Capítulo 29: Ensino médio.

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Pietro se deitou na minha cama, afastando meu notebook apenas para me puxar para si. Fiquei entre seus braços, sentindo o calor do seu corpo, com sua mão deslizando pelas minhas costas e a outra fazendo cafuné na minha cabeça. Meu rosto estava pressionado contra seu peito, ouvindo o som do seu coração, batendo tão acelerado quanto o meu.

—Eu conheci ele no ensino médio. —Hesitei, sentindo meu corpo tremer quando meus olhos se encheram de lágrimas de novo. —Eu já era assim naquela época, não gostava de sair, era quieta e nunca fazia amizades com ninguém. Estava preocupada em me formar, entende? Eu só queria passar o ensino médio sem toda aquela coisa de adolescentes problematicos. Cameron tinha mudado de colégio naquele momento. Era bonito, inteligente e super popular.

Pietro não disse nada, ficou em silêncio, ainda fazendo carinho nos meus cabelos, enquanto eu começava a contar aquela história. Queria saber o que ele está pensando. Queria saber o que ele sente por mim.

—Ele se interessou por mim logo no primeiro dia. Eu achei estranho, porque eu não era ninguém. Era só a garota esquisita que sentava na primeira fileira e não falava com ninguém. Estava sempre com a cara nos livros. Mas ele olhou pra mim. Ele se interessou por mim, enquanto todos os outros agiam como se eu fosse invisível. —Esfreguei minha bochecha contra o peito dele, fechando os olhos com força. —Eu evitei ele até o segundo ano do ensino médio, quando estávamos quase saindo de férias de final de ano. Aquele dia eu tinha brigado com a minha mãe por telefone, não lembro o porquê, deveria ter sido um motivo bobo. Mas eu fiquei me sentindo mal e me escondi na biblioteca depois do final das aulas. —Engoli em seco, sentindo Pietro deixar um beijo na minha testa. —Cameron apareceu lá aquele dia. Ele me viu escondida entre as estantes de livros, encolhida e solitária. Nunca tinha dado ouvidos pra ele. Mas eu ouvi ele naquele dia. Deixei que ele se aproximasse de mim. Ele ficou a tarde toda sentado lá comigo, lendo um livro ao meu lado, enquanto me contava sobre sua vida.

"A gente se aproximou e eu me encantei por ele. Pela forma como ele me tratava e olhava pra mim. Ele me apresentou para a família dele e eu o apresentei para os meus avós e depois para os meus pais. Começamos a namorar uns meses depois. Saímos quase todos os dias nas férias, até as aulas começarem de novo. Era estranho. Ele era popular e eu preferia ficar longe do tumulto. Mas conseguimos chegar a um meio termo que agradava nós dois. Ele era bom pra mim. Me fazia sentir mais humana e menos estranha no meio daqueles adolescentes cheios de hormônios.

Um dia, ia ter uma festa na casa de um amigo dele e ele insistiu pra que eu fosse, porque era importante pra ele. Eu odiava festas do colégio, porque eu me sentia fora do lugar. Mas eu fui, porque ele era importante pra mim. Só que quando eu estava lá, não conseguia me sentir bem. A música alta demais. Pessoas bêbadas, fedendo a álcool, se pegando em todos os cantos. E os amigos dele eram um bando de idiotas. Nunca achei que Cameron combinasse com aquele tipo de gente. Ele era diferente quando estava comigo.

Quando eu senti que não aguentava mais um segundo lá, avisei ele que queria ir embora. Eu pensei que ia ficar tudo bem, que eu iria pra casa e ele continuaria na festa. Mas ele ficou bravo. Ficou bravo porque eu não me esforçava pra fazer amizades e socializar mais. Ficou bravo por eu tratar os amigos idiotas dele com indiferença. Ele me levou pro quarto do amigo pra gente conversar..."

—Hermione... —Pietro fez menção de se afastar, mas eu me agarrei a ele, como se ele fosse meu bote salva-vidas.

—Não aconteceu o que está pensando. Me deixe terminar, por favor. —Ele relaxou, com o coração ficando ainda mais acelerado, enquanto voltava a me abraçar. —A gente discutiu sobre a festa, sobre nosso namoro e sobre os amigos dele. Eu não me importava com os amigos dele. Estava lá por ele. A gente parou de discutir em algum momento, porque ele começou a me tocar, a me beijar e isso sempre me desarmava. Só que eu estava cansada daquilo. Estava exausta daquela festa e da discursão. Então, quando ele tentou mais do que só beijos, eu me afastei. Cameron não era um babaca a ponto de forçar algo. Quando eu não quis, ele se afastou. Mas ele voltou a ficar bravo. Eu nem sequer entendia o porque de ele estar tão bravo. Não parecia ser apenas por conta daquela festa e dos amigos. Eu nem sei. Mas eu fui embora. Deixei ele pra trás. No dia seguinte, ele me ignorou. Quando tentei falar com ele, resolver a situação, ele fingiu que eu não existia. Aquilo me machucou mais do que qualquer outra coisa, porque eu achava que ele gostava de mim, que aquela discussão boba poderia ser resolvida com uma simples conversa. Mas ele resolveu agir daquele jeito.

"Então eu voltei a fazer o que fazia de melhor, ser invisível. Só que não durou muito. Começou com alguns sussurros pelos corredores. Fofocas maldosas sobre o que havia acontecido no quarto entre nós naquela noite. Todos estavam falando disso. Ninguém falava diretamente pra mim, mas eu sabia que era sobre aquilo. Depois vieram os post its. Todos os dias, milhares deles colados no meu armário. Todos com frases nojentas e maldosas."

Eu me afastei de Pietro, me sentando na cama para encarar minhas próprias mãos, envergonhada. Ele fez o mesmo, me observando. Aquilo não tinha importância. Eram só pessoas fazendo fofoca e espalhando mentiras maldosas. Mas me machucou. Me machucou de uma forma terrível.

—Algumas eram frases do tipo "não sei o que Cameron viu em você, esquisita". Outras eram mais pesadas do tipo... —Hesitei, com meu estômago se revirando. —"Se eu te tratar com carinho você vai dar pra mim também?" —Pietro ficou de pé em um instante, de costas pra mim, enquanto soltava uma respiração pesada ao ouvir aquilo. —E... "A vadia esquisita e fácil de comer". Ficou pior. Muito. Mais e mais frases todos os dias. Com comentários nojentos e...

Fechei meus olhos, afundando meu rosto entre as mãos. Não consegui terminar a frase. Porque ficava pior. Cada frase ficava cada vez pior que a outra. Limpei as lágrimas que manchavam minha bochecha, sentindo vontade de sumir naquele instante.

—Cameron voltou a falar comigo quando soube dos post its. Ele me ligou e enviou várias mensagens. Só que todo o encanto havia ido embora. Eu não sentia menor vontade de olhar ou falar com ele. —Continuei, soltando o ar com força. —Ele me parou no corredor um dia, quando eu estava fugindo pro banheiro depois de mais uma leva de post its idiotas no meu armário. Ele me pediu desculpas. Ele praticamente implorou e eu não senti absolutamente nada. Era como se ele fosse um completo estranho pra mim. Não sei o que tínhamos até naquele momento, mas eu coloquei um ponto final. Pedi pra ele falar com os amigos dele, que usasse a popularidade dele pra fazer com que parassem com aquilo. Não sei o que ele fez e não me importo. Mas no dia seguinte não tinha nada no meu armário. As pessoas ainda sussurravam coisas pelos corredores. Cameron ainda corria atrás de mim, implorando mais uma chance. Só que eu me fechei. Me fechei o restante do ano até a formatura. Cameron me procurou algumas semanas depois, pra avisar que estava se mudando e em uma última tentativa de voltar. Só que tudo que eu mais queria era esquecer da existência dele e de todo aquele ano.

Pietro se virou pra mim e me encarou, de pé ao lado da cama. Não olhei pra ele, porque meu rosto estava contorcido em vergonha, enquanto as lágrimas ainda caiam dos meus olhos.

—Eu ainda guardo os post its que colaram no meu armário. Foi por causa deles que comecei a fazer isso em casa. Não sei o que aconteceu, mas eu sentia vontade de anotar qualquer coisa sem sentido e colar nas paredes. —Engoli em seco, indicando a porta do armário. —Acho que eu só estava tentando substituir a lembrança ruim. Preciso ver algo bom, aleatório e sem sentido anotado em um post it, porque me sinto vazia sem eles. Porque me lembro daquelas frases e me sinto horrível...

Pietro se sentou na cama, segurando meu rosto e fazendo com que eu erguesse a cabeça para encara-lo. Ele enxugou minhas lágrimas, enquanto eu tentava descobrir o que aquele brilho bonito nos seus olhos significava.

—Você não é horrível. Você, Hermione, é a pessoa mais linda que já conheci em toda minha vida. Não estou falando de beleza física, estou falando de quem você é de verdade. —Ele me puxou, tocando os lábios na minha testa enquanto me abraçava apertado. —Isso que aconteceu, tudo isso... vamos resolver, está bem? Eu e você. Vamos substituir essas lembranças ruins por coisas boas, doces e lindas.

Ele afastou o rosto do meu, enquanto eu balançava a cabeça em concordância. Seus olhos fitaram os meus, com sua expressão cheia de um carinho de partir o coração.

—Vou consertar isso, meu bem. —Ele segurou meu queixo, deixando um selinho nos meus lábios. —Confia em mim. Vou cuidar de você, prometo.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora