Capítulo 49: Não vou desistir de você.

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As chamas se espalharam para o pano de prato que estava na bancada ao lado, antes de minha mãe correr até lá para ajudar os dois a conter as chamas. Olhei para a mãe de Pietro, que estava me encarando como se soubesse que a culpa era minha. E de fato era. Eu estava cozinhando. Eu esqueci das panelas sobre o fogo.

Corri até a porta, vestindo meu casaco e as botas, antes de disparar para fora dali. Meu coração estava martelando no peito e as lágrimas estavam borrando meu rosto. Foi isso que eu fiz da última vez, quando aqueles post-its apareceram. Eu fugi pra casa. Fugi pra não precisar encarar o rosto de todo mundo, enquanto a vergonha me consumia.

Escorreguei na calçada quando finalmente passei pela porta, andando apressadamente pela rua. Não olhei pra trás para ver se alguém estava vindo atrás de mim. Não olhei para as pessoas no caminho enquanto corria sem parar na direção do meu apartamento. Quando cheguei lá, entrei deixando um rastro de neve pelo chão, antes de entrar no meu quarto e trancar a porta.

Corri para minha cama, chutando as botas até cair sobre o colchão, me encolhendo enquanto meu corpo tremia em milhares de soluços. Fiquei naquela posição até meus olhos ficarem inchados e meu nariz ficar entupido.

[...]

Ainda estou trancada no meu quarto. Não abri a porta desde que cheguei. O dia já deu lugar à noite. Não sei quantas vezes minha mãe já bateu na porta implorando pra eu abrir. Meu celular também tocou milhares de vezes. Mas não me movi para atender e muito menos para olhar quem era. Não queria falar com ninguém e não queria ver ninguém.

—Hermione, abra a porta! —Ouvi a voz da minha mãe do outro lado, enquanto a maçaneta se mexia sem parar. —Filha, abra a porta por favor. Pietro está aqui, querida. Abra a porta.

Não movi um músculo sequer enquanto a maçaneta continuava se movendo. Ouvi minha mãe conversar com alguém no corredor, mas estava baixo demais para que eu entendesse. Tentei me mexer, mas meu corpo estava estranhamente dolorido e rígido das horas deitada na mesma posição.

—Hermione? —Olhei fixamente para a porta, absorvendo o som da voz de Pietro. —Ei, meu bem, abre a porta pra mim? Por favor, preciso muito falar com você. Abra a porta, por favor.

Escorreguei para fora da cama, sentindo meus lábios colados um no outro, enquanto parava na frente da porta, com meus olhos pesados e minha cabeça latejando em uma dor de cabeça terrível.

—Eu sei que minha mãe te tratou mal. Me perdoe por isso. Eu sinto muito mesmo. Por favor, abre a porta. —Pietro implorou, com a voz carregada. —Por favor, Hermione, abra a porta pra mim. Eu vou consertar isso. Eu juro. Por favor, meu bem. Só me de uma chance, eu juro que vou consertar isso!

Me sentei no chão, escorada na porta, enquanto minha testa estava pressionada nos meus joelhos. Ouvi uma respiração pesada do outro lado, enquanto meu corpo treme quando volto a chorar baixinho. Não quero abrir a porta. Não quero que ele me veja assim. Não quero que ele se sinta mal, quando o problema sou eu.

—Por que não fala comigo? Por favor, me perdoe pelo que aconteceu. Eu sinto muito mesmo. —Ele prosseguiu, com a voz soando trêmula. —Sobre o que ela falou... eu não me importo. Juro pra você, não ligo se tem autismo ou qualquer outra coisa. Por favor, fale comigo. Me deixe entrar aí e abraçar você.

Não consigo me mover. Quero ouvir o som da voz dele, mas não quero ouvi-lo dizer essas coisas. Não quero que se sinta culpado. Nunca. Mas não posso abrir a porta. Não posso olhar pra ele agora. A voz da mãe dele continua ecoando pela minha cabeça, me lembrando que sou uma mentirosa que não teve coragem o suficiente pra contar ao namorado algo tão importante.

Ergui os olhos quando meu celular começou a apitar. Fui até o casaco jogado no chão e o puxei do bolso, pressionando meus lábios quando um nó se formou na minha garganta. Eram milhares de mensagens de Pietro.

Pietro — Tudo bem, você quer ficar sozinha. Eu entendo isso, por mais que queira conversar com você.
Sei que minha mãe te tratou mal e te ofendeu. Mas eu não penso como ela. Você sabe disso. Você me conhece. Não me importo se tem autismo e não me contou isso. Sei que quando se sentisse segura o suficiente você me contaria por conta própria.
Também não me importo que tenha. Não muda quem você é. Eu me apaixonei exatamente por essa Hermione que está trancada no quarto agora, que está há uma porta de distância de mim.
Tenha o tempo que precisar pra ficar sozinha e pensar, mas eu te imploro, não me afaste, meu bem. Não termine comigo e não me afaste da sua vida. Eu posso esperar o tempo que você quiser, mas não me afaste.
Você é perfeita pra mim, lembra?
Quero entrar nesse quarto e abraçar você. Quero beijar todas as suas lágrimas.
Quero cuidar de você.
E quando você estiver pronta, eu vou fazer exatamente isso. Quando você permitir, vou consertar tudo isso e não te soltar mais.
Eu estou aqui, Hermione, e não vou desistir de você.


Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora