Capítulo 20: Ela tá puta da vida.

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Cutuquei a cabeça do pastor imenso de pelos brancos que estava praticamente babando na minha jardineira, apenas para ter certeza que ele não iria me morder ou qualquer outra coisa. Como tudo que ele fez foi abanar o rabo e se aproximar mais, acariciei a cabeça dele, abrindo um sorriso.

—Você não é mau, não é? É um cachorro fofo. —Afirmei, vendo ele choramingar e pedir mais carinho ainda, erguendo a pata e colocando sobre a minha perna.

Olhei para trás quando ouvi o som de uma porta batendo. Alfredo havia acabado de sair de dentro da casa, atravessando o jardim para vir até o banquinho que eu estava sentada. Não conseguia decifrar o que estava expresso no seu rosto. Mas sabia que não deveria ser bom, porque ele não estava sorrindo. E Alfredo estava sempre sorrindo.

—Molly já veio pedir carinho pra você? —Indagou, abrindo um sorriso e se sentando ao meu lado, enquanto observava a cachorra que agora eu sabia se chamar Molly ganhar carinho.

—Ela é uma graça. —Afirmei, deixando um beijo no topo da cabeça dela, antes da mesma se afastar para pedir carinho para Alfredo também. —Está tudo bem?

—Hm... sim, sim. Está. —Ele deu de ombros, antes de suspirar. —Quer dizer... ela tá puta da vida, mas vai sobreviver a isso. —Fiz uma careta e Alfredo soltou uma risada, antes de negar com a cabeça. —Está tudo bem, princesa. Sério, eu e Pietro já sabíamos que ela iria reagir assim. Ela tende a ser um pouco dramática e tem essa coisa de desmaiar como se sua vida fosse uma grande peça de teatro cheia de drama.

—Você já tinha contado pra Pietro então? —Ele assentiu, sorrindo.

—Ele é sempre o primeiro a saber de tudo, princesa. Já tinha decidido que ia largar a um tempo, mas estava sem coragem pra fazer isso de fato. —Ele cutucou a grama com o pé, fazendo uma careta. —Mas eu não estava gostando. Não estava feliz. Morei em Cambridge, fiz amizades e me esforcei no curso. Fazia três meses que eu estava em Nova York, fazendo um estágio em um escritório e eu percebi que odeio fazer aquilo. Contei pro Pietro na noite depois que cheguei, depois que ele foi te deixar em casa e voltou.

—E o que ele disse?

—O de sempre. A decisão e sua e eu te apoio. Aí é que está, ele sempre me apoia e isso é até mesmo engraçado. Sempre sei como ele vai reagir as coisas. Nunca vi meu irmão bravo. Ele é o sinônimo de calma e controle. —Ele rio, esfregando as bochechas com as mãos. —Já sabia que ele iria me apoiar, assim como já sabia que minha mãe ia fazer essa coisa de desmaiar. Eu não ia contar na frente de todo mundo. Na verdade, ia esperar esse encontro familiar estranho passar.

—Por que mudou de ideia? —Indaguei, voltando a acariciar o cachorro que voltou pra cima de mim. —Na hora eu fiquei preocupada. Ela caiu dura no chão. Mas você estava sorrindo.

Alfredo rio, dando de ombros.

—Ela começou a fazer aquelas perguntas a você e depois começou a te julgar com base nelas. Eu só queria que ela parasse. Por isso falei do empréstimo do tio Luigi. Era uma coisa insignificante que eu sabia que ia gerar confusão. Dinheiro sempre gera confusão na família. —Ele tombou a cabeça de lado e bufou. —Mas ela continuou e eu simplesmente voltei lá e falei. Queria que o clima ruim que ela própria criou se voltasse pra ela.

—Então... estava tentando me proteger? —Indaguei, vendo Alfredo virar a cabeça e me olhar, como se estivesse se divertindo as minhas custas. —Hm... obrigada, eu acho. Ninguém nunca fez algo assim. E sinto muito se eu causei algum problema.

—Ah, não. Nossa família já é cheia de problemas normalmente, princesa. Você não fez nada. —Ele negou com a cabeça, dando um apertão na minha bochecha. —E não precisa ficar preocupada com a nossa mãe. Como eu disse, ela sempre desmaia. Chega a ser chato.

—Você já fez ela desmaiar outras vezes? —Indaguei, escutando ele soltar uma risadinha.

—Ah, sim. A maioria da família acha que eu faço as coisas de propósito pra irritar minha mãe. Acham que eu sou um mimado querendo atenção, porque sempre faço algo que ela não gosta. —Ele olhou para a fazenda ao nosso redor, sorrindo. —O que eles não sabem é que eu simplesmente não penso na minha mãe quando vou fazer alguma coisa. Só não posso fazer nada se ela é o drama em pessoa. Deveria ter visto o Natal passado. Achei que ela iria ter um ataque cardíaco.

—O que você fez? —Ele rio mais alto, mordendo o lábio.

—Eu trouxe um namorado pra ela conhecer. —Ergui as sobrancelhas, vendo os olhos dele brilhando em diversão. —Até ai, nada demais, né? O problema é que ela estava esperando uma princesa de cabelos loiros e olhos azuis. E eu trouxe um cara branco, cheio de tatuagens e com cara de mau. —Alfredo tampo a boca, como se quisesse gargalhar só com a lembrança. —Nossa, nunca vou me esquecer desse dia. Ela ficou tão... mas tão chocada.

—Oh! —Soltei uma risada, passando a mão por uma das minhas tranças. —Achei que você gostasse de mulher.

—Eu gosto. Não tenho nada contra um bom par de peitos. —Arregalei os olhos e ele gargalhou, ficando até mesmo vermelho ao curvar a cabeça para trás. —Brincadeira, princesa. Não estou tentando ser babaca. Mas eu gosto de mulheres também. Mas também não sou cego em relação aos homens.

—Entendi. —Olhei para trás, tentando ver se Pietro já estava vindo ou não. Mas ele provavelmente ainda estava conversando com a mãe sobre o que havia acontecido. —Ainda namora ele?

—Não. Ficamos só alguns meses juntos. Não deu certo. —Ele deu de ombros, sorrindo de leve. —Minha mãe ficou feliz com isso. Mas ainda não gosta de me ouvir dizer que acho homens bonitos.

—Pode falar sobre os homens bonitos comigo. Eu não ligo se gosta deles também. —Afirmei baixinho, tentando ser sincera. —Gosto muito de você, Alfredo.

—Ei, princesa, eu também gosto muito de você. —Ele passou o braço ao redor de mim, soltando uma risada ao me dar um abraço estranho. —Isso é engraçado, né? Conheço você a uns três dias. —Olhei pra ele, sem saber ao certo o que dizer. Então apenas abri um sorriso. —Bom, mas não vou falar de homens bonitos com você. Meu irmão me mataria por isso.

—Te mataria por isso? —Fiz uma careta, vendo ele soltar uma risada e morder o lábio, como se estivesse pensando em algo que não iria dividir comigo.

Olhei para trás quando escutei o barulho a porta, ficando feliz em ver Pietro saindo lá de dentro, com a expressão mais séria que eu já tinha visto. Mas ele logo sorriu assim que viu nós dois, assim que olhou pra mim e me viu olhando-o.

—Ela brigou com você? —Alfredo indagou, assim que Pietro parou ao lado do banco em que estávamos.

—Aquela coisa de sempre. —Ele deu de ombros. —Não ligo. A escolha continua sendo sua e não dela. —Pietro olhou pra mim e depois para o imenso campo depois das cercas pintadas de branco. —Já andou a cavalo, Hermione? —Quando neguei com a cabeça, ele sorriu e apontou em direção ao celeiro. —Quer tentar?

Olhei naquela direção, vendo alguns cavalos perto do lago. Fiz uma careta, tentando ter certeza se aquilo era ou não uma boa ideia.

—Por que não? —Dei de ombros, ficando de pé, fazendo tanto ele como Alfredo sorrirem.


Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora