Capítulo 4: Posso te ensinar a cozinhar.

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—Desculpa, não queria te assustar. —Pietro murmurou, vindo me ajudar, quando comecei a erguer a bicicleta do chão. Ele pegou minha bolsa e a caixa de donuts, sem deixar de sorrir ao colocá-la de volta no cesto da bicicleta. —Você está bem?

—Estou, obrigada. —Afirmei, enfiando o celular na bolsa para poder ir embora dali.

—Eu sinto muito. Escutei a conversa com a sua mãe. —Ele olhou ao redor, para a rua quase deserta e para os carros que passavam ali, ficando em silêncio por alguns segundos. —Quer que eu te acompanhe até em casa?

—Eu estou bem. —Foi o que consegui responder, soando um pouco evasiva. Não sabendo ao certo que responder.

—Eu já estava indo embora agora. Posso te acompanhar. —Propôs de novo e eu acabei erguendo os olhos para encarar os dele, que estavam me fitando. Desviei na mesma hora, lembrando que ele ouviu a conversa com a minha mãe.

—Já disse que estou bem. Posso muito bem ir sozinha pra casa. —Soltei uma respiração pesada, me sentindo irritada, enquanto subia na bicicleta.

Normalmente tenho dificuldade em entender as emoções das pessoas. Mas quando vi Pietro se encolher inteiro na minha frente, percebi que minha frase tinha o chateado. Ele abriu a boca para falar, mas fechou-a de novo, fazendo isso repetidas vezes.

—Sinto muito. —Falei baixinho, antes de sair pedalando de volta pra casa, sentindo o peso do mundo recair sobre minha cabeça e meus ombros, enquanto percorria as ruas, com o som dos trovões que anunciavam uma chuva me acompanhando.

[...]

Papai — Sua mãe só está dando uma de superprotetora de novo.
Tem certeza que não quer vir pra Itália?
Ainda dá tempo.
Posso comprar a passagem agora mesmo.

Hermione — Vou ficar bem.
Só trás uma lembrança pra mim.

Afundei o rosto no livro aberto no meu colo, sentindo a frustração pesar em cada passo que eu dava no dia. Acordei atrasada de novo. O dia estava chuvoso e estranho. Não fui ao café, porque não queria encontrar Pietro, depois de ele ter ouvido a conversa com minha mãe. Não era nada demais, além dela aumentando a voz para falar aos quatro ventos que eu não tenho capacidade de morar sozinha.

—Será que eu interpretei errado, Azeitona? Ele se ofereceu pra me acompanhar até em casa, logo depois de minha mãe dizer que não gostava de me ver na rua até tarde. —Encolhi os ombros, sentindo minha mente sufocada de informações. Azeitona ergueu a cabeça que estava escorada nas patas e me encarou. —Eu deveria pedir desculpas por ter sido rude, não é?

Ele latiu, me fazendo soltar uma risada e me levantar do banquinho atrás do balcão da floricultura onde eu estava. Afaguei a cabeça dele e lhe dei um petisco, voltando pro meu lugar.

—O que eu faço então? Devo ir falar com ele e pedir desculpas? —Azeitona voltou a me encarar, com a cabeça tombada para o lado. —Melhor não. Talvez... flores? —Olhei ao redor, para todas as flores que haviam ao meu redor. —Ou...

Abri um sorriso, ficando de pé e indo até a área das suculentas e dos cactos. Observei cada uma delas, até encontrar um cacto com uma flor vermelha. Peguei o mesmo e abri um sorriso ao ver que era a escolha certa. Voltei até o balcão e o embrulhei, passando um laço ao redor do vaso, antes de puxar o bloquinho de post it.

   "Não queria ter sido rude com você. Sinto muito por ontem. Achei que um cacto combinaria com você.
Hermione."

Entreguei o vaso para o entregador e observei ele se afastar, pressionando meus lábios em uma linha fina. A chuva continuava caindo do lado de fora. Mas pelo menos o peso do mundo sobre mim parecia ter ido embora junto com aquele pequeno e significativo cacto.

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora