Três anos antes...
Apertei minhas mãos dentro do bolso do casaco, sentido a neve cair nos meus cabelos. Minha respiração estava causando uma névoa assim que passava pelos meus lábios. Não conseguia olhar para nada além dos meus pés, observando minhas botas deixarem uma marca na neve.
—Você não vai olhar pra mim? —Cameron indagou, com a voz soando um pouco mais de um sussurro. —Por favor, Hermione. Eu estou tentando a tanto tempo. Fale comigo. Ou pelo menos olhe pra mim enquanto eu falo com você.
Soltei uma respiração pesada, fechando meus olhos por alguns segundos, enquanto mordia o interior da bochecha.
—Boa viagem, Cameron. Espero que você consiga tudo que deseja. —Afirmei, erguendo um pouco os olhos e o encarando por entre meus cílios repletos de neve. —Mas não vou voltar com você. Nosso namoro acabou e não quero tentar de novo.
—Por que não? Por causa daqueles boatos? Eu juro que não tive nada a ver com aquilo! —Ele deu um passo na minha direção e eu um para trás, o fazendo parar no mesmo instante.
—Eu acredito em você. Mas isso não significa que não tenha feito algo que me machucou. Você fez. Você ficou bravo e brigou comigo por algo totalmente sem sentido. Não pode me obrigar a gostar das mesmas coisas que você e muito menos conviver com seus amigos que claramente não gostam de mim. —Murmurei, tentando pensar direito. —Perdoo você, se é isso que deseja. Não o odeio e desejo tudo de melhor pra sua vida. Mas não quero mais fazer parte dela e também não quero mais que você faça parte da minha. Acabou.
—Por favor... só uma chance, Hermione. Só isso que eu te peço. —Implorou, dando outro passo na minha direção e erguendo a mão para me tocar. Me afastei no mesmo instante, erguendo o rosto e o encarando, enquanto negava com a cabeça. —Por favor... só uma chance.
—Boa viagem, Cameron. —Repeti, umedecendo os lábios com a língua, enquanto desviava dele para caminhar pela calçada. —Eu tenho que ir agora. Mas foi bom ver você. Obrigada por ter vindo se despedir. Mas eu realmente tenho que ir agora.
—Hermione? —Eu já estava me afastando quando ele chamou. —Por favor... Hermione?
Não olhei pra trás e não parei de andar. Estava observando a neve que caia pela rua. As pessoas com roupas até o pescoço. E me senti aliviada quando ele não insistiu e finalmente foi embora, andando na direção oposta que eu. O que quer que aquilo fosse, era muito significativo pra mim. Algumas coisas precisam ser deixadas pra trás. Algumas coisas merecem serem esquecidas. Cameron infelizmente era uma dessas coisas.
Fiquei andando sem qualquer rumo pelas ruas, sentindo o ar gelado bater contra minhas bochechas. Parei na frente de uma vitrine, vendo os animais que estavam perto do vidro, prontos para serem adotados por alguém. Abri um sorriso ao ver a caixa onde estavam alguns filhotes de labradores. Todos com pelos pretos e roupinhas de tricô. O menor deles, quietinho em um canto, usava um com uma cor verde.
—Você parece uma azeitona, sabia? —Me aproximei do vidro, tocando ele com a ponta dos dedos para chamar a atenção do filhote. Ele abanou o rabo, lambendo o vidro quando tentou alcançar minha mão. Soltei uma risada, vendo-o me encarar com os olhos grandes e muito apaixonados. —Quer ir pra casa comigo, garoto?
Ele latiu do outro lado do vidro, como se confirmasse. Abri um sorriso muito maior antes de ser empurrada por alguém que estava passando correndo pela calçada, me fazendo tropeçar e escorregar no chão. Tentei me segurar na pessoa, puxando ela junto comigo quando desabei no chão com tudo.
—Meu Deus, me desculpe! —Abri os olhos, dando de cara com um rosto super próximo do meu. —Eu machuquei você?
Não prestei atenção no que ele dizia. Estava ocupada demais absorvendo o rosto dele. Bochechas rosadas, nariz vermelho, cabelos escuros cheios de flocos de neve e olhos arregalados encarando os meus. Senti, por alguns segundos, meu coração parar de bater.
—Ei, tudo bem? —Ele saiu de cima de mim, enquanto eu sentia meu rosto esquentando. —Eu estava com pressa. Não vi você. Sinto muito. —Ele ficou de joelhos do meu lado, enquanto eu me sentava no chão, tirando os cabelos que estavam no meu rosto. —Eu te machuquei?
—Estou bem. Não tem problema. —Olhei pra ele, desviando os olhos logo em seguida quando percebi que ele me encarava. —Eu estava distraída.
—Me desculpe, eu não te vi... Vem, eu te ajudo. —Ele ficou de pé, estendendo as mãos para me ajudar. —Eu não te machuquei mesmo? Cai com tudo em cima de você.
—Não, estou bem. —Afirmei, sentindo minhas bochechas queimando, vendo que ele não desviava os olhos um segundo de mim.
—Bem, sinto muito. —Ele olhou para o relógio, fazendo uma careta. —Posso pagar um café pra você? Ou qualquer outra coisa?
—Ah, não, não... tudo bem. Não precisa. Eu estou bem mesmo. Juro. —Falei, olhando pra ele por alguns segundos, percebendo o quanto ele era bonito. Os maçãs do rosto. Os lábios. Os olhos. Sim, ele era muito bonito. Não me lembro de tê-lo visto antes.
—Eu insisto. Eu trabalho ali. —Ele mostrou o café mais à frente na calçada, indicando com a cabeça que eu o seguisse. —Vem, vou te pagar um café.
—Tudo bem. Mas eu não gosto de café. —Falei, sendo sincera. Ele soltou uma risada, olhando pra mim antes de voltar a encarar a rua.
—Certo. Do que você gosta então? —Indagou, abrindo a porta do café para que eu entrasse primeiro.
—Chocolate quente.
—Então escolha um lugar que eu logo chego com seu chocolate quente. —Ele tirou a jaqueta, olhando pra mim uma última vez antes de sumir na cozinha do café.
Mordi o lábio e olhei para o café ao redor, vendo todo o interior parecido com um café dos anos 80. Parecia que eu havia viajado no tempo. Era diferente e até mesmo fofo. Escolhi uma mesa perto da janela, me sentando para observar as pessoas na rua. Minha bunda estava dolorida e minha respiração um pouco fora de controle.
—Um chocolate quente e um donuts de morango com chocolate pra você. —O rapaz voltou, deixando um copo de chocolate quente na minha frente e um pratinho com um donuts. —Por minha conta.
—Não precisa, sério... —Falei, vendo ele negar com a cabeça, me fazendo parar de falar e morder o lábio. —Obrigada.
—Estou as ordens. —Ele sorriu pra mim, começando a se afastar. Então parou, se virando pra mim. —Ah, meu nome é Pietro.
—Hermione. —Murmurei, com o sorriso dele se ampliando ao ouvir.
—É um prazer, Hermione. —Ele voltou a se afastar, ainda olhando pra mim com o sorriso muito bonito. —Espero que volte mais vezes.
Fiquei observando ele ir atender as outras mesas, até terminar o que ele havia trazido pra mim. Sai do café logo depois, com a sensação de estar deixando algo para trás. Uma sensação de eu que havia ganhado algo e não sabia o que era. Não pensei muito sobre isso. Entrei na loja onde estavam doando os cachorros e alguns minutos depois sai com aquele pequeno filhotinho aninhado no meu casaco.
—Vamos pra casa comigo, garoto? —Murmurei, acariciando a cabeça dele, enquanto ele se encolhia dentro do meu casaco, choramingando de felicidade. —Vamos pra casa, Azeitona. Vou cuidar de você.
Abri um sorriso, caminhado pela calçada. Quando passei pela frente do café, vi de relance Pietro andando lá dentro. Parecendo distraído ao anotar o pedido de um dos clientes. Ele ergueu os olhos como se soubesse que estava sendo observado e sorriu quando me viu, antes de voltar a atenção para o que estava fazendo. Sorri também, mesmo que minhas bochechas estivessem pegando fogo, lembrando do que ele havia dito por último.
E eu voltei naquele café. Todos os dias.
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Docemente Apaixonados / Vol. 1
Storie d'amoreHermione é uma das singularidades da acolhedora cidade de Aspen. Com vinte anos, dona da sua própria floricultura, amante de livros, mãe de pet e super antissocial, ela tem tudo sobre controle na sua vida. Tudo sobre controle mesmo, já que sua vida...