Capítulo 23: Estarei te esperando.

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—Não, eu não contei. —Afirmei, sentindo minha garganta começar a se fechar. —Porque não tem importância.

—Você disse que ele é importante. Se ele é realmente importante deveria saber. —Rebateu, me fazendo bufar. —É melhor do que ele descobrir sozinho, não acha?

—Agora você ficou preocupada com ele? —Ergui as sobrancelhas, vendo minha mãe passar as mãos nos cabelos. Ela entrou no quarto, observando cada cantinho como se reconhecesse cada mania minha em cada ponto.

—Eu me preocupo com você. Pode ser demais, mas me preocupo. —Ela se sentou na ponta da cama, batendo a mão ao seu lado para que eu fosse em sentar ali. Mesmo a contragosto eu fiz, me sentando encolhida ao seu lado, tentando manter minha atenção em qualquer ponto menos no rosto dela. —Não quero te sufocar. Mas já passamos por algo assim e você saiu machucada.

—Você não estava aqui quando aconteceu. —Afirmei, porque era a verdade. Ela estava em Boston. Meus avós cuidavam de mim. Eles me viram começar toda essa mania com post its. Já tentei parar. Mas não consigo.

—Não, mas eu sei como você se sentiu. Das outras vezes que eu vim, não tinham tantos post its por aqui. —Ela estava me observando, eu podia sentir. Mas não me virei para encara-la. —E hoje eram muitos, Hermione. Todas as paredes e armários.

—Não quero que mexa nas minhas coisas. —Afirmei, apertando o único papel restante entre meus dedos. —Não quero que fique brigando comigo por eu ser assim.

—Você vai contar pra ele? —Encolhi mais os ombros, negando com a cabeça. —Se ele for seu amigo de verdade, não vai se importar com isso.

—Ele pode já ter percebido sozinho. —Dei de ombros. —Ou não. Eu tento parecer o mais normal possível perto dele.

—Você é normal! —Ela retrucou, puxando minha mão livre para segura-la. —Pare com essa coisa de dizer que não é normal. —Soltei um suspiro abafado, apertando minha outra mão fechada, protegendo o papel, quando ela fez menção de toca-la. —Só quero que você fique bem, filha. Só isso. Estou feliz que tenha feito amizades e que esteja saindo com alguém. Só não quero que você se machuque. Você é a coisa mais importante da minha vida. —Ela me puxou para um abraço, fazendo meu rosto afundar na curva do seu pescoço. —Você merece as melhores coisas desse mundo. Só as melhores.

Balancei a cabeça em concordância, porque não fazia ideia do que dizer. Havia um buraco no meu peito, como se eu acabasse de perder uma parte de mim que eu nem sabia qual era.

—Me desculpa. —Ela continuou sussurrando coisas, me apertando e beijando minha testa. —Eu senti saudades.

—Eu também. —Murmurei baixinho. —Eu também, mãe. —Passei meus braços ao redor dela, sentindo meu coração voltar a bater aos poucos. —Por favor, nunca mais mexa nas minhas coisas. Nunca mais.

Ela suspirou, alto e pesado, antes de beijar minha testa.

—Tudo bem. Prometo que não toco em mais nada.

[...]

08:30
Pietro — Ei, tudo bem?
Você não apareceu no café hoje.
Pensei que a gente podia ir almoçar juntos, o que acha?
Alfredo vai pegar o avião mais tarde e quer se despedir.
Posso passar aí depois?

09:15
Pietro —Tudo bem, estou começando a achar que você está chateada.
Foi por causa da minha mãe, não é?
Foi algo que eu fiz?

09:40
Pietro — Se eu te mandar um super donuts, ganho seu perdão?
Mas é sério, está tudo bem?
Se sim, por favor, me responde quando puder.
Estou começando a ficar preocupado.

Apaguei a tela do celular quando minha mãe passou na minha frente, levando um vaso de flores para o jardim atrás da floricultura. Fiz uma careta e me afundei no banquinho, afundando o rosto entre as mãos.

—Acho que eu sou uma péssima pessoa, Azeitona. —Olhei pra ele, vendo-o latir para o gato da loja vizinha. —Tudo bem, eu deveria responder. Deveria ter respondido desde o início. Mas estou muito, muito confusa. —Belisquei a ponta do meu nariz, fazendo uma careta. —É, eu sou mesmo uma péssima pessoa.

Olhei para a porta quando o sino tocou, anunciando um cliente. Mas o homem que vinha com um pacote de papel não tinha cara de quem estava ali para comprar flores.

—Hermione? —Indagou, enquanto eu balançava a cabeça afirmativamente. —Entrega pra você.

—Eu não comprei nada... —Ele soltou o pacote no balcão e empurrou pra mim. Senti meu rosto esquentar quando vi o símbolo do Ice's Coffee na frente, com meu nome marcado de caneta. O homem não disse nada, apenas acenou e virou as costas.

Abri o pacote, sentindo o cheiro delicioso de donuts saindo dali. Quase gemi de felicidade ao encontrar meu sabor favorito dentro de uma caixa transparente. Puxei o post it que estava colado nele, abrindo um sorriso muito, muito grande.

"Percebi que não gosto de ficar sem falar com você por muito tempo. Estou perdoado?
Ps: Posso mandar donuts o dia todo se for necessário.
Pietro."

Guardei o papel na minha bolsa, tendo a certeza que iria cola-lo no meu espelho do quarto assim que chegasse me casa. Aquele simples gesto fez toda minha tristeza das últimas horas ir embora. Como da última vez, escolhi outro pequeno vaso com o cacto mais florido e bonitinho que havia ali e enviei pra ele. Depois, peguei meu celular e finalmente respondi as mensagens.

Hermione — Minha mãe está aqui.
Ela chegou ontem a noite.
Podemos nos ver mais tarde?
Vou ter que recusar o almoço.
Manda um beijo para o Alfredo e deseje uma boa viagem por mim.

Pietro — Posso passar aí as 16:00?
Mas está tudo bem?
Vocês brigaram?

Hermione — 16h, vou ficar esperando.
Não foi um reencontro agradável.
Eu conto mais tarde.

Ele demorou pra responder, o que me fez esfregar as mãos nas bochechas, um pouco ansiosa demais.

Pietro — Você me mandou outro cacto?
Espera, não vou conseguir esperar até a tarde.
Preciso ver você agora.
Pode me encontrar na praça entre o café e a floricultura?

Hermione — 10 minutos?

Pietro — Estarei te esperando.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora