabelos eles puxaram certamente da mãe. Os olhos de Alfredo, um pouco mais escuros do que os de Pietro vieram dela, o que me fez crer que Pietro tem mais do pai de alguma forma. Não sei quantos anos ela tem. Nunca falamos sobre idade nem nada. Mas pela aparência jovem e muito bonita, eu diria que está entre a faixa de 35 a 40. Jovem demais para não dar a menor importância para os filhos.

—Mãe! —Pietro murmurou assim que ela parou na nossa frente.

Não houve abraços, beijos e muito menos toques de mão. Ela apenas parou ali, como se estivesse falando com dois clientes que acabaram de chegar para o jantar. Muito diferente de quando Pietro e Alfredo se encontraram no aeroporto.

—Chegaram cedo. —Ela comentou, olhando para um e depois para o outro.

—Era isso ou perder o almoço, já que você deixou bem claro que não ia esperar especificamente nós dois. —Alfredo comentou, enquanto passava as mãos na camisa amaçada, sem olhar pra ela. A mulher apenas comprimiu os lábios, antes de olhar pra mim.

—Mãe, essa é a Hermione. —Pietro espalmou a mão nas minhas costas, me puxando para mais perto de si. —Hermione, essa é a minha mãe, dona Antonella.

—É um prazer conhecê-la, senhora. —Estendi a mão, abrindo um sorriso simpático. Ela apertou minha mão e me observou de cima a baixo, de uma forma que me deixou desconfortável.

—Seja bem-vinda, Hermione. —Ela sorriu, olhando para Pietro logo depois. —Como está a reforma?

—Quase pronta. Vou abrir em breve. —Pietro afirmou, ficando com os olhos iluminados. —Provavelmente no próximo mês.

—Ainda fazendo bolos e doces de aniversario por fora? —Ela estava com a testa enrugada, o que se acentuou quando Pietro confirmou.

—Tenho um pra fazer esses dias, inclusive. É um bom passatempo. Eu gosto. —Ele deu de ombros, ainda sorrindo. —Eu poderia ter feito o bolo de vocês, se tivesse me pedido.

—Tayler quem lidou com a questão do bolo, não eu. —Ela sorriu, balançando a cabeça em um gesto que eu não entendi. Mas ouvi muito bem Alfredo sussurrar um ''mentirosa'' ao meu lado. Alto o suficiente para que a mãe escutasse. Ela o olhou, soltando um suspiro. —Como vai a universidade?

Nossa, aquela conversa estava muito estranha, apesar do assunto ser algo tão normal. Mas algo na forma como ela agia e como os dois agiam era estranho, como se já tivessem feito aquilo várias vezes que tudo era feito no automático agora, sem emoções nem nada.

—Está... —Alfredo hesitou, olhando na direção do irmão. —Está indo. Nada de novo. Só aulas e mais aulas. Você sabe.

Esse clima estranho, não gosto dele. Não gosto nem um pouco.

[...]

A mesa enorme no jardim estava cheia de comidas cheirosas e com cara de estarem deliciosas. Estávamos todos sentados ao redor dela, nos servindo e almoçando, em meio a várias conversas, risadas, choro de crianças e o clima tranquilo, que felizmente substituiu aquele estranho de quando chegamos.

Pietro me serviu logo no início, explicando cada comida italiana que havia ali, com uma animação contagiante. Incrível que quanto mais tempo passo com ele, mais entendo suas emoções. Eu estava sentada entre ele e Alfredo, que não parava de tagarelar ao meu lado, conversando com alguém que eu imaginava ser seu tio por parte de mãe.

—Isso é bom. —Comentei, depois de provar um macarrão diferente que Pietro tinha colocado no meu prato. Ele sorriu ao ouvir isso, me olhando de relance. —Mas a sua comida é melhor.

—Posso cozinhar algumas comidas italianas pra você nos próximos jantares. —Propôs, antes de fazer uma careta. —Ah, eu esqueci. Sua mãe...

—Depois que ela for embora. —Falei, rápido demais,  ouvindo ele rir, antes de focar os olhos nós meus, me fazendo corar. —Depois que ela for, podemos voltar a jantar e cozinhar juntos se quiser.

—Claro, vou adorar. —Ele piscou pra mim, desviando a atenção para as pessoas ao redor. Seu sorriso, assim como o meu, sumiu quando eu percebi que sua mãe estava prestando a atenção em nós dois. Ela estava sentada ao lado do marido, Taylor. Um ruivo com ar tranquilo e sorriso fácil.

—O que você faz, Hermione? —Indagou, alto o suficiente para todos na mesa ficarem em silencio. Me encolhi com o excesso de atenção, sentindo meus ombros pesarem demais.

—Eu sou dona de uma floricultura. —Respondi, com a atenção focada no meu prato de comida, onde eu cutucava uma alface com o garfo.

—E como vocês se conheceram? —A pergunta veio do marido, que eu havia sido apresentada mais cedo. Ele estava com o braço ao redor do ombro  da esposa e também olhava na nossa direção.

—Hermione frequenta o café que eu trabalho. Já nos conhecíamos a anos, mas só nos aproximamos a algumas semanas. —Pietro esclareceu, me fazendo suspirar de alivio por não precisar falar, no meio de toda aquela gente silenciosa que prestava atenção.

—E os seus pais? —Olhei para a mãe de Pietro, desviando os olhos na mesma hora.

—Minha mãe mora em Boston. Ela é corretora de imóveis. Meu pai é ex militar. Está aposentado a alguns anos e agora está viajando pelo mundo, conhecendo outros países. —Afirmei, abrindo um sorriso fraco, antes de sentir a mão de Pietro segurar a minha por baixo da mesa, quando comecei a estalar os dedos. —Ele está na Itália atualmente, com a minha madrasta.

—Ah, que coincidência. —Alguém murmurou na mesa, enquanto eu balançava a cabeça afirmativamente.

—Você morava com ele aqui em Aspen então, antes dele se aposentar? —Indagou, enquanto eu sentia a sensação de estar sendo sufocada.

Odiava aquele tipo de pergunta. Odiava falar sobre a minha vida. Uma pergunta sempre levava a outra e quando eu percebia a pessoa já sabia coisas demais sobre mim.

—Não. Eu morava com os meus avós. —Esclareci, apertando a mão de Pietro que segurava a minha. —Mas eles já faleceram.

Escutei vários murmúrios de ''sinto muito'' e ''tadinha'' vindo das pessoas na mesa. Abri um sorriso fraco, tentando parecer bem com tudo aquilo, apesar de estar triste por dentro. Quando olhei para a mãe de Pietro de novo, ela ainda estava me observando, com a mesma expressão séria de sempre.

—Você...

—Mãe! —Pietro a chamou, não deixando que ela prosseguisse. —Pare com isso.

—Não estou fazendo nada. —Ela deu de ombros. —Estou apenas tentando conhecer sua amiga.

—Não, você está, sim. —Ele entrelaçou nossos dedos por baixo da mesa, fazendo meu coração dar um salto no peito, antes de encarar a mãe. —Estou pedindo que pare.

Um silencio estranho ficou no ar, enquanto eu sentia meu coração martelando no peito, sem saber como agir quando a mão de Pietro estava tão grudada na minha, como se fossemos muito mais que amigos. A mãe dele abriu a boca, pronta para falar algo direcionado a ele.

—Tio Luigi já pagou o empréstimo que pegou com a vovó? —Alfredo questionou do nada, fazendo todos olharem na direção do homem que eu imaginava ser o tio Luigi.

—Que empréstimo? —Alguém indagou.

—Oh, vocês não sabiam? —Alfredo ergueu a cabeça, todo inocente, antes de dar de ombros. —Hm, pelo visto não pagou.

E simples assim, a mesa explodiu em conversas altas, gritos e exclamações sobre o tal empréstimo, enquanto Alfredo voltava a comer, como se nada estivesse acontecendo, com um sorrisinho no rosto.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora